Brasil: ‘nova ética’ de Bolsonaro não sobrevive uma semana

Motorista de Flávio Bolsonaro continua a fugir ao Ministério Público, filho do vice-presidente tem o salário triplicado, e ministro da Casa Civil usou faturas de empresa de amigo para receber verbas da Câmara dos Deputados.

Por Luis Leiria, no Esquerda.net

O governo Jair Bolsonaro assumiu com a promessa de conduzir o Brasil para uma nova ética em que a corrupção não tivesse mais lugar. Passada apenas uma semana da tomada de posse, a par das situações caricatas protagonizadas por alguns ministros, das trapalhadas do próprio presidente e das malfeitorias reais contra direitos laborais e sociais, contra os povos indígenas e a população LGBT, vão se avolumando as denúncias de ligações pouco claras de figuras importantes do governo com o dinheiro público.

Esta terça-feira, houve nada menos que três notícias que mancham a alegada ética e que falam muito sobre o “núcleo duro” do novo governo.

Cadê o Queiroz?

Fabrício Queiroz, ex-motorista do senador eleito Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, foi internado no hospital Albert Einstein para extrair um tumor no cólon. Queiroz faltou a duas convocatórias do Ministério Público para explicar como conseguiu manter uma conta bancária que num ano movimentou 1,2 milhão de reais, sem ter património nem rendimentos que possam explicar essa dinheirama toda. 

O motorista, que está oficialmente desempregado, mora numa casa muito modesta, no Rio de Janeiro, mas internou-se num hospital de outro estado, São Paulo, para onde foi acompanhado da mulher e de uma filha. Uma semana de internamento no Einstein, um dos mais caros do país, não sai por menos de cem mil reais.

Antes, Queiroz dera uma entrevista à TV justificando a sua conta milionária pela alegada capacidade de fazer bons negócios com carros usados. Ninguém acreditou na patranha, e aguarda-se com curiosidade pelos recibos de compra e venda, as placas dos carros transacionados, quem os comprou, os depósitos feitos nessas transações, os impostos pagos nelas, etc. 

Pela movimentação da conta, que tinha depósitos regulares de outros funcionários da assessoria de Flávio Bolsonaro, suspeita-se que a conta era usada para que o então deputado estadual do Rio ficasse com parte dos salários dos assessores, incluindo do próprio Queiroz, duas filhas e mulher, todas supostamente funcionárias do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa. Recorde-se que foi dessa conta que saiu um cheque de 24 mil reais para atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro, justificado pelo marido como sendo o pagamento de uma dívida que Queiroz contraíra ele.

Segundo O Globo, a defesa de Queiroz alega que as familiares do motorista também não poderão comparecer ao Ministério Público para prestar esclarecimentos, prometendo fazê-lo quando o seu quadro de saúde melhorar. 

Filho de Mourão tem salário triplicado

Antonio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente Hamilton Mourão, teve o seu salário no Banco do Brasil triplicado ao ser nomeado assessor especial do novo presidente do banco, Rubem Novaes. Nomeado para o cargo pelo novo governo, Novaes garantiu ao tomar posse que os brasileiros se sentiriam “honrados com uma gestão eficiente, transparente e honrada”.

O filho do general Mourão ganhava cerca de 3 mil euros e passa a receber cerca de 9 mil. Ele vinha atuando há 11 anos como assessor na área de agronegócio do banco. Agora, continuará a exercer a mesma função só que aconselhando diretamente o presidente da instituição.

Ministro da Casa Civil cada vez mais enrolado

Segundo o jornal Zero Hora, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, usou 80 faturas de uma empresa de consultoria pertencente a um amigo para receber 317 mil reais em verbas de gabinete da Câmara dos Deputados entre 2009 e 2018. Entre as 80 notas, 29 foram emitidas em sequência, o que sinaliza que Onyx teria sido o único cliente da firma.

A empresa do amigo de Lorenzoni está inapta nas Finanças por omissão de valores ao fisco e tem dívidas tributárias no valor de 117 mil. Entre janeiro de 2013 e agosto de 2018 não pagou impostos, apesar de ter emitido 41 faturas ao atual ministro.

Recorde-se que o mesmo Onyx Lorenzoni admitiu ter recebido em 2014 doações de campanha não declaradas (saco azul) da Associação Brasileira de Exportadores de Carne Bovina. 

Carlos Bolsonaro vai aonde lhe apetece

Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, não teve o salário triplicado, é certo, mas resolveu comparecer à primeira reunião do governo, algo surpreendente porque não é ministro nem tem qualquer cargo oficial. Não contente com isso, ainda levou para a reunião um primo e um amigo recém-nomeado assessor do presidente. Mais: todos os ministros foram obrigados a deixar os seus telemóveis na porta da sala de reuniões. Mas Carlos levou o telemóvel para a reunião, e ainda se entreteve a postar fotos e posts nas redes sociais. 

O mesmo Carlos Bolsonaro, durante a posse do pai, foi sentado no Rolls Royce presidencial, no banco de trás, como se fosse guarda-costas, e soube-se depois que estava armado.

Destaque: Hieronymus Bosch – A Violent Forcing Of The Frog (detalhe).

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