Diretor da Outdoormídia explica como foi a contratação de outdoor da Lava Jato

Halisson Pontarolla diz que todo o procedimento do espaço foi registrado por e-mail e que é uma praxe do mercado a venda não presencial

Por Diogo da Silva, Agência Pública

O diretor-superintendente da Outdoormídia, Halisson Pontarolla, recebeu a reportagem da Agência Pública para uma entrevista a respeito da contratação do outdoor comemorando os 5 anos da Operação Lava Jato. A autoria do outdoor está sob investigação do Conselho Nacional do Ministério Público e por meio de uma Ação Popular — o documento de autorização traz o nome de João Carlos Queiroz Barbosa, um músico gospel que nega ter assinado o contrato.

Na entrevista a seguir, Pontarolla explica que as tratativas foram feitas por email e o pagamento foi a vista. Leia a íntegra.

O suposto contratante João Carlos Queiroz Barbosa afirma que seus dados foram usados de maneira indevida no documento: “Autorização de Veiculação”, apresentado pela Outdoormídia dentro do inquérito do STF, e fez um Boletim de Ocorrência por fraude. Qual a posição da empresa sobre este fato?

A contratação foi feita. Como é que procede? Por não se tratar de uma campanha – é um outdoor só –, a pessoa liga pra cá, se identifica e pede um orçamento. Tudo isso foi narrado e arrolado nos autos lá na Polícia, com os e-mails, ok?

Uma pessoa ligou para cá com essa identificação [de João Carlos Queiroz Barbosa], e com esses dados foi atendida por uma pessoa do nosso comercial, como um cliente qualquer, ok? Sou fulano e quero isso. Houve uma tratativa por e-mail. O nosso comercial agiu como sempre age. “Ok? Vou mandar para o senhor a disponibilidade de espaço”. Atendeu, mandou a disponibilidade de espaço. A pessoa devolveu. “Eu quero comprar aquele espaço que está no Aeroporto”. Nossa devolutiva pra ele está toda narrada nos e-mails que está lá na Polícia Federal. Esse valor custa tanto. O que o senhor vai veicular? “Vou veicular esse outdoor da Lava Jato”. Nosso procedimento protocolar: manda o layout para a gente avaliar. Porque não podemos veicular nada que tenha alusão a bebida, cigarro e atentado ao pudor. Feita a avaliação, diga-se de passagem que, o veículo publicitário – o senhor que é jornalista sabe disso –, ele não é responsável pelo conteúdo daquilo que é veiculado, ok? Então, se no seu jornal uma pessoa quiser fazer uma veiculação vendendo planta, ela pode. Se ela quiser fazer uma veiculação dizendo que eu sou inidôneo ela pode, certo? O senhor não é responsável por esse conteúdo.

Tem algo muito importante. Como ele não é um cliente da nossa casa, nós não o conhecemos – a tratativa foi por telefone e por e-mail –, emite-se um pedido de inserção – como é no seu veículo de comunicação. Isso foi mandado por e-mail para ele; ele assinou o documento e devolveu por e-mail para nós, documento esse que também está de posse da Polícia Federal. Feito isso, o segundo passo é: “Nós não o conhecemos, não sabemos sobre sua idoneidade. Como é um outdoor só, o senhor tem que fazer um pagamento antecipado, ok?” Gerou-se um boleto, tudo isso com os dados que esta pessoa nos forneceu. Em tratativas que eram por e-mail e por WhatsApp. Como ele não é um cliente, não existe isso de ele vir até aqui e nós irmos até ele. Ele não é um cliente, é uma pessoa que compra avulso. Emitiu-se um boleto. Essa pessoa pagou o boleto… pagou o boleto, depois a reserva foi concluída. Tratativa por e-mail: Reserva concluída porque você pagou o boleto. O material foi para a gráfica e foi para a veiculação. Então, a Outdoormídia é uma empresa que está aqui há mais de 60 anos, começou com meu avô, uma empresa idônea, uma empresa correta, que é um terceiro de boa fé. Não entendi exatamente… Assim, esta pessoa, esse João, não veio até aqui. Nós não o conhecemos, não falamos. Mas à medida que a empresa, em seu protocolo de compliance, tem uma tratativa por e-mail fornecido por esta pessoa, dados fornecidos por essa pessoa, eu não vou imaginar que o Antônio das Couves… Não existe isso! Emito um boleto, a pessoa paga o boleto: ele obedeceu os trâmites protocolares que nós temos. Feito isso, a veiculação acontece, acabou.

Após a veiculação ter acontecido, quando fomos procurados pela prefeitura do Município de São José dos Pinhais, onde está o Painel, e também daí – já tinha dado algum problema – pela Polícia, a nossa atendente comercial, nossa executiva comercial procurou ele no e-mail no dia 29 de março (2019) e diz pra ele: “João, nós fomos notificados pela Prefeitura de São José dos Pinhais para retirada de veiculação do posterside. A Polícia Federal nos ligou para solicitar dados de quem fez, de quem surgiu o interesse para tal veiculação, mas reforço que não somos responsáveis pelo material que está sendo veiculado, por isso deixamos a seu critério a retirada antecipada”. “OK, Kátia. Autorizo a retirada”, foi a resposta. Toda comunicação foi feita no e-mail que ele nos forneceu. É o e-mail [email protected]. Tudo isso foi feito. Está tudo na Polícia Federal.

Agora imagine você sendo uma empresa que vende mídia? Que vende parafuso, que vende copo. Uma pessoa quer comprar copo de você, se identifica, faz a tratativa, o pagamento. Como você vai imaginar que isso…

Quer dizer que uma pessoa pode fazer tudo isso sem aparecer aqui na Outdoormídia? Ela pode contratar um outdoor ser estar aqui presencialmente?

Nos tempos de hoje pode. Aqui e em qualquer veículo de comunicação do Brasil. No seu jornal, na Folha de São Paulo. Em qualquer veículo de comunicação. Isso é praxe. Isso não é anormal. A pessoa não precisa estar fisicamente lá. O que me causa total estranheza, dessa insistência que, me desculpe, chega a ser irritante, porque assim como o senhor está fazendo o seu trabalho, eu tenho o meu trabalho para fazer. Não tenho tempo – estou aqui gentilmente porque entendo ser importante e quero ser ouvido – de sair e ir em uma delegacia. O senhor sabe o quão constrangedor é ir em uma delegacia de Polícia para fazer um depoimento?

Quer dizer, para o senhor, para a Outdoormídia, a pessoa que contratou o Outdoor é a pessoa que está se sentindo lesada também?

Claro. O entendimento da Outdoormídia é objetivamente esse. Quem contratou a Outdoormídia foi o [email protected]. Essa pessoa que se identificou. Agora, se alguém, se um terceiro, se um quinto ofereceu esses dados aqui, eu não sou culpado. A Outdoormídia não é culpada. Passou por todos os nossos filtros. Como que alguém dá um dado para fazer o pagamento de um boleto e paga o boleto? Você desconfiaria?

Pagou à vista, uma parcela só?

Uma parcela só. Porque é o nosso compliance de segurança. Qual é a praxe de recebimento de mídia? Trinta dias depois do início da veiculação. Se eu não conheço a pessoa, se não tem histórico comigo, a praxe da empresa é esse. Onde ocorre situações como essa? Acabamos de fazer uma divulgação de um show que vai ter em Curitiba. Não conhecemos as pessoas. “O senhor tem que pagar à vista”. É o mesmo procedimento.

Então essas foram as tratativas, o que você acabou de dizer: por e-mail e por telefone. A veiculação corresponde ao que foi apresentado naquele documento de “Autorização de Veiculação”?

A veiculação foi contratada para ter início no dia 13/03 até o dia 13/04 [de 2019].

Aí veio aquele e-mail que o senhor comentou e foi retirado em que data?

O e-mail é de dia 29/03.

Algum procurador (ou procuradores) trataram do assunto do outdoor?

Em momento nenhum. Essa senhora aqui [refere-se à jornalista Conceição Lemes, do site Viomundo], disse que eu sou da mesma igreja do Deltan [Dallagnol]… Mentira. O Deltan eu conheço por vê-lo e ouvi-lo fazendo uma palestra. O Deltan pertence a uma Igreja Batista, uma denominação Batista. Eu pertenço a uma denominação Batista, mas a minha igreja é no Batel [bairro de Curitiba], a igreja dele é no… Bacacheri [outro bairro de Curitiba].

Conhece ou manteve contato com procurador ou procuradores em outra ocasião?

Nunca. Não tenho ligação nenhuma, não tenho histórico nenhum, ficha nenhuma. Não existe isso. Não existe participação em reunião. E mesmo se fosse – não vejo problema nisso –, poderia ter participado com ele de alguma reunião para tratar de assunto de doação para roupa no inverno. Não somos da mesma igreja, não temos ligação.

A Ação Popular que busca averiguar a autoria do outdoor traz em seu texto o possível envolvimento pessoal do sr. Halisson Pontarolla. O senhor é citado por três motivos, segundo o texto da ação: por ser superintendente da Outdoormídia; ser membro da “mesma igreja” que o procurador Deltan Dallagnol; e por fazer “apelos antipetistas” em seu perfil do Facebook. Qual a sua posição sobre isso?

Já respondi, não sou da mesma igreja que ele. Óbvio que sou superintendente da Outdoormídia e ser superintendente da Outdoormídia me põe, me liga, por exemplo, a Procter & Gamble, que estou fazendo veiculação agora. Me liga com a Procter & Gamble? Sou dono da Procter & Gamble? Sou amigo do chefe executivo de marketing da Procter & Gamble? Me parece de uma infantilidade os três fatos que ligam, que é ridículo. O meu posicionamento é a favor da justiça, da integridade e verdade, como todos os brasileiros que viveram o que nós vivemos – imagino que o senhor também. Sendo empresário, ao se deparar que o Brasil foi roubado, que o Brasil foi saqueado… O meu posicionamento é o quê? A favor da integridade, da justiça e da verdade, certo? Então me incomoda o fato de o PT ser quem é e fazer o que faz com o país? Óbvio que sim. E neste caso, se eu preciso ter um lado, o senhor pode escrever com todas as letras: o meu lado é à favor daquilo que é justo, reto e verdadeiro. E me incomodou e me incomoda profundamente um posicionamento de qualquer político, seja ele denominado direita, esquerda, qualquer político que atrapalhe o país, é claro que sou contra. Quem é à favor do que é bom, do que é justo, é contra o que é errado.

Segundo apurado por essa reportagem, o valor que consta no documento apresentado ao CMP e ao inquérito 4781 referente à contratação dos serviços outdoor em questão, a saber R$ 4.100,00, não corresponde ao valor de mercado em Curitiba, estando abaixo do valor médio apurado. Qual é o valor atual para contratação do referido outdoor pelo período de 30 dias, front light duplo, localizado na Av. Rocha Pombo sentido São José dos Pinhais, Curitiba, ao sair do aeroporto internacional….

Se o senhor entrevistou outras empresas, o senhor vai ver que já tem por praxe que um outdoor em Curitiba, um front light, é vendido e comercializado, em média, por R$ 2.500,00. Esse painel é especial, está no aeroporto e foi vendido no nosso preço, uma excelente negociação. Hoje, essas empresas que você entrevistou, que estão fazendo algumas outras comunicações, vai ver que tem outdoor que é vendido à R$1.500,00. Então essa sugestão de que houve um desconto especial, nem isso é verdade. Caso seja necessário, nós pegamos outras negociações feitas nesse mesmo endereço com outros clientes e provamos que o valor é o mesmo praticado no mercado. Então essa sugestão é vazia.

A gente apurou que tem um valor veiculação, aí tem o valor de impressão e esse valor, por ser duplo esse outdoor e ser um front light duplo…

Preço de mercado, na mesma via.

Mas hoje qual seria o valor, se a gente fosse contratar hoje esse outdoor?

Se o senhor chegar hoje com R$ 4,000.00 o senhor vai comprar lá, por 30 dias. A impressão é a parte, agora aqui eu não posso falar com propriedade. Isso é a veiculação…

É isso, naquela via, naquele endereço, é esse o valor. Além de que, tem uma sazonalidade. O nosso valor médio no primeiro semestre é um pouco mais barato do que no segundo semestre, porque há uma sazonalidade da mídia exterior. Hoje, se você quiser ir comprar posições no aeroporto com o Outdoormídia, lá no aeroporto, porque dentro da área de Infraero o custo é realmente outro. Nós, inclusive, nem temos painéis dentro da área de Infraero porque é muito caro. Mas nessa região, com esse dinheiro, você vai comprar isso e muito mais.

Em 2016, durante a campanha para o projeto de lei 10 medidas contra à corrupção, o procurador da Lava Jato fez um vídeo para pedir apoio às empresas de outdoor, na 29ª Convenção Nacional da Central de Outdoor — entidade que reúne empresas do setor de todo o país. Na época, o senhor era o primeiro diretor vice-presidente da Central de Outdoors, onde atualmente ocupa a posição de diretor de planejamento e pesquisa. O senhor sabia que o procurador enviaria esse vídeo, você tem conhecimento desse vídeo?

Eu tenho conhecimento desse vídeo, mas ele não foi na Convenção.

Ele fez um vídeo…

Que agradeceu as empresas que participaram…

Não, que pedia a colaboração das empresas. Esse vídeo foi apresentado na 29ª Convenção…

Essa convenção, inclusive, eu não estava lá – eu pedi a desfiliação da central do Outdoor em 21/03/2016, obtendo a resposta positiva da desfiliação no dia 02/05/2016. Mas houve, sim, um pedido de contribuição para a divulgação das 10 medidas e várias empresas do Brasil ajudaram.

O senhor tinha conhecimento prévio desse vídeo?

Eu não estava na convenção, se eu falar agora eu não me lembro. Mas é bem-vindo, porque eu sou um apoiador das 10 medidas, é bem-vindo. Por razão de viagem eu não estava nessa convenção. E sim, houve uma moção para que as empresas que concordassem se envolvessem e fizessem essa veiculação.

A gente conversou também com o João Carlos e ele também disse, assim como o senhor, que ele nunca procurou a Outdoormídia. Ele também falou a respeito de que vocês nunca procuraram ele para conversar. Eu gostaria de saber o que o senhor pensa disso. O que o senhor tem a dizer sobre todo esse caso e qual é a sua vontade de todo esse processo?

A minha vontade é que a verdade prevaleça. Eu sou um terceiro de boa fé, a minha vontade é que essa senhora se retrate pela mentira que ela falou, pela exposição da Outdoormídia. O que me parece é que alguns jornalistas, de maneira irresponsável, eles atiram e depois veem quem matou. Então eu acho que o jornalismo irresponsável é um problema pra esse país, pra todos nós. E me parece também que existe um desconforto com um grupo de jornalistas, de uma pessoa ter posição. Imagino que a sua posição também seja por aquilo que é correto, por aquilo que é justo. Imagino que o senhor também deve ficar revoltado de ver tudo aquilo que aconteceu politicamente com o nosso país, que está provado.

Se você perguntar pra mim, objetivamente: ‘o senhor é favor de ações que coíbem toda a corrupção?’, eu sou totalmente a favor. Qual o nome disso hoje, se o nome disso é Lava Jato isso ou aquilo, eu sou a favor. Eu sou a favor das 10 medidas contra as leis de corrupção e se eu puder contribuir com a minha palavra, com uma ação, eu farei com certeza absoluta. Você vê algum crime nisso, ser a favor de algo que vai ser benéfico para o país? Então, é uma coisa que é de enraivecer as pessoas, é de você ficar desapontado. Acho que ficou provado aqui, uma vez que isso daqui já foi colocado, acho que você tem que procurar esse cara. Vocês já procuraram este Castor de Mattos? Esse é o responsável. Então acho que fica claro o meu posicionamento.

Imagem: Halisson Pontarolla é diretor da Outdoormídia

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