Semana dos Povos Indígenas: Alto lá, essa terra é nossa!!

Por Lígia Apel, Cimi-Tefé

Teve início nesta segunda feira, 15, as comemorações da Semana dos Povos Indígenas em Tefé, que este ano está sendo realizada e organizada pelas instituições parceiras: Centro de Estudos Superiores de Tefé da Universidade do Estado do Amazonas (Cest/UEA), FUNAI/CTL Tefé, Secretaria Municipal de Educação de Tefé (SEMED), Coordenação de Educação Escolar Indígena de Tefé, Coordenação de Educação Física da SEMED e Coordenação de Assuntos Indígenas da prefeitura de Tefé. A solenidade de abertura aconteceu na área de convivência do CEST/UEA, com a presença da comunidade acadêmica, dos parceiros e de representantes dos povos Tikuna, da aldeia Barreira da Missão do Meio; Kokama, da Aldeia Boara de Cima; Kaixana, da aldeia Mapi, e dos Kambeba, da aldeia Barreira do Meio.

A Semana dos Povos Indígenas é uma atividade prevista no projeto “Garantindo a defesa de direitos e a cidadania dos povos indígenas do médio rio Solimões e afluentes”, realizado pela Cáritas da Prelazia de Tefé e Conselho Indigenista Missionário (CIMI-Tefé), financiado pela União Europeia e CAFOD, Agência Católica para o Desenvolvimento Internacional.

Nesse ano, o tema que orientou os debates foi: “Em defesa da Constituição Federal, contra o roubo e a devastação dos territórios indígenas”. E o Lema: “Alto lá, essa terra tem dono!!”. A ideia dos slogans procura sensibilizar e convocar a sociedade para a luta dos povos indígena pela garantia de seus territórios, pela preservação de sua cultura e modos de vida e pelos direitos conquistados na Constituição de 1988. Os retrocessos da política indigenista nacional adotada pelo atual governo ameaçam não só os direitos originários e constitucionais dos povos indígenas, como colocam em risco a vida e a existência indígena em solo brasileiro.

A Mesa de Abertura das atividades foi composta pelas indígenas Marcela Balieiro Kaixana e Valcidheice Kokama, o Coordenador de Educação Escolar Indígena de Tefé, Jukson Ferreira Kambeba, o representante da FUNAI/CTL de Tefé, Alexande Mello, da Gestora do Cest/UEA, Daiane Feitosa, do Cest/UEA e do CIMI Tefé, Raimundo Freitas. Os representantes indígenas e indigenistas, bem como da própria FUNAI, órgão indigenista oficial do Estado brasileiro, trouxeram a difícil realidade que os povos indígenas estão enfrentando atualmente.

Uma das organizadoras, a professora do Cest/UEA, Rita Machado, falou em entrevista concedida ao site jornalístico Tefé News, da importância do evento para a comunidade acadêmica, que traz esta dura realidade: “Trouxemos a população indígena do nosso município e dos arredores para dentro da universidade para discutir questões tão importantes sobre sua educação e seus direitos. E nada melhor que a universidade, como sendo um espaço de discussão, construção de conhecimento e de reconhecimento de direitos”, disse, lembrando que cerca de 100 alunos do Cest/UEA se autodeclaram indígenas. Rita também destaca a importância da mulher indígena nos debates e processos de luta e resistência. “Nesta edição [da Semana dos Povos Indígenas], um dos temas a serem discutidos será o empoderamento da mulher indígena. Entendemos que isso é bem importante no seio das comunidades tradicionais e é uma pauta obrigatória para a sociedade atual”.

Para as lideranças indígenas é um momento em que podem dizer à sociedade que não desistirão da luta, apesar dos ataques aos seus direitos. “Vamos lutar firmemente e resistir para que nossos direitos sejam respeitados”, disse a jovem indígena Valcidheice Kokama, reforçando que qualquer equipe de governo que assumir a condução do país vai enfrentar resistência, “Preferimos o diálogo, mas se nos ameaçarem, pode vir Bolsonaro ou qualquer outro presidente que queira tirar nossos direitos, nós vamos lutar e resistir. Vamos estar aqui, em nosso território com as nossas vidas, resistindo”.

A força da jovem Kokama animou o Tuxaua da aldeia Boara de Cima, Jó dos Anjos Samias Kokama, que disse, convicto, de que a luta é permanente e não pode enfraquecer porque o mundo é de toda a humanidade: “hoje falamos da luta pela terra, mas muitas outras lutas precisamos travar, pois nosso direito de viver está ameaçado. E ela não é só hoje, ela vai durar a vida toda, por que nós indígenas acreditamos que essa grande casa, o planeta Terra, é para o mundo todo e para todos os povos. Por isso ela precisa ser preservada e protegida. E nós, povo indígenas, lutamos é por isso: para proteger a terra e não para explorar o que tem nela, pois nossas raízes estão na terra”.

A animação do evento, que contou com as apresentações da Dança Kaixana, esteve com o tuxaua da aldeia Mapi, que também é cantor, compositor e professor bilíngue na escola da aldeia, Orlânio Carvalho Kaixana. Após as apresentações, Paulo Carvalho Lima Kaixana, uma das lideranças mais antigas do povo Kaixana, da aldeia Mapi, deu seu depoimento com orgulho e disse que a afirmação da identidade indígena tem força na sua cultura: “com nossa dança e cantos mostramos que nossa cultura ainda é forte e que ela é nossa força para resistir e continuar lutando e nos afirmando como povo indígena”.

A programação se estenderá pela Semana Santa, seguindo com manifestações culturais e jogos interculturais indígenas, nos dias 17 e 18, na Aldeia Barreira da Missão de Baixo, em Tefé.

Imagme: Estudantes da Escola da aldeia Mapi apresentam a Dança Kaixana. Foto: Francisca Cardoso.

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