CDHM leva para o Ministério Público caso do jovem baleado por policial federal rodoviário no DF

Maykon Douglas Ribeiro comemorava o aniversário de 18 anos em um posto de gasolina em Planaltina (DF), no dia 20 de fevereiro, quando foi baleado com dois tiros por um policial rodoviário federal. A PRF afirma que o jovem estava em um veículo e que, durante a abordagem, portava uma arma falsa imitando uma pistola PT840. O policial reagiu e fez os disparos. A mãe do rapaz, Aurineide Lopes, afirma que o filho nunca teve nenhum tipo de arma. Ela diz, também, que o jovem pode não ter concordado com a ação policial e correu, e teria sido morto por esse motivo. Agora, a família de Maycon quer a correta apuração dos fatos e a punição dos responsáveis.

Pedro Calvi, CDHM

Nesta terça-feira (12), a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) promoveu, na Procuradoria-Geral da República o encontro da família de Maycon e deputados, com o procurador regional da República, Domingos Sávio Dresch da Silveira.

“O  Ministério Público Federal vai agir na apuração dos fatos e, se for o caso, pedir a punição dos responsáveis. Atuamos no controle externo das policias e vamos encaminhar a denúncia ao MP do Distrito Federal, que vai acompanhar de perto a apuração desse caso e depois entrar com as devidas ações, inclusive junto à Corregedoria da Polícia Rodoviária Federal” explicou Domingos.

“Nada justifica o que aconteceu. Mesmo se o rapaz estivesse armado, o procedimento correto é outro e não atirar à queima-roupa e, na minha opinião, a arma falsa que a polícia fala, foi ‘plantada’. Hoje a CDHM entregou ao MPF todos os subsídios para que seja encaminhada a denúncia às instituições competentes”, afirma o deputado Marcon (PT/RS), presidente interino da CDHM.

“Esse daí já foi pro saco”

O amigo de Maycon, Denilson da Conceição Silva, estava na comemoração e viu o que aconteceu.

“Ele caiu no chão já morto e os policiais não me deixaram ajudar. Um deles disse ‘esse daí já foi pro saco’ e me mandaram calar a boca. Quando a mãe dele chegou, chorando, não deixaram ela encostar no filho”, relata Denilson.

“Era um menino que estudava e trabalhava cuidando de uma chácara, nunca teve passagem pela polícia, tinha muitos amigos e era muito querido pela comunidade. Estou assustada”, diz Aurineide.

Cultura do ódio

“Maycon foi morto porque é negro e pobre. Existe um protocolo internacional que estabelece o chamado uso progressivo da força, pelo qual atirar com arma de fogo é a última hipótese. E isso não foi respeitado pela polícia. E todo esse descaso, essa cultura do ódio, estão sendo incentivados por quem deveria coibir”, ressalta a deputada Érika Kokay (PT/DF), integrante de CDHM e que também esteve no encontro.

O outro lado

Primeiro, a ocorrência foi feita na 16ª Delegacia da Polícia Civil, em Planaltina. Depois foi encaminhada para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, porque envolve um servidor da PRF em serviço.

Através de nota, a Polícia Rodoviária Federal confirmou o que aconteceu e informou que um dos ocupantes do veículo abordado, Maycon, saiu com uma arma em punho e, diante disso, os policiais atiraram contra ele. A PRF disse, ainda, que chamou o Corpo de Bombeiros, mas o óbito foi constatado no local. Outros dois homens que estavam no carro foram algemados e presos. O tio e o amigo de Maycon, Denilson.

Os números da violência

De acordo com o Atlas da Violência, 33.590 jovens foram assassinados em 2016, sendo 94,6% do gênero masculino, número que representa aumento de 7,4% em relação ao ano anterior. Também em 2016, a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros (16,0% contra 40,2%). Consoante o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, naquele ano foram 4222 mortes decorrentes de intervenções policiais.

Imagem: Reunião na PGR e CDHM com familiares de Maykon Ribeiro – Foto: Pedro Calvi/CDHM

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