Atingidas se unem contra a violência de gênero em Rondônia

As mulheres defensoras de direitos humanos do Movimento dos Atingidos por Barragens em Rondônia constroem alternativas contra à violência de gênero

No Mab

O MAB, em parceria com a Christian Aid, organização cristã britânica que apoia a luta contra a pobreza e desigualdade em diversos países do mundo, intensificou seu trabalho com as mulheres atingidas visando aprofundar seu conhecimento acerca da violência estrutural baseada em gênero, seu agravamento em contextos com grandes empreendimentos e projetos, e construir ferramentas de proteção para que as mulheres lideranças locais possam continuar defendendo seus direitos.

De acordo com Sarah Suellen Passos Guimarães de Souza, que é uma das moradoras da comunidade Pamos localizada na zona rural do município de Candeias do Jamari: “Os encontros das mulheres em que eu estou participando, cada encontro é muito maravilhoso, eu aprendo muito, ouvir casos sobre violência e abuso me deixa atenta. Não deixo de participar de nenhum encontro.Uma coisa que não aceito é homem controlar a mulher. Os encontros no Pamos as mulheres adoram e todas ficam esperando sempre o próximo encontro. Esses momentos é um refúgios para elas, é onde elas podem conversar abertamente, se expressar, até em desenhos sabemos que algumas sofrem violência em casa, apesar que algumas só ouvem, mais já tá valendo.”

Em Rondônia, o trabalho já alcança mais de 60 mulheres, de forma direta e está sendo implementado em 6 comunidades, 3 municípios (Porto Velho, Cadeias e Itapuã do Oeste) atingidas pelas barragens de Samuel, Santo Antônio e Jirau. A ação também está sendo feita na região do Tapajós no estado do Pará, onde o projeto do Complexo do Tapajós já traz grande impacto sobre a vida das mulheres.

Para Fabianny Castro, que é parte do Coletivo Estadual de Mulheres do MAB, “Discutir as questões da mulher é uns dos mecanismos para evitar a morte. Nossos encontros nos grupos de mulheres em suas localidades estão sendo um grande desafio, principal com esse tema: “violência contra as mulheres”. Daí que percebemos o quanto somos vulneráveis e fortes ao mesmo tempo, a cada encontro temos que partilhar de vivências de algumas que já foram vítimas de violência ou que alguém da sua família passa. Os encontros nos fortalece, nos instiga, nos dá a percepção de o que a mulher pode fazer, caso seja vítima de agressão ou alguém que está próxima a ela. Só a mulher é capaz de reescrever sua história, uma página por dia, sem pressa”.

Durante as reuniões nas comunidades, as mulheres atingidas aprendem e discutem sobre as diversas formas de violência, como a violência doméstica e a violência institucional, e trazem relatos de suas vidas. Isso possibilita que as mulheres busquem identificar no seu dia a dia e nas suas relações as formas como a violência de gênero se manifesta, assim como caminhos para se protegerem.

A experiência histórica do MAB mostra que com a chegada de um projeto e/ou empreendimento, como as barragens, quem tem mais direitos violados e maior dificuldade em reconstruir suas vidas são as mulheres. Em contrapartida, as mulheres são a maioria das lideranças locais que diariamente lutam contra a violação de direitos e por suas comunidades. Essas mulheres defensoras de direitos humanos estão expostas aos mesmos tipos de riscos que outros defensores, porém elas também estão expostas a riscos e violências específicos por seu gênero, visto que elas enfrentam normas de gênero existentes nas suas comunidades e sociedade em geral por ocuparem espaços de liderança, de decisões e públicos, o que também resulta em mudanças na dinâmica doméstica.

O MAB acredita que a participação ativa das mulheres na luta por direitos, em todos os níveis, é essencial para o fortalecimento da luta das populações atingidas por barragens do Brasil e a busca por justiça social. Desse modo, vem sendo construída a auto organização das mulheres atingidas no MAB e para essa ação, o MAB contou com o apoio da Christian Aid através do projeto Mulheres defensoras de direitos humanos na Amazônia: construindo alternativas à violência.

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