Perigo na Amazônia: indígenas isolados emergem de floresta no Acre

Survival International 

Há relatos de que um grupo de cerca de 10 indígenas isolados fez contato com uma comunidade indígena no estado do Acre.

O contato teria acontecido no início de agosto, há cerca de 10 dias, e foi relatado por Cazuza Kulina, cacique da aldeia Terra Nova, da comunidade indígena Kulina do Alto Rio Envira.

Cazuza disse ao G1 Acre: “É a primeira vez que aparecem aqui (…) Eram mulheres, crianças e homens adultos, depois voltaram pelo rio para a aldeia deles. Fica a mais de quatro horas daqui onde eles vivem isolados.”

Eles pegaram roupas, cobertas, alguns utensílios, mandioca, banana que levaram para a floresta.

Esta notícia é preocupante, pois os indígenas isolados são extremamente vulneráveis à gripe e outras doenças contra as quais não têm imunidade. Muitos povos indígenas isolados foram aniquilados por doenças contraídas durante os primeiros contatos com não-indígenas. O aparecimento repentino desse grupo pode ser um sinal de que estão sendo expulsos de seu território por invasores.

À medida que o número de mortes de indígenas que contraem a Covid-19 continua aumentando, os indígenas isolados correm cada vez mais risco de contrair a doença por meio de encontros como este.

José Carlos Meirelles, que por 40 anos trabalhou na equipe de indígenas isolados da FUNAI no Acre, teme pelo futuro desse povo. Ele disse ao jornalista Altino Machado que: “Do jeito que a Funai está agora, isso aí é o prenúncio de uma mortandade grande”

A FUNAI foi gravemente enfraquecida no governo do presidente Bolsonaro e isso exacerbou enormemente as ameaças aos povos indígenas e a seus territórios em todo o Brasil: indigenistas experientes foram demitidos, o uso do orçamento foi drasticamente reduzido e muitas das bases de proteção que protegem povos isolados foram fechadas.

A Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da FUNAI é comandada pelo missionário evangélico Ricardo Lopes Dias que trabalhou muitos anos com a Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), agora conhecida nos Estados Unidos como Ethnos360. Ele permanece no cargo, mas sua nomeação está sendo contestada na justiça. Em maio, a decisão do desembargador Antônio Souza Prudente chegou a anular sua nomeação, porém foi revertida e será agora analisada pelo Superior Tribunal de Justiça.

A diretora de pesquisas da Survival International, Fiona Watson, disse: “A notícia desse contato recente é extremamente preocupante, pois há uma possibilidade real do grupo ter contraído e espalhado gripe para comunidades isoladas vizinhas. Este encontro ressalta a urgência em reabrir e equipar totalmente todos os as bases de proteção da FUNAI que protegem indígenas isolados. É urgente também o trabalho conjunto com a SESAI para o desenvolvimento de ações apropriadas garantindo que equipes médicas experientes estejam disponíveis para tratar e conter surtos de gripe e coronavírus entre as comunidades que vivem perto de povos indígenas isolados.”

Na última década, os povos indígenas do Acre relataram avistamentos crescentes de indígenas isolados. Em 2104, ocorreu o último grande contato neste estado quando um grupo de Sapanawa isolados, fugindo de ataques violentos de madeireiras ilegais, fez contato com uma comunidade Ashaninka. Em poucos dias, muitos adoeceram gravemente com gripe e só sobreviveram devido à rápida intervenção de uma equipe médica experiente.

Em junho passado, vários indígenas isolados da Terra Indígena Uru Eu Wau Wau, no estado de Rondônia, apareceram fora do território onde muitas florestas foram destruídas. As invasões do território Uru Eu Wau Wau por madeireiros e fazendeiros têm aumentando, expondo os indígenas à violência e às doenças. Ari Uru Eu Wau Wau, um guardião da floresta, foi assassinado em abril de 2020.​​​​​​​

Indígenas isolados vistos do ar, durante uma expedição do governo brasileiro em 2010. © G. Miranda/FUNAI/Survival

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