“Será que Jesus não está no morador da favela?” Escola traz figura política de Cristo e o amor que liberta da intolerância e do preconceito
por Redação RBA
São Paulo — “Quando Cristo esteve aqui, ficou do lado dos oprimidos e não fez distinção de pessoas. Será que Jesus não está no morador da favela? No menor abandonado? No gay? Na mãe de santo?” O questionamento é do carnavalesco da Mangueira Leandro Vieira, em entrevista ao jornal O Globo, na qual ele anuncia que o enredo da escola de samba em 2020 será A Verdade Vos fará Livre.
A ideia é retratar como seria o retorno de Jesus no atual cenário de intolerância no mundo. “O Cristo histórico que A Verdade Vos fará Livre leva para o carnaval é aquele que nasceu pobre, viveu ao lado dos menos favorecidos e condenou o acúmulo de riqueza. O mesmo que se insurgiu contra a hipocrisia dos líderes religiosos do seu tempo e colocou-se contra a opressão do Estado. A liderança pacifista, que amou de forma irrestrita, sem preconceitos ou discursos de ódio, e por isso foi condenado, torturado e morto”, diz o texto oficial da agremiação em postagem no Facebook.
Segundo Leandro, na Mangueira desde 2016, o enredo vai falar sobre a “figura política de Cristo” e de sua pregação em torno do amor, “que nos torna livres da intolerância e do preconceito”. “Essa é a verdade que liberta. Porque não é amor o que faz alguém quebrar um terreiro de candomblé, como fizeram na semana passada (em Duque de Caxias ), né?”, diz ao jornal.
Neste ano, a Mangueira foi a campeã pela 20ª vez do carnaval carioca, o que a coloca atrás apenas da Portela (22 títulos). Com o samba-enredo História pra Ninar Gente Grande, a agremiação falou de um país “que não está no retrato”, mostrando negros e índios como símbolos da resistência e citando diversos personagens históricos, inclusive recentes, como a vereadora Marielle Franco (Psol).
Após a conquista do título, Leandro Vieira deu um recado para o presidente Jair Bolsonaro, que tentou desmoralizar o carnaval. “É um recado político para o país todo, que tem que entender que isso aqui é importante. É um recado político também para o presidente mostrar que o carnaval é isso daqui, o carnaval é a festa do povo, o carnaval é cultura popular. O carnaval não é o que ele acha que é. O carnaval é isso e ele devia mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira, o carnaval da arte, o carnaval da luta, o carnaval do povo e da cultura popular.”
Na sexta-feira (19), no auditório do Palácio do Samba, quadra da escola, Vieira vai explicar mais detalhes sobre o enredo aos compositores interessados em participar do concurso para 2020.
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Mangueira encerrou o desfile em ala com bandeiras de ícones da escola; Marielle, tônica do cortejo, foi representada Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo