“Tudo vai dar certo porque Deus está do nosso lado”

Por Lígia Kloster Apel

“Desenvolver ações sustentáveis para o fortalecimento das marisqueiras residentes na APA Delta do Parnaíba, por meio da reflexão, comunicação popular, proteção da vida e o empoderamento social”. Esse é o objetivo do projeto AME-AS – Articulação de Mulheres Empoderadas em Atividades Sustentáveis realizado pela Associação dos Catadores de Marisco da Ilha Grande do Piauí, com sede no Porto dos Tatus, com apoio do Fundo Socioambiental Casa.

É premente a necessidade de buscar soluções para os problemas decorrentes da pandemia do novo coronavírus, responsável pela doença respiratória Covid 19, de alta capacidade letal, que ainda não tem vacina ou medicações apropriadas e nem se alcançou controle para sua disseminação. Além do risco de morte pela doença, o isolamento exigido para conter os contágios impede as marisqueiras de realizar sua principal atividade de geração de renda: a cata e venda do marisco.

A mariscagem, no segundo semestre de 2019, já estava sofrendo com a chegada do petróleo no litoral piauiense. Os parcos benefícios e auxílios destinados aos pescadores artesanais afetados pelo incidente não chegaram ao Porto dos Tatus e muito menos para as marisqueiras, que tiveram contratos de venda do produto cancelados. Antes de qualquer ação ser implementada para possibilitar a retomada de suas vidas chegou a pandemia com a crucial necessidade de isolamento. Para Dona Luiza, marisqueira desde a sua juventude, “as coisas ficaram bem complicadas. A vida ficou mais difícil para nós primeiro por causa do óleo que chegou e, agora, com essa pandemia”, afirma com preocupação.

Dona Luiza é vice presidente da Associação dos Catadores de Marisco da Ilha Grande do Piauí e, mesmo com o distanciamento social que mantém, faz visitas sistemáticas às marisqueiras para saber como estão vivendo. “Eu ando nas casas das nossas parceiras e vejo como estão sofrendo. Muitas delas falam da situação chorando, porque além de tudo o benefício delas foi cortado”, explica, referindo-se aos casos das marisqueiras que tiveram a Bolsa Família suspensa ou que não conseguiram o auxílio emergencial ou, ainda, mulheres que ficaram sem os dois. Tais situações estão sendo investigadas.

Para minimizar esses impactos, as atividades previstas no projeto vão do abastecimento de cestas básicas à ampliação do sinal de internet nas casas das marisqueiras. A intenção é proporcionar aproximação virtual entre elas e realizar lives interativas e oficinas de formação com metodologias participativas sobre alimentação, saúde, economia justa e solidária, letramento, política e cidadania. Para Dona Luiza, o projeto chegou como uma forma de quebrar o isolamento e aliviar o sofrimento: “A situação ficou bastante difícil, mas por outro lado, conseguimos esse projeto que foi bom pra nós. Conseguimos cestas básicas porque estávamos sem ter o que comer. E conseguimos também a internet melhor. Agora dá pra gente ouvir outras pessoas de lugares longe daqui e a gente fica ouvindo o que elas tem pra dizer pra gente, pra animar a gente”, afirma Dona Luiza, animada com as atividades que estão sendo desenvolvidas e esperançosa com o que está por vir. “a gente espera que melhore mais. E vai melhorar depois que passar essa pandemia. É o que eu falo pras marisqueiras, vamos viver mais melhor porque Deus tá do nosso lado. O mais importante é termos ajuda e todo mundo ter fé porque Deus está do nosso lado”, conclui com a força piauiense: “tudo vai dar certo”.

Foto: Acervo da Associação dos Catadores de Marisco da Ilha Grande do Piauí

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