A corrida do ouro e o risco de genocídio contra os yanomami

Por Marques Cesara, Brasil de Fato

As áreas yanomami estão pintadas com as cores da guerra. Relatos de representantes indígenas falam em 25 mil garimpeiros na região. O garimpo ilegal é uma atividade extremamente danosa às pessoas e ao meio ambiente.

Os garimpeiros estão armados e empoderados.

O mercúrio usado para separar o ouro corre pelas veias da Amazônia. A Fiocruz fala em até 92,3% de contaminação por mercúrio nas aldeias mais expostas, às margens do Uraricoera, o rio mais extenso de Roraima, com 870 quilômetros.

O mercúrio que contamina o ambiente causa uma série de doenças graves. Pode ocorrer perda da coordenação e dificuldade para enxergar. Na selva, um índio com problema de coordenação e dificuldade para enxergar está condenado à morte.

Os garimpeiros estão empoderados pelo apoio do governo brasileiro. Em outubro, Bolsonaro disse que “os garimpeiros merecem toda a consideração”. A frase seria perfeita se não estivesse falando de uma atividade criminosa.

Nas terras yanomami, o garimpo ilegal é um crime contra a humanidade. Derruba a floresta, contaminam os rios, mata os índios e os animais.

Os garimpeiros, depois de depredar uma área, se mudam. Deixam terra arrasada, índias estupradas, crianças contaminadas, rios poluídos pelo mercúrio. Os indígenas que ficam, doentes, pagam a conta. A humanidade paga a conta.

A infantaria de selva atua para minimizar o problema. Mas falta dinheiro, equipamento, planejamento e apoio do chefe. Funai, Exército e Polícia Federal deveriam estar à frente de ações de proteção e garantia de direitos, mas nada acontece.

No domingo passado, dia 8, a Ministério da Defesa negou aviões da FAB para a Comissão de Meio Ambiente da Câmara inspecionar o desmatamento da Amazônia. Isso é sintomático.

Em uma das poucas operações realizadas, a PF prendeu, na semana passada, pessoas que movimentaram mais de uma tonelada de ouro ilegal. É uma gota no oceano de problemas. A estimativa é de 20 toneladas ilegais por ano, cerca de R$ 3 bilhões. 

A cadeia produtiva do ouro

Na década de 1980, 20% da população yanomami foi dizimada por doenças levadas por garimpeiros.

Os anos 1990 são lembrados por tiroteios, massacres e muita pressão internacional. Os anos 2000 chegaram com uma constatação: quem banca o garimpo ilegal não está na Amazônia, mas por trás dos biombos da indústria de joias, de tecnologia e de equipamentos de precisão, que usam o ouro da Amazônia.

Os vilões estão fora da Amazônia e até o momento não foram incomodados. É preciso investigar a cadeia produtiva do ouro e responsabilizar os financiadores dos crimes que hoje ocorrem nas terras yanomami.

Hoje, o risco de novos massacres é alto. O governo lava as mãos. As ONGs são atacadas e pouco conseguem mobilizar. A pressão internacional é tímida. Todos os ingredientes para uma tragédia estão na mesa.

Edição: Rodrigo Chagas.

Imagem: Vista aérea de garimpos ilegais na TI Yanomami, próximo à comunidade Ye’kwana, região Waikás. Foto: Rogério Assis – ISA

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