Covid-19 ameaça povos indígenas da Amazônia

Em vários países da América Latina, especialmente no Brasil, Peru, Colômbia e Equador, uma das ameaças mais graves da Covid-19 é que ela pode atingir comunidades indígenas que são particularmente vulneráveis a doenças externas.

por Francis McDonagh, em The Tablet. Tradução de Moisés Sbardelotto, em IHU On-Line

Havia uma preocupação particular no dia 27 de março, quando foi relatado a partir do vilarejo de Lago Grande, na Amazônia brasileira, perto da fronteira entre BrasilPeru e Colômbia em Tabatinga, que 10 indígenas haviam sido isolados após terem sido tratados por um médico que havia retornado de uma viagem ao Sul do Brasil e que testou positivo para a Covid-19.

Isso ocorreu no vilarejo de Lago Grande.

The Tablet conversou com o frei Paolo Maria Braghini, que trabalha na missão capuchinha junto aos indígenas Tikuna, no vilarejo vizinho de Belém dos Solimões.

“Nesses últimos dias, quando as pessoas nos perguntam como estamos, nós simplesmente respondemos que estamos em isolamento social e que estamos rezando muito para que o vírus não atinja as aldeias indígenas, porque seria uma verdadeira tragédia, sem sombra de dúvida.

“Nas diferentes culturas indígenas, onde o espírito coletivo ainda é forte, e onde a cultura moderna do individualismo avançou pouco, onde toda a vida é vivida em conjunto e com intenso contato físico, o vírus se espalharia com uma velocidade ainda maior.

“Os indígenas são povos fortes, suportam com enorme resistência as dificuldades inerentes à vida na Amazônia, ao clima tropical e equatorial, com seu calor e chuva, mas sabemos que são mais vulneráveis a doenças provenientes de outros lugares, como gripes e vírus.

“Isso significa que a situação é realmente muito séria, mas, felizmente, reconhecemos que a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) está agindo com rapidez e competência na prevenção. Os movimentos indígenas de vários grupos étnicos – ou seja, aqueles que têm mais acesso à mídia – também estão criando e seguindo campanhas midiáticas, convidando todos os seus parentes indígenas a não deixarem suas casas ou irem de sua aldeia para outras.

“Aqui em Belém do Solimões, temos uma família em isolamento, por precaução, porque eles viajaram no mesmo barco que o médico infectado que veio de Manaus, mas a Sesai agiu com muita rapidez e imediatamente isolou a família. Eles estão sob observação.

“Sabemos que a maioria dos indígenas – e eu estou falando principalmente do grupo Tikuna, que é aquele com quem temos mais relação – não têm acesso à internet e, quando eles assistem à televisão (que tem muitas mensagens de prevenção todos os dias), eles nem sempre entendem, por causa das suas dificuldades com o idioma, porque falam principalmente Tikuna.

“Essa é a explicação das estratégias da Sesai de enviar trabalhadores da saúde de porta em porta para levar às pessoas a mensagem na língua indígena, para levar orientações por meio de alto-falantes, que todas as comunidades usam para gerir a vida comunitária, com a ajuda de todos os líderes indígenas.

“A conscientização leva tempo para se estabelecer, como ocorre em todos os lugares. Nos primeiros dias, a maioria dos indígenas não levou a sério a mensagem de isolamento social ‘Fique em casa’, mas gradualmente, principalmente depois das notícias de que os Tikuna poderiam ser afetados, as aldeias começaram a ficar muito silenciosas. Às vezes parecem abandonadas, e isso, neste momento, é muito necessário e bom.

“O perigo de a doença se espalhar é grande, principalmente porque os indígenas se deslocam muito entre aldeias e países. Nesta região de fronteira, os Tikuna do PeruColômbia e Brasil movem-se livremente, porque as fronteiras políticas e geográficas são relativas, porque eles se consideram um único povo e nação, os Tikuna. Mas, graças a Deus, eles parecem estar cada vez mais conscientes da seriedade do momento e, portanto, estão mais prontos para obedecer ao pedido de ficar em casa e se concentrar na aldeia.

“O Sínodo Amazônico continua sendo uma grande bênção para a vida da Amazônia e de seus povos. Neste momento de pandemia, as parcerias criadas ou fortalecidas graças ao Sínodo, como a Repam, a rede amazônica da Igreja, continuam totalmente a serviço da vida dos povos amazônicos. A Repam está fortalecendo a sua rede de comunicações e é uma grande ajuda na transmissão dos relatórios diários oficiais.

“A ordenação no dia 15 de março do primeiro diácono permanente de Tikuna foi uma grande alegria, reforçada pelas bênçãos do Sínodo. Após muitos anos de peregrinação, estamos dando belos passos rumo a uma Igreja inculturada, principalmente treinando lideranças reais da evangelização inculturada, os próprios indígenas, no nosso caso principalmente os Tikuna.”

Nota do Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Para mais informações da Custodia do Frades Menores Capuchinhos do Amazonas e Roraima clique aqui.

Divisa entre Brasil, Colômbia e Peru. Fonte: Câmara dos Deputados

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