O “apagão ambiental” no Itamaraty de Ernesto Araújo

ClimaInfo

Em meio à crise diplomática e comercial causada pelas críticas de investidores e empresários internacionais ao desmatamento da Amazônia, o Itamaraty tem sido inútil. Desde o começo da gestão de Ernesto Araújo, a pasta diminuiu a relevância política de questões ambientais em seu organograma, extinguiu estruturas dedicadas ao tema e reduziu a equipe de diplomatas envolvidos com a temática.

No Estadão, Felipe Frazão critica a postura de Araújo, que colocou o enfrentamento do “ambientalismo ideológico” como um objetivo da política externa brasileira sob Jair Bolsonaro. O resultado tem sido o abandono da liderança que o Brasil exercia em temas ambientais e a perda de capacidade na chefia das delegações oficiais do país em negociações ambientais, com a substituição de diplomatas mais experientes por neófitos sem conhecimento do assunto.

Ouvido pelo jornal, o embaixador Everton Vieira Vargas, quem teve papel fundamental no reposicionamento diplomático do Brasil em temas ambientais a partir da Rio-92, lamenta a situação. Para ele, perder investimentos internacionais “por não ter estratégia para coibir o desmatamento, coisa que a gente também sabe fazer, é vergonhoso”.

No Financial Times, o professor Oliver Stuenkel (FGV) afirma a necessidade de pressão internacional redobrada para que haja alguma mudança na situação ambiental brasileira. Ele recomenda que o apoio à candidatura brasileira à OCDE e a ratificação do acordo Mercosul-UE sejam condicionados ao restabelecimento das regulações ambientais e à revitalização dos órgãos responsáveis pela fiscalização do desmatamento. Para Stuenkel, essa pressão precisa ser direcionada à ala liberal do governo Bolsonaro, encabeçada pelo ministro Paulo Guedes. “As elites empresariais podem ter perdido parte de sua influência inicial em Brasília. No entanto, mesmo Bolsonaro entende o valor do investimento estrangeiro e de um acordo comercial que estima adicionar US$ 90 bilhões nos próximos 15 anos a uma economia brasileira enfraquecida”, escreve Stuenkel.

Em tempo: No 1º ano de gestão de Ricardo Salles no meio ambiente, a pasta deixou oito em cada dez pedidos de informação por parte da imprensa sem qualquer tipo de resposta. No entanto, questionado formalmente via a Lei de Acesso à Informação, o ministério mentiu ao dizer que não tinha dados que permitissem comparar o desempenho da pasta no atendimento de demandas da imprensa em 2019 com anos anteriores. Para o Observatório do Clima (OC), que levantou essa questão, o balanço de atendimentos em 2019 “reflete a estratégia de comunicação imposta pelo ministro à pasta e às autarquias vinculadas, em especial o Ibama e o ICMBio”, com a centralização da comunicação nas mãos do próprio Salles. O OC destacou também a “mordaça” que servidores da pasta sofrem por parte da equipe de Salles, com perseguição e afastamentos.

Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo, em Washington, em setembro de 2019. MANDEL NGAN (AFP)

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