Os “maus brasileiros” do general Heleno

ClimaInfo

O general-ministro Augusto Heleno resolveu dividir os brasileiros em duas categorias: os “maus” e os “bons”. Na 6ª feira (16/10), ele reconheceu no Twitter que arapongas da Agência Brasileira de Inteligência monitoraram negociadores e ambientalistas brasileiros na Conferência do Clima organizada pela ONU em Madrid (COP25), em dezembro passado, argumentando que seria parte da missão do órgão acompanhar campanhas internacionais apoiadas por “maus brasileiros”. Ontem (18/10), o general voltou à distinção, argumentando que “o bom brasileiro não se une a organizações estrangeiras”, que teriam interesses “explicitamente” divergentes aos do Brasil, “para tirar enormes proveitos econômicos e nos desqualificar internacionalmente”. Estadão repercutiu os posts.

Frente ao cenário de destruição no Pantanal e na Amazônia, onde criminosos ateiam fogo e derrubam árvores como se não houvesse amanhã, e frente ao prejuízo potencial que isto gera para o Brasil (inclusive em termos estratégicos), é curiosa a paranoia do general – e do governo Bolsonaro em geral – com a “perigosa” sociedade civil, como se ela fosse a maior ameaça ao país. Como bem colocou Leonardo Sakamoto no UOL, o general Heleno considera como “maus brasileiros” os cidadãos preocupados com o desmonte da política ambiental, mas não enxerga problemas nas atividades daqueles que queimam e desmatam nossas florestas.

“Pela cartilha de patriotismo do general Augusto Heleno, (…) bom brasileiro é aquele que assiste as queimadas na Amazônia e no Pantanal, a invasão de mineradores em Terras Indígenas e a ação dos madeireiros na floresta sem dar um pio”, escreveu Chico Alves também no UOL.

Em tempo 1: Enquanto Heleno brinca de 007 com a sociedade civil, Bolsonaro não se esforça para esconder que o “passa boiada” faz parte da ordem do dia do governo federal. O presidente afirmou a uma plateia de produtores rurais em São Paulo que o ministério do meio ambiente “não cria dificuldades… pelo contrário, ajuda e muito” o agronegócio e as empresas. O Globo deu mais detalhes.

Em tempo 2: Exemplos de “maus brasileiros” para Bolsonaro e Cia., as lideranças indígenas do país estão sendo reconhecidas internacionalmente pelo seu trabalho em prol dos Direitos Humanos e da proteção do meio ambiente. A Deutsche Welle destacou premiações recentes de Alessandra Munduruku e Sônia Guajajara, que receberam os prestigiados prêmios Robert F. Kennedy e Letelier-Moffitt, respectivamente. O website alemão também entrevistou o jurista Carlos Frederico Marés de Souza Filho, ex-presidente da Funai, quem alertou para os ataques sucessivos promovidos pelo governo Bolsonaro aos Povos Indígenas brasileiros. Para ele, o governo “está intencionalmente tentando destruir os Povos Indígenas. E isso é genocídio”.

General Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, no governo Jair Bolsonaro

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