Em meio a oceano de desemprego, mídia comemora 2,4 milhões de vagas geradas em 2018. Oculta a precarização da vida: remuneração menor que um salário mínimo, massa de subocupados e aperto para sobreviver até fim de mês
Por Artur Araújo*, em Outras Palavras
Entre os segundos trimestres de 2018 e 2019 foram criadas 2,4 milhões de vagas de empregos no Brasil.
Fato.
Dos empregados nessas vagas, 37,2% trabalham menos do que gostariam e do que precisam para sobreviver com um mínimo de dignidade (os denominados “subocupados”).
Outro fato.
O Brasil está reduzindo o desemprego e, com isso, melhorando de fato a vida das pessoas.
Ilusão.
O rendimento médio dos subocupados foi de R$ 826, menos do que 1 salário mínimo e menos da metade da renda média dos trabalhadores em geral (R$ 2.290).
Dos subocupados, 66% são pretos ou pardos e 54% são mulheres.
Como conta Jaqueline Gomes, 37 anos, mãe de 2 filhos, moradora de Osasco, na Grande São Paulo, diarista, “eu conseguia tirar R$ 2500 por mês [trabalhando todos os dias], hoje consigo fazer R$ 1200, R$ 1300, chorando. E nisso vão R$ 400 só de passagem.”
“Quem trabalha menos do que poderia [e precisa e quer] gera uma renda menor, contribuindo para uma redução do consumo e isso se reflete diretamente sobre a economia local”, diz João Saboia, professor da UFRJ.
Todas as verdades acima constam de reportagem do Valor.
As ilusões são a essência do hipnótico discurso cotidiano de Homer Cado e de seus empregados bem pagos e hiperocupados no governo, no “jornalismo” e entre “especialistas”.
*Administrador hoteleiro, consultor em gestão pública e privada e do Projeto Cresce Brasil, liderado pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE)
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Imagem: Laerte