‘O Conama foi ferido na alma’: Conselheiro capixaba foi agredido em reunião após segregação inédita do ministro Ricardo Salle

Por Fernanda Couzemenco, no Século Diário

Na primeira reunião ordinária do ano do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), realizada nessa quarta-feira (20), o regimento interno foi atropelado e uma série de constrangimentos e até agressões físicas aconteceram.

Uma das vítimas foi o representante do Governo do Espírito Santo, Mário Stella Cassa Louzada, atual diretor-presidente do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf). Conselheiro há 14 anos no Conama, entre titularidades e suplências, Mário Louzada atualmente é suplente e foi impedido, por guardas armados, de entrar na sala principal da reunião.

O conselheiro foi imobilizado pelo braço e as pernas, levou socos, teve seu crachá rasgado, óculos quebrados e celular tomado. “Foi extremamente constrangedor, nunca pensei ver isso acontecer”, declarou.

Nesta sexta-feira (22), em Vitória, Mário diz ainda sentir o braço esquerdo dolorido, mas afirma que o maior agredido no triste episódio foi o próprio colegiado. “O que mais me dói foi perceber que o Conama foi ferido na alma. Foi ferido no seu espírito democrático e de respeito à diversidade de ideias”, lamenta.

O Conama, conta, sempre foi “um lugar extremamente harmônico e pacifico, onde as únicas divergências são de ideias”. “É um lugar público onde as pessoas comuns podem entrar, está previsto no regimento”, afirma.

O regimento também dá direito à voz a titulares e suplentes e somente o voto é reservado exclusivamente aos titulares. “Todos participam com suas ideias”, reforça, referindo-se à inédita segregação feita pelo ministro Ricardo Salles, separando os presentes em três salas: uma para os titulares, outra para os suplentes e outra para os convidados – assessores e outros apoiadores. Sendo que na sala dos titulares, as cadeiras estavam com nomes marcados, pré-definindo os lugares onde cada um deveria se sentar (foto acima, da ONG Mira Serra).

O Conama foi criado em 1981, em plena Ditadura Militar, e nunca registrou qualquer episódio semelhante. “No campo das ideias, sempre houve disputa, mas nunca houve agressão”, assegura.

O fato está sendo amplamente noticiado na imprensa e redes sociais, com protesto de várias entidades ambientalistas, que enfatizam o imenso retrocesso que Ricardo Sales está querendo protagonizar. “A própria secretaria-executiva do Ministério do Meio Ambiente reconhece que houve irregularidade”, conta Mário Louzada.

Há ainda, prossegue o conselheiro, um conjunto de entidades da sociedade civil organizada e também de órgãos públicos estaduais que estão questionando essa postura do MMA no Ministério Público Federal (MPF).

Semanas antes da reunião, um conjunto de 170 entidades ambientalistas assinaram uma manifestação pela integridade do Conama, diante do chamamento feito por Ricardo Salles para reestruturar o colegiado, sem, no entanto, apresentar objetivo ou dar tempo hábil e subsídios para avaliação das entidades sobre uma proposta definida.

Em suas redes sociais, a ONG Mira-Serra, do Rio Grande do Sul,  publicou seu repúdio. E o site Direto da Ciência, editado por Maurício Tuffani, mostra fotos da agressão feitas por Mauro Wilken. O jornal Folha de S.Paulo fez ainda um histórico das últimas mudanças promovidas por Jair Bolsonaro na área ambiental.

Reunião Conama: separação de salas por cor de cartão. Foto: ONG Mira-Serra

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