A fortaleza vem do coletivo. Por Elaine Tavares

No Palavras Insurgentes

Esse é um tempo de solidão, de desespero, de nojo. E isso não é um problema pessoal, que atinge um ou outro. É um drama social. Li outro dia o belo trabalho do nosso companheiro, agora jornalista, Pedro Cruz, seu texto de final do curso de Jornalismo. Nele, Pedro narra a dor psicológica de alguns estudantes nos seus dramas aparentemente singulares. Cada história vai descortinando sofrimentos psicológicos, mentais e espirituais que não são exclusivos da vida pessoal. Eles se forjam no embate com o público, com a vida na sua concretude, nas relações desconstruídas, sem tecimento, provocadas por essa maneira absurda de organizar a vida que nos é imposta pelo capitalismo.

Daí o sofrimento de uma juventude de classe baixa ou média sem horizontes, sem objetivos de longo prazo, sem ilusões, sem propostas. A vida se lhes aparece como uma sucessão de dias que são cumpridos automaticamente, no torvelinho das redes sociais, dos relacionamentos sem estofo, do emprego precário ou da tragédia diária vivida nas comunidades empobrecidas, de miséria e morte.

Esse é um tempo de solidão, no qual as pessoas deixam de falar umas com as outras: mandam mensagens por uatizape, mensagens que não permitem interação. Não há afeto, abraços, beijinhos, afagos. Não há horas de completo ócio, com as pernas pra cima, pensando na revolução. As pessoas esqueceram que a revolução é possível. Estão domesticadas num sistema que lhes mente o tempo todo sobre felicidades vãs, inalcançáveis.

E a solidão vai ficando tão grande que as pessoas já não acreditam mais na força da amizade, do amor. Não se permitem se deixar acolher, abraçar, ficar. Pensam que seus dramas são pessoais e que só a elas cabe resolver. Esse círculo louco vai fazendo com que o que sofre fique sozinho, e os demais não se importem com a dor do outro. O circuito da solidão existencial. E é aí que aparecem as igrejas oportunistas, puxando esses tristes seres do vazio, dando-lhes comunidade, pertencimento, mas ao mesmo tempo fortalecendo ainda mais o cerco do capital, na medida em que oferecem a promessa dos bens materiais como isca. Isso não é por acaso.

Ontem eu perdi um amigo. Ele se recusou a responder as mensagens, os telefonemas, os correios. Ele estava longe. Ele estava só. Acuado na sua dor. Ele foi embora pensando que os problemas dele eram só dele. Não eram. Eram meus, eram nossos, eram de todos os brasileiros fodidos, de todos os seres humanos submetidos à moenda do sistema capitalista que tudo destrói.

É preciso que nos recusemos a isso. O sofrimento de um dos nossos companheiros é o sofrimento de todos. E só tem um jeito de mudar esse mundo sombrio: transformá-lo. É tempo de revolucionar, mudar, revolver, virar patas arriba. O mundo precisa ser solidário, amoroso, cooperativo. Só que isso não vai acontecer no privado, no particular, no nosso movimento particularista, ou apenas no nosso grupo de amigos. Precisa ser geral, para a classe trabalhadora, para os oprimidos. E para isso, só a revolução mesmo. A revolução brasileira. A mudança total das coisas. Um mundo no qual as pessoas possam viver sem medo, amparadas socialmente, criando belezas. O mundo do comum.

Não quero prantear corpos vencidos pelo sofrimento. Quero a alegria compartilhada. E te convido. Quando esse sistema for destruído, as coisas vão mudar. Para todas as pessoas. Temos que decidir por isso. Basta!

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

5 × cinco =