Divergente bom é divergente morto?

Por Bruno Antonio Barros Santos, no Justificando

Comemorar ou debochar da morte de Marielle Franco? Aplaudir a morte de policiais? Festejar a morte do neto de Lula, uma criança de 7 anos de idade? Culpabilizar as próprias vítimas no desabamento de um prédio em São Paulo, por, supostamente, pertencerem a movimentos sociais de luta pela moradia? Celebrar a facada de que Bolsonaro foi vítima antes das eleições de 2018? Comemorar a saída de Jean Wyllys, Debora Diniz e Marcia Tiburi, ou de quem quer seja, do próprio país, por ameaças sofridas? Ter indiferença ou repúdio às minorias e grupos vulneráveis? Celebrar a morte de “bandidos”? Praticar linchamentos virtuais por causa de uma saudável divergência ideológica? Divergente bom é divergente morto?

Tais perguntas refletem o estado atual agudo de disposição bélica ao enfrentamento daquilo que não pertence ao campo do “eu”. Historicamente, sempre foi muito difícil saber lidar com as diferenças e extermínios, promovidos em nome da visão homogênea e totalizante de mundo. Hoje, em pleno século XXI, no contexto dinâmico do estreitamento dos contatos – seja presencial seja virtual –, há uma efervescência direcionada ao extermínio do que é avesso ao nosso senso de pertencimento. O “eu” se fecha a partir da dicotomização não dialogável com o “outro”, transformando-se num “eu” autoevidente em suas proposições. Então, precisamos conversar sobre o fechamento dicotômico que interdita a relação com o “outro”, anula a transcendência da reflexão e apaga do pensamento a diferença intrínseca à própria condição humana.

Com a “pós-modernidade”, acreditava-se que haveria um processo de diluição das dicotomias bem x mal, certo x errado, esquerda x direita, puros x impuros, além de uma provável diminuição do poder das religiões como centro das ações humanas. Entretanto, no Brasil, desde as jornadas de junho de 2013, vem ocorrendo um processo contrário, isto é, a polarização política aguçou o fortalecimento das dicotomias, sobretudo com a inserção ampla das pessoas nas mídias sociais.

As dicotomias, por si sós, não são um problema. Por outro lado, o problema é o fechamento dicotômico. Essa rigidez dicotômica cria um mundo autorreferencial de pureza, cujo objetivo é demonizar e aniquilar a diferença. O discurso de ódio ritualiza o caminho dessa saga de destruição do “outro”. Com isso, o fechamento dicotômico produz a morte da divergência, sendo que o “outro” vira um bode expiatório para todos os males. É algo muito além do jargão “bandido bom é bandido morto”. O mantra escancarado é: “divergente bom é divergente morto”.

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Esse fechamento dicotômico vem na mesma lógica de um discurso messiânico ou de extremismo religioso, imbuído de uma missão purgadora no mundo. E, não raro, é acompanhado de paranoias, de delírios e de teorias conspiratórias. Não se admite a condição humana paradoxal. Não se enxergam contradições. É tudo muito linear e absoluto. E, geralmente, na cruzada dicotômica, observa-se um discurso recheado da invocação do “bem”, através de mensageiros e portadores que se autodenominam guardiões desse “bem”.

Nessa perspectiva do fechamento dicotômico, o apelo à família no singular (e não no plural), ou seja, à família “tradicional” (homem e mulher) ocorre com frequência no sentido de ser, esta, a guardiã do “bem” numa cruzada contra o “mal” (questões de gênero que pluralizam famílias), ao mesmo tempo em que se criam delírios e paranoias como se esse modelo de família tradicional estivesse ameaçado ou em risco por causa da visibilidade de outros mosaicos familiares. Na Marcha para Jesus, realizada em Brasília, em agosto de 2019, o presidente Jair Bolsonaro disse que a “ideologia de gênero é coisa do capeta”, reafirmando naquele momento que família é família tradicional, conforme a matriz cristã, e que “as leis existem para proteger as maiorias”. É o apelo dicotômico característico da purificação do “eu” e da demonização do “outro”.

Michel Maffesoli, fazendo referência a esses portadores maniqueístas do “bem”, diz que eles “encapotados pelas suas certezas, a dúvida não os aflora. Desde logo, a vida, na sua complexidade, escapa-lhes.”. O autor alerta que o problema é quando eles passam a ser “detentores legítimos da palavra”, determinando e decretando o que deve ser a sociedade ou o indivíduo. Maffesoli diz que esse “magistério moral, pois é bem de moralismo que se trata, é perigoso. […] os moralistas de toda a espécie erguem como absolutos os valores culturais de um mundo cuja perenidade é tudo, menos certa.” .

Muitas vezes, o ódio pulsa na mesma intensidade do fechamento dicotômico, isto é, o “eu” moralista e autoevidente enxerga a si mesmo como um “cruzado” de uma “guerra cultural” que só faz sentido quando se anula a existência do “outro”. São encontros consigo mesmo que reafirmam convicções, e desencontros que promovem a aniquilação de outros pronomes pessoais. Mas é, também, um comportamento de grupo e de nicho, em que as mídias sociais, embora tenham inúmeras vantagens, possibilitam o aparecimento de grandes influenciadores digitais que acabam formatando parte do imaginário social, a exemplo do que constata a recente matéria do The New York Times, intitulada “How YouTube Radicalized Brazil”, que mostra como youtubers famosos radicalizaram o país.

Em muitos perfis das diversas mídias sociais, o ódio vem acompanhado de pregações religiosas, sobretudo de trechos da Bíblia. Assim, embora a verdadeira mensagem de Cristo seja de paz, amor, misericórdia, empatia e tolerância é, no mínimo, curioso observar como grande parte dos mercadores do ódio usa com tanta frequência passagens bíblicas ou frases do tipo “Deus acima de todos”. É como se tivessem a necessidade – consciente ou inconscientemente –  de purgar uma ferida psíquica inconfessável com falas exteriores que passassem uma imagem pura e santa autoatribuída. É um sistema de morde (propagação do ódio) e assopra (citações religiosas do “bem”) que traduz uma hipocrisia insuperável.

Nessa problematização do “bem”, Maffesoli alerta que o “bem”, além de ser “a justificação última do messianismo judaico-cristão”, acabou legitimando inquisições, etnocídios culturais, colonialismos, imperialismos, a partir da perspectiva do universalismo. O pensador diz que é em nome do “bem” que “se decreta o que deve ser vivido e pensado, como se deve viver e pensar, e que se declara tabu determinada maneira de viver ou determinado objeto de análise.” .

A cruzada dicotômica que departamentaliza o bem e o mal em dois compartimentos estanques é bem perceptível na visão de muitas pessoas, em relação à maneira deturpada como veem os “direitos humanos”, como defesa de “bandidos”. E o efeito disso é a autorização e incitação para que se torturem e matem “bandidos”. O problema é a linha tênue que, muitas vezes, separa quem é “mocinho” e quem é “bandido”, além da conhecida seletividade penal e do perigoso conceito elástico de “bandido”, significando aquilo em relação ao qual não seja a projeção do meu “eu”.

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Nesse sentido, o caldo cultural da violência tem sido utilizado como capital político e simbólico, com exemplos abundantes da naturalização do extermínio de “bandidos”. Só neste ano de 2019, João Doria, governador de São Paulo, já condecorou policiais que mataram 11 suspeitos de um roubo, em Guararema, na Grande SP, no mês de abril. Além disso, em fevereiro, várias autoridades no Rio de Janeiro celebraram a morte de 15 pessoas, no Morro do Fallet-Fogueteiro, pela polícia, alegando que eram criminosas.

Também, em 2019, o governador do RJ, Wilson Witzel (famoso por ter falado em “atirar na cabecinha” ou jogar míssil em “bandidos” na região da Cidade de Deus) e o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, têm parabenizado ações policiais em que resultaram mortes, estimulando, assim, à violência e à letalidade policial. Witzel é do PSC (Partido Social Cristão), mesmo partido do Pastor Everaldo (ex-candidato ao cargo de presidente da República nas eleições de 2014). E, em maio, na morte de quase 60 presos em Manaus/AM, houve, no Twitter, uma explosão de comemoração de vários entusiastas da morte de “bandidos”, incluindo o deputado federal Sargento Fahur, que foi o mais votado no estado do Paraná, nas eleições de 2018, pegando carona na onda bolsonarista.

Ora, especialmente nas mortes ocasionadas pelo aparato estatal, em quase todos esses casos de celebração da morte por parte de autoridades constituídas, existiu uma situação curiosa: não se esperou a apuração dos fatos para saber se, de fato, foram mortes amparadas pela legítima defesa, o que demandaria tempo e análise acurada e responsável. O time da culpabilização antecipada é imediato. Todos são “bandidos” até que se prove o contrário. Não há cautela em saber o que aconteceu, se os agentes do Estado se excederam ou se fazem parte de esquadrões da morte, além de não passar pela cabeça dessas autoridades – e de uma legião de fãs que as seguem – que quase metade dos presos no país são presos provisórios (não foram julgados definitivamente) e podem ser considerados inocentes ao final de um processo judicial.

Dessa forma, a mensagem que se passa para a população é a de que é normal matar. E o Estado, que deveria ser o guardião da vida, mata bastante. Não é à toa que muitas páginas das mídias sociais se sentem confortáveis em celebrar a morte, desdenhando de quem perdeu a vida. A frase “mais um CPF cancelado”, em referência ao regozijo com a morte de supostos “bandidos”, faz bastante sucesso, existindo, inclusive, uma página no Twitter chamada “CPFs Cancelados”, com 80 mil seguidores, e que reproduz vídeos de morte de “bandidos”. É o esgarçamento da celebração e da espetacularização da morte para quem quiser assistir.

Mas, esse festejar direcionado aos “bandidos” é uma parte da cultura de violência do país. O contexto do fechamento dicotômico não se resume às armadilhas desse “bandicídio”, mas, diante da polarização excessiva do país, espraia-se para o divergente/oponente ideológico. O fortalecimento dessa cultura de violência gera no imaginário social uma predisposição a resolver divergências naturais e saudáveis na lógica da violência, seja simbólica ou física.

Então, muitas pessoas não se contentam mais só com a frase “bandido bom é bandido morto”. Não é mais só a naturalização dos linchamentos contra “bandidos”. O buraco da destruição do “outro” é mais profundo e sempre há uma pá para cavar mais ainda. O “bandido bom é bandido morto”, de mais fácil digestão no imaginário social, é só a ponta do iceberg. O mantra é “divergente bom é divergente morto”, sem qualquer constrangimento público em verbalizar isso nas mídias sociais. É a total insensibilidade à condição humana do “outro” e ao sofrimento alheio. E isso, curiosamente, num país de maioria cristã.

A par disso, no mês de abril de 2019, em plena Páscoa, um oficial da Guarda Civil de Ouro Preto, em Minas Gerais, foi flagrado com uma filmagem chutando e destruindo um tapete de serragem, que tinha sido feito em homenagem a Marielle Franco. E, em 2018, Rodrigo Amorim, um dos responsáveis pelo triste episódio da quebra das placas simbólicas em homenagem a Marielle, foi o deputado eleito com o maior número de votos para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Rodrigo Amorim, não satisfeito apenas em quebrar a placa, emoldurou parte dessa placa despedaçada e a fixou como quadro em seu gabinete de deputado, como se fosse um prêmio ou um troféu. É um certificado do ódio ao “outro” na parede. Em outras palavras: “divergente bom é divergente morto”.

Por que tanto ódio de uma mulher, negra, lésbica, militante de causas sociais, símbolo de resistência, que denunciou e combateu milícias no Rio de Janeiro, e foi covardemente assassinada com vários tiros? Qual a justificativa moral para vilipendiar uma homenagem feita a ela e ainda tratar o deboche como troféu? Ora, o fato de o referido deputado ter emoldurado parte da placa quebrada no seu gabinete traduz o capital simbólico em torno da espetacularização do ódio. E, simbolicamente, a fixação desse quadro na parede é uma forma de ver e lembrar do ódio, alimentando-o como motivo de orgulho. O quadro fixado é a tradução do ódio, cultivado permanentemente, significando a eternização do próprio ódio. É um ritual com repercussão direta no contexto imagético das mídias sociais, que retroalimenta o capital político, agregando “valor” para o seu público.

No livro “1984”, de George Orwell, há um ritual denominado de “Dois minutos do ódio”, em que as pessoas, diariamente, olham para teletelas com a imagem de Emmanuel Goldstein, “inimigo” do regime totalitário vigente, e passam a odiá-lo coletivamente, através de xingamentos, vaias e ataques, como se fosse um ritual de catarse ou exorcismo, para descarregar e extravasar naquele “traidor” as doses necessárias de medos, frustrações e raiva e, com isso, alimentar, também, um ideal de purificação do regime político, no sentido de legitimá-lo mais ainda. Rodrigo Amorim alimenta o seu ódio e o dos seus seguidores através dessa representação simbólica de Marielle Franco; mas, no lugar dos “dois minutos do ódio” e das teletelas, entram as telas das mídias sociais com sua dimensão permanente no tempo, daí ser um ódio potencialmente mais perigoso.

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Nesse sentido, a historiadora Lilia Schwarcz analisa que, na perspectiva do que denomina de “razão binária”, a utilização das mídias sociais também se comporta como elemento que aguça a comunicação bipartida. […] as mensagens tomam a forma de propagandas, que tencionam a formação ainda mais exacerbada de polarizações. O sucesso delas será garantido quanto mais retomarem palavras de ordem conhecidas e disseminadas como medo, ódio, insegurança, ou melhor, quanto mais se arriscarem a introduzir teorias conspiratórias e assim gerarem esse tipo de sentimento. Por isso, e para tornar-se popular nesses espaços, é suficiente fomentar narrativas políticas críveis, distopias funcionais, desde que empreguem uma linguagem simplificada, tão curta como direta. Também é de bom alvitre selecionar um bom inimigo, daqueles a quem é possível endereçar muita raiva e contraposição; desautorizar seu discurso para legitimar o próprio. É comum à estrutura de tais narrativas mostrar um verdadeiro desapego à realidade. Melhor criar uma, desde que ela se mantenha dividida entre o ‘nós’ e o ‘eles’, e apegada emocionalmente a falsas certezas.

Assim, é nessa perspectiva do ódio, associado ao fechamento dicotômico, que se verifica a coisificação do ser divergente, transmutando-se em coisa, a fim de que se possa fazer qualquer coisa com a “coisa”. Daí ser um passo não só para a legitimação da desumanização do “outro”, mas também para a celebração da morte, com toda a sua espetacularização que promove likes e retwiteets. Por isso, joga-se o jogo da plateia sedenta que interage morbidamente.

E a morte é sempre justificada com a conjunção adversativa “mas”. Um exemplo disso está na frase: “Ah, morreu, mas ele era …”. Desta maneira, a expressão “mas ele era…” torna-se uma equação guarda-chuva, em que cabe tudo aquilo que não está no quadro do fechamento dicotômico. E, muitas vezes, vem da mesma pessoa que, paradoxalmente, é contra a legalização do aborto, sob o suposto discurso de defesa da vida, ainda que intrauterina. Essa seletividade da vida extrauterina, escolhendo quem merece viver ou morrer, abre as comportas de uma equação que não faz sentido.

Em relação ao “inimigo” escolhido, perde-se, então, qualquer sentimento de piedade, misericórdia e compaixão. O intuito é a eliminação. Embora muitos citem seguir o cristianismo, acabam fazendo uma leitura descontextualizada, seletiva e conveniente do Velho Testamento, para nutrirem o ódio e a vingança, e se esquecem da verdadeira mensagem do Novo Testamento (celebração da vida, e não da morte), que é de amor, compreensão e paz. Na visão distorcida da purificação, torna-se necessário eliminar o “mal” caracterizado ou personificado.

Parece que não bastam os exemplos históricos de matanças ou dizimações, através da lógica binária da demonização: negros escravizados, catequização forçada e escravização de indígenas, Inquisição, discurso de purificação da raça ariana que legitimou o Holocausto e a matança de judeus, ciganos e homoafetivos. Não bastam os apartheids institucionalizados, a exemplo do que aconteceu nos EUA e na África do Sul. Não basta o “Holocausto Brasileiro”, título do impactante livro da jornalista Daniela Arbex, em que dá visibilidade à morte de 60 mil pessoas no “Colônia”, o maior hospício do país, em Barbacena/MG, onde a maioria das vítimas não apresentava diagnóstico de doença mental, mas, na ordem do poder e do imaginário social, “incomodava” a “higiene social”; vítimas tais como mendigos, rebeldes, prostitutas, homossexuais, pessoas sem documentação etc.

Também a impressão é que não basta o processo de higienização social, de discursos e ações que legitimam a não entrada de pessoas pobres e “indesejáveis” em bairros ricos; a exemplo da insurgência de alguns moradores do bairro de Higienópolis, região nobre de São Paulo, contra a construção de uma estação de metrô no bairro, no ano de 2011, porque isso atrairia “drogados, mendigos, uma gente diferenciada”, o que, à época, gerou como resposta a esse elitismo segregador a conhecida manifestação irônica do “Churrasco da gente diferenciada”.

E o alto índice de feminicídios, de LGBTfobia, de assassinatos de lideranças camponesas, de morte de policiais, de morte de negros e pobres nas periferias, de perseguições e assassinatos de militantes dos direitos humanos, de agressões e mortes causadas por discursos de ódio? Não basta?

É preciso que a rota de naturalização desses horrores seja interrompida, identificando-se e combatendo-se seus sinais mais explícitos de formação, construção e estruturação sistemática da destruição do “outro”, tais como: a) construções do imaginário social que alimentam o medo nas pessoas, impelindo-as a não conviverem com a diferença e a divergência; b) discursos falsos de purificação e santificação do “eu”; c) processos classificadores e caricatos que demonizam o “outro”; d) uso da religião de forma distorcida para aparentar confiança no portador da mensagem e ocultar a intenção de destruir a existência do “outro”; e) capital simbólico dos senhores mercadores do ódio, nas mídias sociais, amplificado por milhares de seguidores; f) narrativas falsas produzidas sem checagem de fontes; g) assassinatos de reputação do “outro”; h) ações coordenadas, nas mídias sociais, por propagadores e robôs, com o intuito de dar ares de normalidade massificadora ao conteúdo produzido, povoando o imaginário social. 

Por isso, torna-se imperiosa a identificação do caminho em que se pavimenta a celebração da morte do “outro”. Não esqueçamos jamais que a tendência do fechamento dicotômico é desumanizar o “outro”; e, desse ponto de partida, é apenas um pequeno pulo para o passo seguinte: validar o extermínio desse “outro”. Não sejamos responsáveis pelo sangue derramado do estouro da artéria do “divergente bom é divergente morto”. A corda do ódio tem que parar de ser esticada, pois a qualquer momento o esgotamento do tecido social cobrará seu preço. E lembremos que qualquer um de nós pode ser cobaia da própria fala e vítima do próprio discurso de ódio. Portanto, embora não seja uma tarefa fácil, vale a pena tentar resgatar a dimensão do “outro” que existe em todos nós, pois, como diz a bela canção “O Outro”, de autoria da compositora e cantora, Camila Barbalho, “Afinal, não somos nós o outro de alguém?”.

Bruno Antonio Barros Santos é defensor Público do Estado do Maranhão.

Ilustração: Justificando

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