Presidente tritura instituições a céu aberto, diz Sakamoto

Por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, no Tutaméia

O repúdio à agressão de Jair Bolsonaro à repórter Patrícia Campos Mello, na manhã desta terça-feira (18.02), marcou o início da entrevista de TUTAMÉIA com o jornalista e escritor LEONARDO SAKAMOTO, diretor da Repórter Brasil e conselheiro da ONU.

“Patrícia sofreu um dos maiores linchamentos na história recente da imprensa. O pior dos linchamentos foi por conta de ela ser mulher, um linchamento de cunho sexual. Agora o próprio presidente da República repete essas insinuações. Ele utiliza o cargo para atacar, para difamar, para cometer um crime. Ele presidente difama a honra de Patrícia, o que é crime, previsto no Código Penal.”

Sakamoto continua:

“Estou indignado. Isso indigna a todos. Se você tem o mínimo de empatia pelo ser humano, se você tem o mínimo de respeito, inclusive por todo o sofrimento que as mulheres sofrem na mão de nós, homens, isso é um absurdo completo. É o presidente simplesmente fazendo um ataque vil a um jornalista num nível sexual.”

Doutor em ciência política pela USP, ele afirma: “Se as instituições estivessem funcionando normalmente no Brasil, o que aconteceria nesse momento? A Procuradoria Geral da República moveria uma ação contra o presidente, essa ação seria julgada na Câmara Federal, que autorizaria o Supremo Tribunal federal a processar o presidente por conta desse crime. Talvez houvesse até um pedido de impeachment que prosperasse.”

Isso é pouco provável, acrescenta porque “as instituições não estão funcionando normalmente desde o impeachment da presidenta Dilma. O que você está vendo, na verdade, e o presidente da República triturando a céu aberto as instituições.”

A conversa seguiu tratando de outro ataque à sociedade e aos direitos humanos: o trabalho escravo contemporâneo, tema de “Escravidão Contemporânea”, livro organizado por Sakamoto que acaba de ser lançado.

O trabalho escravo passou a ser compreendido “não como resquícios de formas arcaicas de exploração, que resistiram ao avanço da modernidade, mas como instrumento adotado por empreendimentos para garantir lucro fácil e competitividade numa economia cada vez mais globalizada”, afirma ele.

Na entrevista, trata de casos bem conhecidos no Brasil, como os das grifes M. Officer e Zara, denuncia o retrocesso nos direitos trabalhistas, a precarização crescente do trabalho e os ataques à regulação do mercado de trabalho.

Também rende homenagem ao bispo emérito da prelazia de São Félix, dom Pedro Casaldáliga, que acaba de completar 92 anos de uma vida dedicada à defesa dos pobres e dos direitos humanos: “Dom Pedro Casaldáliga é figura central nos direitos humanos no Brasil na segunda metade do século 20. Graças a ele, as denúncias de trabalho escravo chegaram aos ouvidos do mundo”.

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