Compositor e escritor brasileiro leva 100 mil euros ao vencer um dos prêmios mais importantes da literatura de língua portuguesa, dado pelos governos de Portugal e do Brasil.
No G1
O cantor e escritor brasileiro Chico Buarque é o vencedor do Prêmio Camões 2019, um dos maiores reconhecimentos da literatura em língua portuguesa. O anúncio foi feito nesta terça-feira (21) na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, pela presidente da instituição, Helena Severo.
A 31ª edição do prêmio, organizado pelos governos de Portugal e do Brasil, dá ao vencedor 100 mil euros. O júri responsável pela escolha, formado por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa, anunciou o ganhador após reunião de quase duas horas.
Ainda não há previsão para data da cerimônia de entrega do prêmio.
“Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, afirmou Chico Buarque em nota, em referência ao último vencedor brasileiro. O autor de “Lavoura arcaica” e de “Um copo de cólera” foi reconhecido em 2016.
Instituído em 1988, o Prêmio Camões de Literatura tem o objetivo de reconhecer um autor de língua portuguesa que tenha “contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural” do idioma através de seu conjunto da obra.
Conhecido principalmente como um dos maiores nomes da MPB, Chico Buarque conseguiu sucesso também como dramaturgo e como escritor. Além de ganhar os prêmios Jabuti de melhor livro do ano por “Leite Derramado” e por “Budapeste”, também foi ganhador como melhor romance com “Estorvo”.
“Os textos para teatro, as óperas são de uma qualidade sensacional. Assim também são os romances. Portanto é uma obra no seu conjunto que justifica está nossa decisão”, afirma o jurado português Manuel Frias Martins, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
“Ele não era o único nome, mas o Chico Buarque reúne uma universalidade que faltava a outros candidatos. Universalidade de tocar em várias culturas. E isto dava ao Chico um consenso quase natural. Foi relativamente fácil chegar ao nome dele.”
Veja abaixo as principais obras literárias e de teatro de Chico Buarque:
- “Chapeuzinho amarelo” (Autêntica), de 1970; livro infantil com ilustrações de Ziraldo
- “Fazenda modelo” (Civilização Brasileira), de 1974; novela
- “Gota d’água” (Civilização Brasileira), de 1974; peça de teatro
- “A bordo do Rui Barbosa”, de 1981; poemas
- “Estorvo” (Companhia das Letras), de 1991; romance
- “Benjamin” (Companhia das Letras), de 1995; romance
- “Budapeste” (Companhia das Letras), de 2003; romance
- “Tantas palavras” (Companhia das Letras), de 2006; todas as letras
- “Leite derramado” (Companhia das Letras), de 2009; romance
- “O irmão alemão” (Companhia das Letras), de 2014; romance
13º ganhador brasileiro
Com a concessão deste prêmio, o cantor se torna o 13º brasileiro a fazer parte de um seleto grupo de grandes nomes como Jorge Amado (1994) e os portugueses José Saramago (1995) e António Lobo Antunes (2007), entre outros.
Para o jurado brasileiro Antônio Carlos Hohlfeldt, jornalista, escritor, professor universitário, político e presidente da Fundação Theatro São Pedro, em Porto Alegre, é impossível contar a história do Brasil entre os anos 1960 e 1990 sem conhecer a obra de Chico Buarque.
“A variedade de produção do Chico também foi importante. Ele tem a poesia, a dramaturgia e os romances. Particularmente, eu não sou muito fã dos romances, mas é indiscutível que um poema como Construção, que trabalha com proparoxítonas rimadas, é um negócio extraordinário. É das coisas mais difíceis de fazer em língua portuguesa. Assim como outras tantas contribuições que o Chico tem, com penetração em todos esses países.”
O júri de 2019 foi composto por Clara Rowland e Manuel Frias Martins, de Portugal, Ana Paula Tavares, de Angola, Antonio Cicero Correia Lima e Antônio Carlos Hohlfeldt, do Brasil, e Nataniel Ngomane, de Moçambique. O anúncio do ganhador acontece alternadamente no Brasil e em Portugal.
Veja todos os vencedores da premiação:
- 1989 – Miguel Torga, Portugal
- 1990 – João Cabral de Melo Neto, Brasil
- 1991 – José Craveirinha, Moçambique
- 1992 – Vergílio Ferreira, Portugal
- 1993 – Rachel de Queiroz, Brasil
- 1994 – Jorge Amado, Brasil
- 1995 – José Saramago, Portugal
- 1996 – Eduardo Lourenço, Portugal
- 1997 – Artur Carlos M. Pestana dos Santos, o Pepetela, Angola
- 1998 – Antonio Cândido de Melo e Sousa, Brasil
- 1999 – Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal
- 2000 – Autran Dourado, Brasil
- 2001 – Eugênio de Andrade, Portugal
- 2002 – Maria Velho da Costa, Portugal
- 2003 – Rubem Fonseca, Brasil
- 2004 – Agustina Bessa-Luís, Portugal
- 2005 – Lygia Fagundes Telles, Brasil
- 2006 – José Luandino Vieira, Angola
- 2007 – António Lobo Antunes, Portugal
- 2008 – João Ubaldo Ribeiro, Brasil
- 2009 – Armênio Vieira, Cabo Verde
- 2010 – Ferreira Gullar, Brasil
- 2011 – Manuel António Pina, Portugal
- 2012 – Dalton Trevisan, Brasil
- 2013 – Mia Couto, Moçambique
- 2014 – Alberto da Costa e Silva, Brasil
- 2015 – Hélia Correia, Portugal
- 2016 – Raduan Nassar, Brasil
- 2017 – Manuel Alegre, Portugal
- 2018 – Germano Almeida, Cabo Verde
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