Três estelionatos de informação e uma guerra particular
por Ângela Carrato*, especial para o Viomundo
Por dever de ofício, acompanho diariamente o noticiário nacional e internacional através dos principais jornais, emissoras de rádio, televisão, sites e blogs brasileiros.
As últimas duas semanas, desde a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão, por decisão do STF, têm sido particularmente interessantes para quem se debruça sobre a mídia a fim de compreender os processos através dos quais ela atua e não apenas, como tradicionalmente se faz, para estar informado.
Esse mergulho no noticiário – incluindo colunas de opinião – possibilitou que chegasse a conclusões que podem contribuir para esclarecer o que se passa e se passou no país recentemente.
Antes que alguém se arvore em dizer que duas semanas não é tempo suficiente, lembro que a célebre pesquisa sobre jornalismo comparado, “Uma semana no mundo”, realizada com o apoio da Unesco em meados dos anos 1970, cobriu apenas sete dias.
E ainda hoje é citada como referência em quase todos os cursos de Jornalismo/Comunicação do Brasil e do exterior.
A pesquisa apoiada pela Unesco trouxe como resultado a distorção existente no noticiário internacional.
Distorção que acabou dando origem a uma atuação maior da Unesco, que foi a decisão de convocar a elaboração de um amplo diagnóstico sobre a mídia no mundo.
Esse diagnóstico, que recebeu o nome de Relatório MacBride, também conhecido como “Um Mundo e Muitas Vozes”, foi publicado por uma comissão presidida pelo irlandês Séan MacBride, vencedor do prêmio Nobel da Paz.
Relatório que está publicado no Brasil, pela editora da Fundação Getúlio Vargas e cuja leitura aconselho a todos que se interessam por temas ligados à mídia e ao seu funcionamento.
Mas voltemos ao nosso assunto. Ao observar os fatos noticiados – e também os silenciados – nas duas últimas semanas e seguindo metodologia semelhante é possível afirmar que a maior parte da mídia brasileira cometeu estelionato de informação.
Os estelionatos podem ser agrupados em três assuntos: 1. Economia, 2. Bolívia, 3. Caso Marielle.
Já a guerra particular, se refere à perseguição da TV Globo, de propriedade da família Marinho, ao ex-presidente Lula.
Vamos aos fatos.
PRIMEIRO ESTELIONATO DE INFORMAÇÃO
Um dos motivos para o golpe, travestido de impeachment em 2016, contra a presidente Dilma Rousseff, foi a divulgação maciça, pela mídia, de que a economia brasileira ia mal.
Diariamente a mídia insistia nessa tecla, apontando a alta do dólar, então em R$2,70, o desemprego, em torno de 6,% e o “baixíssimo” crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em 3,0%, o chamado “pibinho”, como indicadores disso.
Uma vez consumado o golpe, a mídia brasileira, com as exceções de praxe, saldou o governo Temer como aquele que teria condição de “restabelecer a confiança na economia” e possibilitar “o ingresso de capitais internacionais”.
Em síntese, como essa mídia dizia, fazer o Brasil “voltar a crescer”.
Dois anos de governo Temer se passaram e o primeiro ano do governo Bolsonaro já está chegando ao fim e nada de retomada do crescimento.
Ao contrário. A economia brasileira afunda a uma velocidade que apavora a quem tem um mínimo de discernimento. E o que noticia a mídia? Nada. Absolutamente nada.
Temas econômicos sumiram dos jornais e dos noticiários de rádio e de televisão.
A mídia impressa não publicou nenhuma manchete dando conta que o dólar bateu todos os recordes de alta, chegando a R$ 4,20 no meio da semana e se mantém nesse patamar.
Não noticia que a fuga de capitais também está batendo recorde, o que indica que os investidores internacionais não se sentem seguros para apostar no Brasil.
Some-se a isso que essa mesma mídia cita, apenas en passant, os altíssimos índices de desemprego, na casa dos 12% da população e não faz nenhuma relação entre isso e o crescimento pífio do PIB brasileiro nos últimos três anos: menos de 1%.
Desapareceram dos noticiários da televisão brasileira pessoas indignadas com a alta do dólar e com a elevação do preço da gasolina e do gás.
É importante lembrar que nos tempos do governo Dilma, o dólar estava em E$ 2,70, o litro de gasolina em R$ 2,30 e o bujão de gás em R$ 35,00.
Quatro anos depois, o bujão de gás custa R$ 85,00 e o litro de gasolina encosta em R$ 5,00.
A tentativa de livrar a cara dos governos Temer e Bolsonaro é tamanha que, na segunda-feira, dia 18/11, em sua coluna no jornal da rádio CBN, Primeira Edição, o comentarista de Economia, Carlos Alberto Sardenberg, chegou a provocar até ironia entre seus colegas, ao afirmar que o dólar tinha tido uma ligeira baixa: de R$ 4,20 para R$ 4,18.
Como se isso não bastasse, tentando minimizar a gravidade da situação, garantiu, para os seus respeitáveis ouvintes, que não há risco de insolvência para a economia brasileira, porque ela possui uma âncora forte: as reservas cambiais.
Reservas que, segundo ele, foram acumuladas no tempo em que Henrique Meirelles era o presidente do Banco Central.
Detalhe: a informação omitida do respeitável público é que o presidente do Brasil na época era Lula.
Vale dizer: se o Brasil não quebrou ainda, deve-se a Lula.
SEGUNDO ESTELIONATO DE INFORMAÇÃO
O golpe cívico-militar-evangélico que derrubou o presidente Evo Morales, na Bolívia, está sendo coberto pela mídia brasileira como se tivesse acontecido do outro lado do planeta e não guardasse qualquer relação com o Brasil e com a atual política externa brasileira, de submissão aos Estados Unidos.
Com exceção de blogs, sites e portais progressistas, o que está sendo divulgado sobre a Bolívia mais confunde do que esclarece sobre o que realmente aconteceu lá.
E ao confundir, evita que se estabeleçam naturais comparações entre o perfil do golpe lá e o acontecido aqui.
Comparações que saltam aos olhos quando se pensa na ausência de crime eleitoral por parte de Evo Morales, na participação direta dos setores de inteligência dos Estados Unidos na sua deposição, inclusive comprando militares, na presença de fake news e na atuação de religiões neopentecostais.
Nesse sentido, vale a pena a leitura de um livro do início dos anos 1980, do jornalista Delcio Monteiro de Lima, “Os Demônios descem do Norte”.
Nele, o autor analisa e quase profetiza sobre o papel das seitas fundamentalistas, que atuavam não só em áreas indígenas, mas também em comunidades carentes no Brasil e na América Latina.
Sobre o golpe na Bolívia é importante destacar ainda que a mídia brasileira “passou pano” para o lamentável papel do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), nesse episódio.
Luis Almagro, ex-chanceler de José Mujica no Uruguai e agora expulso do partido de Mujica por ligações com a CIA, estava encarregado de fazer um relatório sobre possíveis irregularidades no pleito que deu a quarta vitória eleitoral a Evo.
Almagro fez um relatório preliminar marcado por falsidades e, antes de submetê-lo à apreciação do plenário da OEA, o divulgou.
Até o momento, a OEA se mantém calada sobre o assunto, especialmente depois que o Center for Economic and Policy Research, com sede em Washington, provou que, estatisticamente, o relatório de Almagro está errado.
Do relatório de Almagro partiu a “munição” que os golpistas bolivianos precisavam para confundir a opinião pública e exigir a renúncia de Evo.
Renúncia que não foi reconhecida até agora pelo Congresso Nacional Boliviano, onde o MAS, partido de Evo, tem maioria nas duas Casas.
O próprio Evo tem relatado, a partir do México, onde está exilado, que sua renúncia na realidade foi uma imposição, pois estava ameaçado de morte e tinha a cabeça a prêmio.
Não seria o caso da mídia brasileira enviar jornalistas à Bolívia para acompanhar, in loco, o que se passa no país vizinho?
Não seria o caso da mídia brasileira investigar a possível participação de integrantes do governo brasileiro nesse golpe?
Aliás, um dos golpistas, o líder de extrema-direita Luiz Fernando Camacho, “El Macho”, foi recebido, semanas antes, no Itamaraty, pelo chanceler Ernesto Araújo.
Os laços do Brasil com o golpismo na Bolívia ficam mais destacados ainda, não na imprensa brasileira, mas no jornal boliviano El Periódico.
O que a mídia brasileira tem feito, aliás, é em sentido oposto.
Trata os golpistas bolivianos com quase reverência, como se já fossem o governo, não mostra que o país está em guerra civil, com quase 30 mortos e milhares de feridos, especialmente entre a população indígena e os mais pobres.
A mídia brasileira, sempre que possível, criminaliza os apoiadores de Evo Morales pelo “bloqueio de rodovias e pela falta de alimentos que começa a acontecer nas principais cidades”.
Onde há guerra civil é sinal de que há resistência, mas isso não é dito. Sequer insinuado.
Pior ainda: a mídia brasileira tenta amenizar a situação com falas da senadora golpista, Jeanine Añez, que assumiu o poder dizendo que “em breve” serão convocadas eleições, enquanto na prática, recrudesce a repressão contra a população – e não apenas contra os partidários de Evo Morales.
Em momento algum a mídia brasileira destacou o fato de a deposição de Evo acontecer num momento em que a economia boliviana estava indo extremamente bem.
Era a que mais crescia na América do Sul, em torno de 5% ao ano.
A mídia brasileira também não faz menção aos interesses estrangeiros por trás do golpe: a cobiça sobre o lítio e o gás bolivianos, assuntos, aliás, que povoam a mídia internacional nos últimos dias, a começar pelo jornal inglês The Guardian.
Mas o supremo ridículo aconteceu na edição do Jornal Hoje, da quarta-feira, dia 20/11 e depois, à noite, no Jornal Nacional, ambos da TV Globo.
Na hora do almoço, o Jornal Hoje reuniu em um mesmo bloco de notícias a situação na Bolívia, em Hong Kong e os nos conflitos de Israel com a Palestina.
Além de situações muito diferentes, a impressão que passa para o respeitável público é aquela de que “o Brasil é uma ilha de paz em meio a um mundo revolto”.
Isso faz o caro leitor se lembrar de alguma coisa? Era também como “uma ilha de paz” que o então ditador Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) se referia ao Brasil naqueles tempos.
Só que naqueles tempos estava acontecendo, em meio a toda “aquela paz”, as piores torturas de que se tem notícia nos porões da repressão.
Quanto ao Jornal Nacional, ao invés de se aprofundar minimamente nos acontecimentos da Bolívia, preferiu criar um “momento fofo”, em que um sorridente Wiliam Bonner dá notícias do estado de saúde de um coala que havia sido resgatado de um incêndio florestal na Austrália e que agora se recupera num hospital.
Nunca vi de perto um coala, mas considero esse bichinho muito simpático e, claro, jamais deveria ter sido queimado.
Mas não seria o caso do JN também contar as história dramáticas dos bolivianos e das bolivianas que estão sendo mortos pelos golpistas a pauladas, com tiros na nuca e demais requintes de crueldade?
TERCEIRO ESTELIONATO DE INFORMAÇÃO
Há 618 dias, as investigações envolvendo o assassinato da vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes, andam a passos de tartaruga.
Duas pessoas foram presas por serem apontadas como executores do crime.
Mas a principal pergunta – quem mandou matar Marielle – continua sem resposta.
O ex- ministro da Segurança Pública do governo Temer, Raul Jungmann, disse e confirmou, em recente entrevista ao site de notícias estadunidense HuffPost e para podcast da Folha de S. Paulo, que as investigações não evoluíam por envolver “gente muito poderosa”.
Não seria o caso de a mídia brasileira lançar-se nessa linha de investigação?
Marielle tinha adversários e inimigos políticos?
O que pode ter motivado sua execução?
A título de exemplo, sabe-se que ela iria disputar o Senado pelo Rio de Janeiro nas eleições de 2018 e que sua candidatura liderava todas as pesquisas de intenção de voto.
Na última quarta-feira, (20/11), enquanto o JN voltava a “passar pano” para o presidente Jair Bolsonaro, ao frisar que o porteiro do condomínio na Barra da Tijuca, onde tem residência, voltou atrás e disse ter se confundido no depoimento anterior, quando se referiu à “casa número 58” e ao “seu Jair”, o comentarista da rádio CBN, também do Grupo Globo, Kennedy Alencar, informava aos ouvintes que a Politica Civil do Rio de Janeiro trabalha com a tese de participação de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, na morte de Marielle.
Por que o Jornal Nacional não reuniu as duas informações? Tempo hábil para tanto havia, pois o comentário de Kennedy aconteceu em torno das 18h30.
Esse episódio lembra outro, acontecido nos idos de 1954, que entrou para a história política brasileira como “mar de lama”.
Só que em 1954, a mídia brasileira não cruzou os braços como agora. Ela foi fundo na investigação do suposto elo entre a tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda, adversário político e desafeto declarado do então presidente Getúlio Vargas.
Apesar de o inquérito sobre o assunto ser dos mais truncados, tendo ficado a cargo da Aeronáutica, dando origem ao termo “República do Galeão”, a mídia daquela época não chegou a nenhum indício de participação de familiares de Getúlio ou mesmo dele, mas um membro da guarda-presidencial, Gregório Fortunato, foi processado e preso como responsável pelo crime.
O incidente acabou contribuindo para o suicídio de Getúlio em 1954.
Naquela época, a mídia brasileira tinha um objetivo e não abria mão dele: derrubar o governo nacionalista e progressista de Vargas.
Ao que tudo indica, a mídia brasileira hoje tem outro objetivo (que será tratado no próximo item), mas o morde e assopra da TV Globo em relação a Bolsonaro possui endereço certo: negociação.
Afinal, não foi Bolsonaro e depois, seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, que disseram que a concessão da TV Globo não será renovada e que a emissora “já era”?
Nada melhor do que pressionar para viabilizar uma possível negociação.
UMA GUERRA PARTICULAR
Mesmo tendo sido a emissora de televisão que mais publicidade oficial recebeu nos governos Lula e jamais merecido comentário minimamente semelhante ao que fez Bolsonaro sobre a TV Globo, a família Marinho não gosta do ex-presidente.
Na realidade nunca gostou, como atesta o noticiário enviesado que sempre praticou em relação ao PT e ao seu candidato, nas diversas eleições presidenciais que Lula disputou e perdeu, até ser vitorioso em 2002.
O exemplo que já se tornou clássico é a edição do último debate entre os então candidatos Fernando Collor de Mello e Lula, em 1989, na primeira eleição direta depois de 21 anos de ditadura.
A TV Globo levou ao ar, editado, os melhores momentos de Collor e os piores de Lula, o que contribuiu em muito para a derrota do petista.
A cobertura igualmente enviesada que a Globo fez do Mensalão Petista, ao mesmo tempo em que abafava o Mensalão Tucano, anterior e muito mais grave, indica que, já nos primeiros anos de governo Lula, a família Marinho não media esforços para inviabilizar a sua administração.
Apesar do tsunami político que foi o Mensalão, Lula sobreviveu e ainda conseguiu se reeleger em 2006.
Fato jamais engolido pela família Marinho, que passou a desconstruir os programas sociais e a política externa brasileira, dois pilares do governo Lula.
Os alvos eram a expansão de programas como Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada e os ligados à Agricultura Familiar.
Sobre eles, os Marinho se insurgiram com fúria só comparada a que devotaram contra a política externa independente, a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e a participação do Brasil nos BRICS.
Absurdo maior ainda, aos olhos da família Marinho, a julgar pela cobertura que a primeira campanha de Dilma mereceu, foi Lula indicar uma candidata sem atuação política para a sua sucessão. E elegê-la.
Em 2014, a família Marinho também tinha candidato. Era o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e, dessa vez, não estava disposta a perder. O desenrolar da história é conhecido.
O que chama atenção nos últimos dois anos é que a família Marinho elevou Lula, da condição de adversário à de inimigo.
Como já foi demonstrado em outros artigos publicados pelo Viomundo, o Jornal Nacional funcionou como uma espécie de porta-voz da Operação Lava Jato, cujo objetivo maior, o grande troféu, foi a condenação, sem provas, e a prisão de Lula, tirando-o das eleições de 2018 e abrindo espaço para a vitória de Bolsonaro.
Os veículos do grupo Globo, como de resto toda a imprensa corporativa brasileira – exceção para o jornal Folha de S. Paulo – nunca se interessaram em entrevistar Lula durante os seus 580 dias de cativeiro.
Isso, ao contrário da mídia internacional, que fazia fila para ouvir o ex-presidente e rapidamente passou a se referir a ele como “preso político”.
Depois de todo tipo de protelamento e de law fair explícito denunciado não só pelos advogados de Lula, mas por juristas dos mais diversos países, inclusive centenas de brasileiros, o STF finalmente julgou a constitucionalidade da prisão em Segunda Instância e concluiu pelo óbvio: ela é inconstitucional e deve prevalecer a presunção de inocência até que todos os recursos sejam esgotados.
Essa presunção, aliás, é uma das cláusulas pétreas da Constituição brasileira.
Lula finalmente está solto e pode aguardar o resultado dos recursos que sua defesa impetrou em liberdade.
Mas a família Marinho não aceita a decisão do STF e, há duas semanas, tem jogado todo o seu peso numa espécie de emparedamento à Corte Suprema.
Os veículos do Grupo Globo desencadearam uma verdadeira campanha para que o Congresso Nacional aprove, o mais rápido possível, qualquer mecanismo que possibilite, mesmo que em flagrante desrespeito à Constituição, recolocar Lula na cadeia.
A título de coerência, os parlamentares que estão – de boa ou má fé – embarcando nessa campanha, poderiam dar o nome de “Lula Preso” a esses projetos, porque o alvo é um só.
Não é papel da mídia soltar ou prender quem quer que seja.
Não é igualmente papel da mídia, especialmente rádio e televisão, que são concessões públicas, silenciar quem quer que seja, como a Globo fez com Lula durante o período em que esteve preso. E continua fazendo com ele solto.
Daí Lula, com razão, ter elegido a Globo e a família Marinho como alvos a serem combatidos na luta em prol da retomada da democracia no Brasil.
Detalhe: Lula, nos discursos que fez em São Bernardo e depois em, Recife, não criticou a mídia brasileira como um todo, mas a TV Globo.
E ele tem razão. Numa eventual regulação democrática da mídia brasileira, a exemplo da que existe nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e até na Argentina – que mais cedo ou mais tarde acontecerá também aqui – quem vai ter que se adequar às novas regras é apenas o Grupo Globo e a TV Globo, da família Marinho, por constituir-se em um monopólio de audiência e em função de propriedade cruzada.
As demais empresas não enfrentarão problema nesse aspecto.
Lula mirou na família Marinho e ela acusou a pancada.
Essa guerra está longe de acabar e dependerá muito da independência que o STF conseguir manter.
Caso contrário, a TV Globo, de uma concessão pública, vai se transformar em espaço para a defesa de interesses de seus proprietários.
Em suma, a consolidação de um estado dentro do Estado.
*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).