Pesquisa na bacia do Rio Doce retrata situação das mulheres atingidas

Resultados dos estudos serão apresentados em Minas Gerais e no Espírito Santo

Ministério Público Federal em Minas Gerais

Quarenta e nove por cento das pessoas atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão, ocorrido em novembro de 2015, são mulheres. Apesar de constituírem praticamente metade do contingente afetado pelo desastre, elas já manifestaram, em diversas ocasiões, o tratamento diferenciado que recebem das causadoras do desastre – Samarco, Vale e BHP Billiton -, representadas pela Fundação Renova, nos processos de reparação e compensação dos danos.

Essa queixa, recorrente, levou o Grupo Interinstitucional que atua no caso a expedir recomendações e solicitar ampla pesquisa para a coleta de dados objetivos sobre a situação das mulheres na Bacia do Rio Doce. Foram avaliadas questões relacionadas à renda, saúde, (perda) de emprego, entre outras.

Um dos pontos constatados pela equipe de pesquisadores foi o de que a percepção sobre a perda de renda entre os gêneros foi maior entre as mulheres. “Ou seja, elas percebem maior sofrimento em relação ao impacto sobre a ocupação que tinham antes do desastre. (…) Estes dados são significativos para demonstrar que as mulheres obtinham mais renda de maneira informal antes do desastre e, com o mesmo, elas perceberam proporcionalmente mais perdas do que os homens. Essa informação faz levantar a hipótese de que, para as mulheres, fica mais difícil comprovar a renda perdida após o desastre e, portanto, agora elas devem perceber mais injustiça quanto ao reconhecimento e ressarcimento do lucro cessante”, registra o relatório.

Para ouvir, compreender e dar visibilidade a essas mulheres, que tiveram suas vidas mudadas para sempre pela lama da mineração, o Grupo Interinstitucional está organizando dois eventos por ocasião da celebração do Dia Internacional da Mulher. Nessa oportunidade, em que estarão presentes mulheres atingidas de Minas Gerais e do Espírito Santo, serão apresentados os resultados de pesquisa realizada pela Ramboll, empresa que desenvolve estudos na Bacia do Rio Doce auxiliando os Ministérios Públicos. O Grupo Interinstitucional em Defesa do Rio Doce é composto pela Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo, Ministério Público do Espírito Santo, Defensoria Pública da União, Ministério Público Federal, Ministério Público de Minas Gerais e Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais.

A coordenadora do evento, Mariana Sobral, defensora pública do estado do Espírito Santo, explica “que, além da informação à sociedade em geral, temos o dever de também fornecer às atingidas informações técnicas, claras e acessíveis. Por isso é que vamos dar a elas espaço para que tirem dúvidas, para falar e dar testemunhos de sua realidade”. O Grupo Interinstitucional em Defesa do Rio Doce organizará dois eventos, com a presença de mulheres atingidas, e franqueados a todas as pessoas interessadas, em Minas Gerais e no Espírito Santo. O primeiro evento será em 12 de março, a partir das 13h, na Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, em Vitória (ES). O segundo está previsto para para abril, em Minas Gerais, em local e data a serem confirmados.

Programação do evento em Vitória

13 horas – Lançamento da exposição de fotos “Mulheres Atingidas: da Lama à Luta”, com participação da fotógrafa mineira Isis Medeiros e do fotógrafo capixaba Gabriel Lordêllo

14 horas – Apresentação, debate e análise coletiva do Estudo de Gênero, da Ramboll, sobre a situação da mulher atingida no processo de reparação e compensação, realizado pela Fundação Renova

16h30min – Construção coletiva das pautas das mulheres atingidas no Espírito Santo

Foto: Isis Medeiros

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