Uniforme e restrições a corte de cabelo serão implementadas aos poucos. Haverá aulas de civismo, ética e ordem unida
Por Victor Gomes*, G1 DF
No primeiro dia de gestão compartilhada com a Polícia Militar (PM), os alunos do Centro Educacional (CED) 7, de Ceilândia, hastearam a bandeira e cantaram o hino sob orientação do militar responsável pelo “comando disciplinar da escola”.
O colégio decidiu aderir à militarização na última quinta-feira (7), após eleição com 58% dos votos favoráveis à mudança. Outros três colégios, em Sobradinho, na Estrutural e no Recanto das Emas, também começaram o ano letivo nesta segunda-feira (11) com o novo modelo.
A novidade faz parte de programa piloto anunciado pelo governo Ibaneis (MDB) em janeiro. Caso o projeto apresente bons resultados nas quatro escolas, a ideia pode ser incorporada em outras 36 unidades do DF.
Para a expansão do modelo, o Executivo precisa primeiro aprovar o projeto de lei que deve ser enviado para a Câmara Legislativa do DF até sexta-feira (15).
Mas a aprovação não deve ser fácil. Desde a semana passada, distritais se articulam para colocar em pauta, na sessão desta terça-feira (12), um projeto de decreto legislativo para suspender o modelo de educação militar nas escolas que fazem parte do projeto piloto.
Sem farda
Neste primeiro dia, os estudantes ainda não vestiam uniformes nem tinham restrições em relação ao corte de cabelo. Mas já foram informados que deverão usar camisa branca e calça jeans. Depois, o uniforme militar será obrigatório, assim como o cabelo curto para os meninos e o coque para as meninas.
Os três alunos escolhidos para hastear as bandeiras do Brasil, do Distrito Federal e do colégio já estavam alinhados de acordo com o novo padrão.
“As mudanças serão aos poucos”, explica o major Edney Freire. Até semana passada, ele comandava o 3º Batalhão Escolar da PM. Agora, será o responsável pela administração e disciplina do colégio. Mais de 20 policiais militares e bombeiros farão parte da nova gestão nas escolas. A maioria, militares com restrição para trabalhar na rua.
A direção pedagógica do CED 7 de Ceilândia segue com Adriana Rabelo, que já ocupava a função no ano passado. A diretora disse que, no começo, só haverá aulas de civismo, ética e ordem unida (treinamento de marchas militares e desfiles cívicos) quando um professor faltar às aulas regulares.
Segundo a gestora, só depois as disciplinas poderão ser incorporadas ao currículo obrigatório dos alunos.
‘Doutrina militar’
A hora cívica começou às 8h em ponto. E a nova rotina dos alunos inclui cantar o hino dispostos em fila indiana e o hasteamento da bandeira – com ajuda dos militares. Mas essa não será a principal mudança no colégio, pois o hasteamento da bandeira já ocorria às sextas-feiras.
“Vocês vão aprender alguns aspectos da doutrina militar, a prestar continência, a marchar”, adiantou o major, ao se apresentar aos alunos.
Opiniões divididas
Pela manhã, frequentam a escola 1200 alunos do ensino médio. A maior parte deles é menor de 18 anos e não participou da eleição de quinta-feira.
“É uma coisa que eu acho que não deveria acontecer assim de repente. Não tem violência aqui, sempre foi muito tranquilo”, reclamou Ana Luísa, de 17 anos. Ela fazia parte da turma da “retaguarda”, que não aprovou as mudanças.
Já Ismael, de 15 anos, estava satisfeito com a chegada da PM na escola. Ele acredita que a segurança do colégio e o ensino vão melhorar. Um pai de aluno disse ao G1 que um amigo do seu filho foi morto na porta de uma escola próxima àquela e que agora ele sentia que o filho estava “muito mais seguro”.
Apesar de aprovada por 60% dos professores, a gestão compartilhada com a PM também é alvo de críticas da categoria. Cinco professores conseguiram remoção para outra escola. Outros se dividem sobre continuar ou pedir para sair.
“A questão não é ser contra e sair da escola. Eu acho que o bom combatente é aquele que propõe o debate (…), com respeito”, justificou o professor de História, Irismar Santos.
Ele conta que os professores que pediram para sair acabaram mandados para outra regional, longe da região próxima às suas casas. “Isso caracteriza um processo de perseguição”, disse.
Na fala aos alunos, o major Edney rebateu as críticas. “Antes de qualquer coisa, a gente gostaria de deixar claro que nós só estamos aqui porque houve uma eleição legítima e nós fomos solicitados. Foi democrático”. Mas o tom ameno tomou outra forma ao longo do discurso.
“É necessário primeiro que vocês coloquem na mente que aqui não é mais o CED 7, aqui é o colégio da PM CED 7. Ninguém é obrigado a permanecer na escola. Aqui não há ditador, não há fascismo, nada disso.”
No colégio, a promessa é de que as mudanças venham como na fala do militar: lentas, graduais, mas seguras.
Estrutural
No Centro Educacional 1 (CED 1) da Estrutural, a gestão compartilhada também começou nesta segunda-feira e os policiais explicaram as novas regras para os alunos. Todos os professores e militares devem ser chamados de senhor e senhora.
Os estudantes não poderão usar brincos, pulseiras ou outros adereços grandes. Só as meninas podem usar brincos e colares – se forem pequenos e discretos. Parte dos alunos já recebeu uma camisa branca. O uniforme militar deve ficar pronto em dois meses.
Projeto piloto
O governo do Distrito Federal anunciou, em janeiro, que estudava lançar convênio com a Polícia Militar para participar da gestão em quatro escolas públicas do DF – localizadas na Estrutural, Ceilândia, Recanto das Emas e Sobradinho.
Segundo o GDF, essas regiões foram escolhidas para abrigar a iniciativa porque apresentam “alto índice de criminalidade” e têm estudantes com “baixo desempenho” escolar.
Caso o projeto piloto apresente bons resultados, a ideia deve ser incorporada em outras 36 escolas do DF. O custo para aplicação da proposta em cada escola é orçado em R$ 200 mil por ano. Essa despesa deverá ser custeada pela Secretaria de Segurança Pública.
*Sob supervisão de Maria Helena Martinho.
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Imagem: Alunos do CED 7 de Ceilândia hastearam a bandeira no primeiro dia de gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Zelik Trajbe.