Jornalistas da EBC acusam censura em cobertura sobre o golpe de 1964

Prática utilizada durante a ditadura volta a assombrar a redação da estatal, com vetos a termos e matérias sobre o golpe ocorrido há 55 anos

Por Redação RBA

Às vésperas do 1º de abril, quando o golpe de 1964, que instalou por mais de duas décadas uma ditadura civil-militar no Brasil, completa 55 anos, jornalistas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) denunciam que vêm sofrendo censura na cobertura do episódio. Termos como “golpe” e “ditadura” foram barrados nos veículos de imprensa da estatal –  TV Brasil, TV Brasil Internacional, Agência Brasil, portal EBC e radioagência Nacional.

Segundo os trabalhadores da EBC, a proibição começou já no início da semana, quando o presidente Jair Bolsonaro, sugeriu que os quarteis comemorassem a data. Os jornalistas dizem não saber se a censura partiu do governo ou dos gestores da EBC, para agradar ou evitar desconfortos com os primeiros. Para protestar contra o ocorrido, jornalistas e demais funcionários planejam vestir preto na próxima segunda-feira (1º).

Nas manchetes e reportagens, o termo “ditadura” está sendo sistematicamente substituído por “regime militar”, a não ser quando as matérias trazem declarações do presidente para negar o fato – “para Bolsonaro, não houve ditadura no Brasil”. A palavra “golpe” é ainda mais escondida. No lugar de “aniversário do golpe”, se usa “comemoração de 31 de março de 1964”.

“Como trabalhadores da comunicação, temos compromisso com o Estado democrático de direito, com a narrativa honesta dos fatos e com a pluralidade de vozes da sociedade. É danoso ao Brasil que as reportagens da EBC, distribuídas gratuitamente para o país e o mundo, tentem esconder ou minimizar os crimes contra a humanidade praticados no período da ditadura militar”, dizem os trabalhadores da EBC, em nota assinada também pelos sindicatos dos Jornalistas e Radialistas do Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. 

Matérias como as recomendações do Ministério Público Federal (MPF) para que os comandantes militares desistam de celebrações, e sobre a ação da Defensoria Pública da União (DPU), que pretende impedir judicialmente as comemorações, também estão sendo vetadas nos veículos da EBC. 

“Nos 21 anos que se seguiram ao golpe de 1964, milhares de pessoas foram exiladas, torturadas, estupradas, demitidas, perseguidas, presas e censuradas pelo Estado, entre outros prejuízos à dignidade humana e coletiva. Jornalistas, artistas, professores, advogados, políticos, operários, líderes populares, indígenas, crianças e até mesmo militares das Forças Armadas estão entre as vítimas, que sofreram por não concordarem com a ditadura. É nosso dever lembrar e contar o que aconteceu neste país. Para que nunca mais se repita. Inclusive a censura”, completa a nota. 

Foto: Protesto contra censura, em 1968. Na foto, Tônia Carreiro, Eva Vilma, Odete Lara, Norma Bengell e Ruth Escobar

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