OTSS Bocaina e Funasa ampliam intercâmbio para construção de tecnologias sociais inovadoras

Vanessa Cancian, OTSS

Como uma tecnologia social pode ser incorporada no dia-a-dia de uma comunidade tradicional? O intercâmbio de saberes entre a academia e os povos e comunidades que vivem no território da Bocaina é o eixo norteador da política de atuação do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS). Nesse contexto, desde 2009, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) apoia iniciativas da Fiocruz na região, no campo da saúde territorializada, ou seja, ações que constroem um ambiente saudável por meio de práticas sustentáveis que dialoguem com o modo de vida de caiçaras, indígenas e quilombolas. 

A pauta central das ações desenvolvidas pelo OTSS é a promoção da saúde. Esse tema se amplia para olhar os territórios e suas necessidades em áreas como saneamento ecológico, agroecologia e turismo de base comunitária (TBC), entre outras ações que fazem parte do trabalho que vem sendo executado pelo projeto em parceria com a Funasa. Entre os dias 10, 11 e 12 de abril, a equipe do OTSS recebeu técnicos da área de ambiente e saúde dessa instituição com a finalidade de trocar experiências.

Durante a atividade, os visitantes se encontraram para partilhar agendas estratégicas, avaliar os termos de cooperação e seus resultados nos territórios e realizar uma oficina de trabalho para construção da Capacitação em Territórios Saudáveis e Sustentáveis: Experiências e Tecnologias Aplicadas para Promoção da Saúde. Além disso, parte fundamental da programação foram as visitas a campo. Os técnicos da Funasa puderam conhecer o projeto do Saneamento Ecológico da Praia do Sono e os processos agroecológicos do Quilombo do Campinho. 

“A ideia de vir conhecer de perto essas ações foi fundamental para que pudéssemos sentir que se trata de um trabalho que valoriza as comunidades. Percebemos nesses dias que há uma troca de experiências entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento das comunidades”, relata Ociléia Fernandes, diretora do Departamento de Saúde Ambiental da Funasa. Segundo ela, o trabalho desenvolvido pelo OTSS dá voz e vez para que todo processo seja construído ouvindo essas demandas e a realidades de cada comunidade. “O que desejamos que ações desse tipo possam ser pilotas para outras comunidades, pois sabemos que o nosso país tem uma diversidade imensa de contextos e modos de vida”, finaliza. 

“O OTSS nasce por meio dessa construção do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) com a Fiocruz e a Funasa. Dentro dessa história, já tivemos três termos de cooperação. Em conjunto, todos eles trouxeram como proposta o saneamento ecológico e outras tecnologias territorializadas”, contextualiza Gustavo Machado, coordenador do projeto de saneamento ecológico da Praia do Sono e integrante da equipe do OTSS. “Foi fundamental para nós, agora que acabamos grande parte das fases da Praia do Sono, ter discutido os desdobramentos, os desafios e os aprendizados com a Funasa e com as comunidades”, completa.

“Do ponto de vista da educação e saúde ambiental, a execução dessa parceria Fiocruz e Funasa nos faz notar o grande engajamento das representações das comunidades e a forma como eles assimilam essas tecnologias associadas ao contato à saúde. Para nós, foi muito prazeroso constatar que essas tecnologias estão em plena atividade e que existe interesse da comunidade em dar continuidade a esse processo”, pontua Hamilton Goes, servidor do Ministério da Saúde e Coordenador de Educação em Saúde Ambiental da Funasa.

Tecnologias sociais que geram saúde e autonomia

Hamilton Goes, servidor do Ministério da Saúde e Coordenador de Educação em Saúde Ambiental da Funasa, fala sobre as possibilidades abertas pela parceria entre o OTSS e a Funasa em anos de parceria e cooperação.

O que vale ser destacado do processo construído durante a parceria Funasa Fiocruz?

O que nos chama muito a atenção é que o projeto pode iniciar todo um processo de autonomia e protagonismo desses sujeitos residentes nessas comunidades, sem que a gente precise assumir o papel de tutelar essas ações. Nós vemos que que as populações tradicionais se tornam sujeitas de suas ações e das transformações ocasionadas, se empoderando e validando as tecnologias sociais aplicadas nos territórios.

De que forma essas tecnologias sociais se relacionam com a promoção da saúde e como você acredita que esse debate possa ser ampliado?

É marcante a troca de saberes, o conjunto de produções de desenvolvimento de tecnologias sociais com impacto significativo no SUS. O que levamos tem uma reflexão que vale a pena se debruçar sobre é demonstrar como essas tecnologias têm impactado e quais instrumentos temos para fazer essa demonstração. De que forma as tecnologias implantadas na comunidade do Sono ou em outras comunidades, temos conseguido impactar nos indicadores de saúde de tal forma que possamos dizer que hoje houve diminuição das doenças de veiculação hídrica? As tecnologias hoje instaladas nas comunidades são de conhecimento das equipes de saúde? Essas equipes incorporam os resultados e reflexões dessas tecnologias com os usuários? As equipes de saúde da família trabalham no sentido de sensibilizar essas comunidades para que a gente possa alavancar a construção do maior número de tecnologias para tratamento do esgotamento sanitário? Certamente iremos buscar uma interlocução futura com o OTSS nesse sentido.

Em sua opinião, quais os desafios para o futuro do projeto?

O projeto tem um grande desafio: se ele chega com o saneamento ecológico, ele não pode morrer aí. É preciso discutir, problematizar com as comunidades perspectivas de soluções de continuidade, com ou sem a participação do Estado. Temos que instrumentalizar esses atores nessa discussão, visando portanto, o que consideramos territórios sustentáveis e saudáveis.

O que vocês levam de inspiração para o trabalho desenvolvido na Funasa?

Levamos um exemplo claro do que é tornar sujeitos protagonistas nesse processo de desenvolvimento, implantação, manutenção das tecnologias, e também alavancando isso para outras áreas como a agroecologia, por exemplo. Levamos uma visão de quais as instrumentais no campo da educação que dialogam com aquilo que nasce na academia e que conversa com as pessoas em suas comunidades.

Foto: Eduardo Napoli/Comunicação OTSS

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