Hortas urbanas garantem alimentação saudável e ocupam espaços ociosos das cidades

Conheça experiências de agricultura no Recife e em Petrolina

Vanessa Gonzaga, Brasil de Fato

Até 2025, 80% da população mundial estará vivendo em centros urbanos de países em desenvolvimento, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Com a superpopulação das cidades, experiências no sentido de garantir qualidade de vida e ocupar espaços ociosos nos bairros com a implementação de hortas comunitárias têm mostrado bons resultados. A agricultura urbana vem ganhando terreno num cenário de crescimento do uso de agrotóxicos no Brasil, além das denúncias feitas com base em pesquisas que relacionam o uso de veneno na alimentação à diversas doenças crônicas e congênitas.

As hortas urbanas proporcionam o fortalecimento da vida comunitária, o aproveitamento de áreas urbanas até então inutilizadas, como terrenos e canteiros vazios e proporciona o debate sobre segurança alimentar e acesso à alimentação saudável com preços competitivos em relação à agricultura convencional, já que partem da premissa de não utilizar agrotóxicos e transgênicos e estão em lugares de fácil acesso nas cidades.

Hortas Urbanas em Recife

Palha de Arroz

Nos últimos anos, o Recife vem se tornando um polo de experiências de hortas urbanas, além das feiras agroecológicas e de outros espaços de valorização da agroecologia e da agricultura familiar. No Canal do Arruda, onde se localiza a comunidade de Palha de Arroz, a experiência de produzir alimentos é também uma forma de garantir renda para as famílias lideradas pelas mulheres que protagonizam a luta comunitária do local. As “Mulheres guerreiras de Palha de Arroz”, assim auto intituladas, mostram que o nome é merecido diante das dificuldades, e principalmente das vitórias. Na disputa pela terra, água e agrobiodiversidade, cerca de 30 mulheres organizam e cuidam da horta, que tem diversidade de plantas medicinais, ornamentais, hortaliças e alimentos como macaxeira e milho crioulo.

Casa Amarela

Já no bairro de Casa Amarela, a iniciativa da horta também surgiu a partir da iniciativa dos moradores, que viram num terreno com restos de concreto e material de construção a oportunidade de reunir a comunidade em torno de um objetivo comum: fazer um espaço de convivência coletivo, gratuito e com área verde. O Projeto Casa Amarela Sustentável trabalhou em mutirões para que os tijolos, cascalho e cimento dessem lugar a mamoeiros, pés de alface, manjericão, boldo e diversas variedades de hortaliças e plantas ornamentais. O local também tem bibliotecas acopladas, para incentivar o hábito da leitura em crianças e adultos, além de um bicicletário, tornando a área segura e acolhedora para os ciclistas. A horta fica na Rua Professor Souto Maior, tendo como ponto de referência o Pé de Canteiro de Praia, como os moradores chamam o local.

Linha do Tiro

No bairro da Linha do Tiro, os moradores do Conjunto Habitacional Naná Vasconcelos tiveram o apoio da Secretaria de Saneamento do Recife na implementação da horta no local, construída com garrafas PET, madeira e telas. O espaço, além de educar a comunidade sobre o uso e a eficiência de plantas medicinais, também ensina as crianças a cuidar das plantas e aprender sobre alimentação saudável. O incremento para garantir a fertilidade da terra veio com a iniciativa de coletar e reciclar o lixo orgânico das casa do bairro, produzindo um fertilizante natural para horta. No espaço também já aconteceram oficinas de alimentação saudável, para ensinar como utilizar cascas, caroços e talos e alimentos, aproveitando ao máximos as frutas e verduras produzidas no local. A horta da Linha do Tiro fica na Rua Guarajá, 72-140, Linha do Tiro.

Para quem não sabe onde fica a horta mais próxima da sua casa, uma iniciativa de estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Esuda pode facilitar o acesso a alimentos frescos. O aplicativo REplant está disponível gratuitamente para celulares android e mapeia jardins e hortas comunitárias, dá dicas de cultivo e possibilita a venda e troca de mudas. Pelo app, é possível se comunicar diretamente com o produtor, para saber quais os alimentos cultivados, horários e formas de pagamento ou trocas. O aplicativo é gratuito e já conta com mais de 20 pontos cadastrados no Recife.

Hortas Urbanas em Petrolina

Areia Branca

De acordo com um levantamento feito pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, existem 19 hortas urbanas na cidade de Petrolina. Uma das principais, que funciona desde a década de 1980, fica no bairro Areia Branca, no terreno da Escola de Referência em Ensino Médio Otácilio Nunes de Souza. Com apenas 0,5 hectares, a horta tem pés de cebolinha, alface, coentro, manjericão, beterraba, espinafre, além de frutas e plantas medicinais. Sem apoio de órgãos governamentais, a horta consegue funcionar o ano inteiro, mesmo nos períodos de estiagem no Semiárido, com alimentos frescos e livres de veneno. A horta fica na Rua dos Jasmins, 567, Areia Branca, Petrolina.

José e Maria

É também num terreno cedido que funciona a Horta da Escola Estadual Antônio Padilha. Com mais de 20 anos de existência, as 11 famílias envolvidas no cuidado da horta plantam hortaliças como alface e cebolinha, além de uma grande variedade de plantas medicinais e aromáticas, como capim-santo, alecrim, malva, manjericão e arruda. A horta fica no terreno da escola, localizado na Av. Francisco Coelho Amorim, na altura no nº 201, José e Maria, Petrolina.

João de Deus

Na zona norte da cidade de Petrolina, o bairro João de Deus conta com duas hortas comunitárias. Com um histórico de violência, as iniciativas de incentivo à cultura, educação e lazer, como a das hortas, que foram criadas em 1994, ajudaram a diminuir os índices no local. As duas hortas cultivam principalmente hortaliças como couve, coentro, alface e cebolinha e também plantas medicinais. Uma fica na Av. Teresinha Campos, S/N, tendo o CRAS do bairro como ponto de referência e a outra no Centro Paroquial, na Rua 34.

Edição: Monyse Ravenna

Imagem: As hortas urbanas proporcionam o fortalecimento da vida comunitária e o aproveitamento de áreas urbanas até então inutilizadas / Reprodução

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