O batalhão de generais no governo cresceu, mas seu poder enfraqueceu
Na Folha
Assim como a tragédia em Brumadinho favoreceu o esquecimento da conexão Fabrício Queiroz, Flávio e Jair Bolsonaro, a chegada ao Congresso de alterações na Previdência intercede nos desdobramentos públicos do choque Bolsonaro/Bebianno. E, não menos, do impasse em que os militares se veem.
O batalhão de generais na cúpula do governo cresceu, com a substituição de Gustavo Bebianno, mas seu poder político enfraqueceu e a dubiedade do seu papel aumentou. A maneira como Bolsonaro procedeu nas relações finais e na demissão do (ex)ministro, primárias demais, o sujeitaram a muitas críticas. Apesar disso, não é o caso de concordar com a generalidade dos comentários políticos, que o veem politicamente desgastado pelo episódio. Deu-se o contrário. Bolsonaro pôs-se acima da tutela dos generais, o que era imprevisto e significa a diminuição deles.
Já nos primeiros sinais contra a permanência de Bebianno, o batalhão empenhou-se em defendê-lo. Indagado sobre o problema, o vice e general Mourão mostrou-se confiante na potência do grupo: “Vamos pacificar isso”. Para Bolsonaro, tratava-se de desconsiderar a firme opinião do filho Carlos, o pitbull, ou seguir o batalhão tutelar. Bolsonaro impôs aos generais uma vitória para o filho. Negou-os como força que compartilhe o poder. Bebianno foi demitido.
Não há dúvida sobre quem se fortaleceu para a ação política. O que Bolsonaro fará com a cota de libertação e poder conquistados no seu caso é questão para consultórios. O que os militares farão, sem o exercício pleno da tutela, tanto pode ser buscá-la no muque, como, bem à brasileira, seguir “o capitão” nos desatinos —afinal, comprometido na criação e no antigoverno de Bolsonaro o Exército já está.
O general Mourão, por sinal, já acusou Bebianno de deslealdade com Bolsonaro. Diminuiu uns pontinhos no desprestígio, conseguindo achar que há um mais desleal que o outro —o ministro que grava na moita “o capitão” ou o pai que mente com o filho, diante do país, para efetivar uma demissão de causa duvidosa. Fosse em razão das verbas públicas manobradas pelo PSL, quando presidido por Bebianno, Marcelo Álvaro Antônio, ministro 3 em 1 do Turismo, seria exonerado até antes, como apontado coautor e beneficiário da trama. Há sugestões de que a demissão é uma represália favorecedora de Flávio Bolsonaro & cia.
Um segundo episódio, também generalizado como “primeira derrota de Bolsonaro na Câmara“, não deixa de sê-lo, mas sobretudo é derrota da linha militar. A Câmara derrubou o decreto que autorizou até simples detentores de cargo em comissão a decretar o segredo de documentos oficiais por dezenas de anos. O começo disso foi de Fernando Henrique, por certo ciente do que fizera e convinha esconder. O decreto agora derrubado saiu às pressas, sem ao menos cumprir os trâmites regulares, com assinatura do vice Mourão em interinidade na Presidência. O general Augusto Heleno é dado como o articulador do decreto.
A Câmara, que bom dizer isto, está de parabéns pela defesa da cultura, do direito de informação e de menos transações sigilosas com os interesses da sociedade e do país. Outra derrota do batalhão de generais, cuja adesão aos sigilos começou por não informar sobre tanta pressa para a emissão do decreto. Boa razão não precisaria desse sigilo.
Ah, sim, sobrou um paisano na cúpula do governo. Não por acaso, o veterinário Onyx Lorenzoni.
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Destaque: Hieronymus Bosch – A Violent Forcing Of The Frog (detalhe).