A esperança tem nome de Marielle Franco

No Maranhão, Sem Terra produzem alimentos em vez de eucalipto e soja em acampamento

Por Reynaldo Costa, na Página do MST

O acampamento de Sem Terra que leva o nome de Marielle Franco possui hoje cerca de 150 famílias, presentes desde junho de 2018 uma área do município de Itinga do Maranhão (MA). Com muita resistência, trabalho e organização, as famílias já colhem os alimentos da terra fértil que estava grilada por uma empresa siderurgias. Ainda assim, as famílias hoje estão ameaçadas de despejos.

“Estou completamente surpreso, nunca vi uma comunidade rural produzir tanto alimento em nosso município como acontece em Marielle”, respondeu o professor Marcos Sousa ao visitar o acampamento pela primeira vez. “É muita produção em tão pouco pedaço de terra”, afirmou na ocasião.

A ocupação daquelas terras aconteceu em 9 de junho de 2018, mas devido ao período de seca, somente em novembro as famílias puderam começar a preparação da terra e o plantio. Nas primeiras semanas, os trabalhadores começaram a colher alimentos como verduras e feijão; mais algumas semanas a produção deslanchou e, quatro meses depois do início das atividades, os camponeses já levam para a cidade, para parentes e amigos e até para comercialização o resultado do trabalho com a terra.


Produção diversificada e sem veneno

“Não há um único pedaço de roça que podemos dizer ‘aqui o plantio não prestou’. Essa é uma terra toda fértil”, afirma Raimundo Nonato, acampado desde o início da ocupação. Dona Luiza Ferreira trabalha a mais de 30 anos no plantio, esteve em vária regiões do Maranhão e confirma as palavras de Nonato “Essa é a terra mais fértil que já vi. O MST nos presenteou bem com esta terra”.

A principal produção do acampamento Marielle Franco é o arroz, com cerca de 66 hectares de área plantadas e a expectativa é de até 6 toneladas do alimento. Como as lavouras de arroz já estão em fase de amadurecimento dos cachos, nas próximas semanas logo o acampamento deve gerar muitos trabalhos para a colheita.

Além do arroz, destaca-se a produção de verduras e legumes variados, como maxixe, quiabo e pepinos. Também é muito grande o cultivo de milho, abóbora, melancia e pimentas, além das 11 espécies cultivadas de feijão, identificados pelos trabalhadores. Todos estes produzidos sem uso de veneno, ou seja, apenas alimentos saudáveis nas lavouras do acampamento Marielle Franco.

Solidariedade e alimentos saudáveis

Atualmente, um dos acesso ao acampamento está bloqueado pela empresa grileira, alterando em 25 quilômetros a distância da cidade para o acampamento. Mesmo com as constantes ameças, os trabalhadores Sem Terras têm acolhido e doado alimentos aos vigilantes de uma empresa privada responsável pela segurança da área.

Segundo a coordenação do MST na região, esta relação de comunidades como o Marielle Franco vai ao encontro do objetivo do acampamento, que é de produzir vida e alimentos ao invés de ódio.

Desde o começo do acampamento realiza-se um grande esforço entre o MST e a prefeitura do município para a promover as condições de ensinos na comunidade, uma vez que a educação para todos é uma das maiores bandeiras de luta do Movimento Sem Terra.

Inicialmente os acampados construíram a escola com pedaços de madeiras, palha e sacos. Hoje, cerca de 80 alunos já estão sendo atendidos pela Escola Paulo Freire, que funciona em todos os períodos e atende também a jovens e adultos. Nesta segunda, (18), foi a vez do estabelecimento receber merenda escolar.

Ameaça de despejo

Mesmo diante de todo o sucesso no plantio e acolhida da comunidade ao redor, uma ameaça têm deixado os acampados apreensivos. Na ultima semana, a juíza Alessandra Silva Lima, da comarca de Itinga, concedeu um novo despacho pelo despejo dos acampados.

A Juíza alega que o Instituto de Terra do Maranhão (Iterma) e o Incra afirmaram não haver assentamentos de reforma agrária na área. De acordo com Antônio Filho, um dos advogados dos trabalhadores, destinar aquelas terras à reforma sempre foi o objetivo. “É uma decisão equivocada, já que esse é o motivo pelo qual o acampamento Marielle Franco reivindica a criação de um assentamento.” explicou.

Outra informação apresentada pelo o Incra à  Alessandra Lima – e desconsiderada pela mesma juíza – é que a área ocupada faz parte da Gleba Gurupi, conhecida no Maranhão por ser um complexo de terras públicas que fazem parte de áreas da União Federal.

A liminar de despejo estava suspensa a pedido da Promotoria de Justiça de Itinga do Maranhão que, observando a existência de uma comunidade com número grande de trabalhadores, solicitou uma vistoria afim de verificar a disponibilidade de áreas para criação de assentamentos.

Em novembro passado, após concluir a vistoria, representantes dos órgãos agrários estiveram presentes no acampamento. Eles informaram que ao menos 5 mil hectares da área ocupada não tem documento, o que possibilitaria a reapropriação por parte da União para destiná-la ao Incra, com finalidade de criar de assentamentos.

A empresa que grilou a área é uma das maiores siderúrgicas do Maranhão. Viena Siderúrgica S/A é conhecida pelo uso de terras publicas, poluição, crimes ambientais e até trabalho escravo. No Pará, a empresa também já sofreu denúncias de beneficiar o minério de ferro extraído da Serra dos Carajás em Parauapebas (PA).

A partir da ocupação Marielle Franco, os Sem Terra chamam a atenção da sociedade e das autoridades para um possível uso irregular desta área pública pela empresa Viena Siderúrgica. A Empresa também em várias propriedades na região com produção de eucaliptos para produção de carvão usados nos fornos das empresas de siderurgias em Açailândia.

Unidas e firmes na luta, as famílias do acampamento Marielle Franco prometem resistir e preparam para sábado, dia 23, uma feira popular com alimentos saudáveis e baratos produzidos. O evento deve ser realizado na sede do município de Itinga do Maranhão.

Imagens do acampamento Marielle, no Maranhão

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