Aula inaugural da primeira graduação pelo Pronera em Alagoas será realizada na próxima segunda (10)

Do Incra/AL

A aula inaugural do primeiro bacharelado em Agroecologia pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) no Brasil  será realizada no Centro de Ciências Agrárias (Ceca), às 10h, no dia 10 de dezembro, em Rio Largo (AL), com os alunos, professores e representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas, de movimentos sociais e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O curso também é o primeiro da Ufal pelo programa e a primeira graduação direcionada à população do campo em Alagoas.

São 50 aprovados no processo seletivo para o curso de bacharelado em Agroecologia por meio do Pronera, que iniciaram as atividades da primeira etapa no dia 19 de novembro deste ano. Resultado de convênio entre o Incra e a Ufal, as aulas acontecem no Centro de Formação Zumbi dos Palmares, no assentamento Ouricuri, no município alagoano de Atalaia.

O agroecólogo – profissional a ser graduado pelo curso – terá formação interdisciplinar, pautada no conhecimento técnico sobre práticas produtivas sustentáveis e sobre os processos ecológicos que são operados nos agroecossistemas. Além disso, terá uma formação que possibilite interpretar o perfil socioeconômico das populações onde o profissional atuará para selecionar as técnicas de manejo agroecológico mais adequadas ao contexto local.

As atividades do curso serão baseadas na pedagogia da alternância, divididas entre Tempo-Escola e Tempo-Comunidade. Durante a realização das aulas, serão disponibilizados para os alunos alojamento, alimentação e material didático. Após esse período, os estudantes desenvolverão, em suas comunidades, projetos que envolverão atividades de pesquisa e extensão.

Segundo o assegurador do Pronera pelo Incra em Alagoas, Ubiratan Santana, ao final do curso os alunos deverão sair aptos para o mercado de trabalho, mas a ideia é também formar profissionais para atuar nos assentamentos da reforma agrária, nos territórios quilombolas e nas demais comunidades rurais. “Agroecologia não é só mexer com a planta, não é só mexer com a terra, é mexer com gente. O profissional terá que saber dialogar com o agricultor, com o assentado e com suas dificuldades para implementar o manejo e conhecimento dos recursos naturais estudados”, completa. Para o assegurador, o curso representa um espaço para os alunos estudarem e proporem ações de desenvolvimento para a produção e comercialização agroecológica e orgânica, identificando as fragilidades e o potencial dos assentamentos no estado.

Pioneirismo histórico

A proposta inicial do curso era para 25 vagas e restrito à Alagoas, mas a coordenação nacional do Pronera dobrou esse número e abriu as inscrições para outros estados. Do total de vagas, 11 foram preenchidas por alunos de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.

Para o professor da Ufal e coordenador geral do curso, Rafael Navas, a realização pelo Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da universidade representa uma mudança no centro, tendo em vista que o Ceca/Ufal é o antigo Instituto de Açúcar e Álcool (IAA), que tinha os objetivos de orientar, fomentar e realizar o controle da produção de açúcar e álcool em todo o território brasileiro. “Hoje, ter alunos entrando no centro, com agroecologia e pelo Pronera, é uma conquista. Estamos rompendo cercas e derrubando muros que antes existiam, abrindo para receber um público historicamente excluído”, avalia, acrescentando que “hoje há uma demanda da sociedade pela produção de alimentos sem contaminantes, com equilíbrio ambiental e que também discuta questões sociais como o direito à terra e acesso a políticas públicas”.

Segundo a integrante da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Franqueline Terta, a realização do curso simboliza para os movimentos sociais a materialização de uma grande conquista, pois considera que a luta pela reforma agrária não é só a luta pela terra, mas também pela saúde e pela educação pública e de qualidade. “A universidade indo ao campo proporciona o compartilhamento do conhecimento sobre a produção de uma forma sustentável, que respeita a cultura e concilia a convivência com o meio ambiente e os saberes tradicionais. É a chance de uma produção com qualidade e com uma função social imprescindível para o campo e para a cidade”, afirmou.

A agricultora Margarida Silva, do assentamento Ouricuri, disse que fazer o curso é uma oportunidade para desenvolver e ampliar os conhecimentos e as técnicas que possui em seu lote e também nos assentamentos e comunidades da região. Ela já passou pela transição do cultivo convencional para o agroecológico e fornece produtos de horticultura e fruticultura para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do governo federal. “Para os camponeses, muitas vezes, foi negado o direito de acesso ao ensino superior e hoje há a possibilidades de formar filhos de assentados e assentadas da reforma agrária”, considera a assentada.

Foto: Luís Gustavo / Incra Alagoas

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