Por Ricardo Kotscho, em seu Balaio
A melhor imagem da demência que tomou conta do Brasil desde a chegada dos bolsominions ao poder, ao som de uma marcha militar, foi o desfile de um bando de patos amarelos diante da estátua da Havan, em Araçatuba, neste final de semana.
Batendo continência e pisando firme no chão, como se estivessem num quartel do recruta zero, dezenas de aloprados de todas as idades deram um espetáculo grotesco de falta de noção durante um protesto contra o STF em que pediam a cabeça do ministro Gilmar Mendes.
De que toca saiu essa gente estranha, um gado humano perdido no tempo e no espaço?
Acho que nunca a seita macabra do Hospício Brasil tinha chegado a tanto nestes quase 11 meses de destruição do país.
O lugar escolhido foi simbólico, pois Araçatuba é a terra do gado e dos agroboys e agroolds dos latifúndios, onde Jair Bolsonaro obteve uma das maiores votações em São Paulo.
Foi lá que o Véio da Havan, o enlouquecido empresário-simbolo da nova ordem, instalou uma das réplicas bizarras da Estátua da Liberdade diante da sua loja.
Se não fossem tão grotescos, eu diria que eles lembravam as tropas da SS nazista, que ocupou a Alemanha hitlerista, em guerra contra o mundo, na década de 30 do século passado.
“A marcha das loucas soltando as frangas”: esta foi a perfeita definição dada pelo internauta Dias, um dos mais antigos e fiéis comentaristas deste Balaio.
Um dos organizadores da manifestação fascista foi o movimento Nas Ruas, criado pela deputada federal Carla Zambelli, do PSL paulista.
É esse tipo de gente que foi eleita na onda da “nova política” que varreu o país no ano passado, depois de Lula ser impedido de disputar a eleição.
“Essa é pra você, Gilmar Mendes!”, gritava um alucinado no carro de som, dando o tom marcial daquela pantomina.
Devem ter achado bonito, porque eles mesmos divulgaram vídeos nas redes sociais no domingo, que viralizaram como dengue.
Na mesma hora, outro bando similar, com o mesmo objetivo, se concentrava em frente à Fiesp do Paulo Skaf, o criador dos patos amarelos, para marchar pela avenida Paulista.
Mas eram tão poucos que nem saíram do lugar.
Enquanto isso, no Recife, desde o meio dia, uma multidão se concentrava diante do palanque do Lula Livre, onde mais de 50 artistas celebravam a libertação do ex-presidente,
Claro que os canais de notícias ignoraram solenemente uma das maiores manifestações populares dos últimos tempos, mas tive a sorte de assistir tudo ao vivo pela TVT, o canal dos trabalhadores no Youtube. Foram oito horas de festa, sem parar.
Mais de 200 mil pernambucanos acorreram ao centro velho da cidade num show emocionante, onde repentistas contaram a saga de Lula, que falou apenas 20 minutos, para aproveitar melhor a homenagem dos artistas pernambucanos.
Araçatuba e Recife fazem parte do mesmo país, mas as imagens mostraram dois povos bem diferentes _ um, miscigenado, na maior alegria, cantando e dançando; outro, da elite branca, o retrato da nostalgia militarista de chanchada.
Só vendo para acreditar no que estou dizendo.
Vida que segue.