Com esperança de unir esforços, coletivos brasileiros pró-democracia no exterior se reúnem em Berlim

“Esperemos que este encontro da FIBRA, e que ele possa contribuir de fato para definir pautas de atividades comuns em prol da nossa democracia e da luta contra todos os preconceitos.”

por Flavio Aguiar, no blog da Boitempo

De 16 a 18 de agosto próximos se reúne em Berlim o segundo Encontro Internacional da FIBRA – Frente de Brasileiras e Brasileiros pela Democracia e Contra o Golpe. A reunião acontecerá na sede da Fundação Rosa Luxemburgo (Rosa Luxembourg Stiftung), que apóia o encontro, na Franz-Mehring Platz, 1, Berlin 10243, Alemanha.

A FIBRA organizou-se a partir de 2016, quando houve o golpe parlamentar jurídico, que, com apoio da mídia conservadora, depôs ilegalmente a presidenta Dilma Rousseff. Seu primeiro encontro internacional realizou-se em janeiro de 2017, em Amsterdã, Holanda, reunindo 107 participantes de 22 coletivos de diferentes países. Estiveram presentes também os advogados do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin, Valeska Martins e Geoffrey Robertson (que representa Lula perante o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos), o jornalista e militante do PT Breno Altman, o sociólogo Emir Sader, também militante do PT, o então deputado federal pelo PSOL, Jean Wyllys, Kalynka Cruz-Stefani, professora da Universidade Federal do Pará, Francisco Dominguez, professor da Universidade de Middlesex, não Reino Unido, Tadeu Porto, da Federação Unificada dos Petroleiros (Brasil) e Márcia Tiburi, filósofa e escritora.

Já agora a FIBRA reúne mais de 65 coletivos e grupos na Europa, Estados Unidos, Canadá e América Latina. Seu segundo encontro tem por tema geral “Fomos, Somos e Seremos Resistência”. O objetivo desta vez é debater, propor e organizar a resistência, em concatenação com as atividades no Brasil, contra os retrocessos impostos em todas as frentes pelo atual governo de Jair Bolsonaro. Estarão presentes, como convidados, Jean Wyllys e Marcia Tilburi, ambos atualmente vivendo fora do Brasil devido a ameaças de morte que receberam, Breno Altman, Maria Dantas, brasileira de nascimento e hoje eleita deputada para o Congresso Espanhol pela Aliança Repubicana de Esquerda da Catalunha, Renata Souza, deputada estadual no Rio de Janeiro pelo PSOL, e James Greene.

O encontro começa na sexta-feira, 16, pela manhã, com credenciamento e uma entrevista com imprensa e mídias a partir das 10h30, na sala 121 da Fundação Rosa Luxemburgo, de que participarão os convidados que já estiverem presentes (confirmados Breno Altman, Jean Wyllys, Marcia Tiburi, Maria Dantas e Renata Souza).

A abertura oficial, aberta ao público, acontecerá na sexta-feira a partir das 18 horas, com a mesa Diálogos de um Brasil que Resiste”, com a participação dos convidados e mediação de Bárbara Santos, atriz e militante do grupo de artistas Kuringa, em Berlim.

O sábado, 17, será reservado para encontros dos diferentes grupos temáticos de trabalho que formularão propostas de ação e para a “Carta de Berlim”, que deverá ser aprovada no domingo pela manhã. A sessão é restrita aos participantes inscritos e credenciados para o encontro.

No domingo 18, pela manhã haverá a aprovação da Carta e o encerramento com um ato pela liberdade do ex-presidente Lula, aberto ao público.

Durante os três dias haverá duas exposições fotográficas. A primeira terá por tema Marielle Franco, com curadoria do grupo Articulação de Mulheres Pretas. A segunda tem o tema “As ruas do mundo são nossas”, com fotos de Ricardo Stuckert e dos coletivos e grupos que compõem a FIBRA. Haverea uma “Roda de Conversa”, liderada por Márcia Tilburi.

No sábado à noite haverá uma sessão do Cinema Verão, às 20 horas, com debate conduzido por Jean Wyllys.

Além do apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, o encontro conta com a colaboração local do Fórum Resiste Brasil – Berlin, formado por grupos de trabalho e coletivos berlinenses.

Deve-se também assinalar que além de brasileiras e brasileiros residentes definitiva ou temporariamente fora do Brasil, a FIBRA conta com a participação de muitas outras pessoas de outras nacionalidades.

O esforço da maioria estará concentrado em unir=se, respeitando as diferenças, para suplantar as divergências. As esquerdas são plurais, mas sempre há quem não aceite esta pluralidade. As tendências individualistas se acentuam no exterior, onde as e os militantes podem flutuar num limbo, com a sensação não confessa de que representem “a si mesmos”, na verdade sem prestar contas a ninguém, a não ser ao espelho. Isto costuma levar a fragmentações sem fim, provocadas por acusações graves, mas no mais das vezes sem fundamento. É fácil erguer o dedo e chamar outras pessoas, por exemplo, de racismo, de homofobia, de machismo, etc. Não raro, isto destrói os grupos onde estas acusações campeiam.

Esperemos que isto não aconteça, ou pelo menos não prevaleça neste encontro da FIBRA, e que ele possa contribuir de fato para definir pautas de atividades comuns em prol da nossa democracia e da luta contra todos os preconceitos.

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Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, Crônicas do mundo ao revés(2011) e o recente lançamento A Bíblia segundo Beliel (2012). Seu mais novo livro é O legado de Capitu, publicado em versão eletrônica (e-book).

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