Agronegócio foi responsável por 72% das emissões de gases estufa no Brasil em 2019

Setor está diretamente atrelado ao desmatamento na Amazônia, diz relatório do SEEG

Por Giovanna Galvani, Carta Capital

A emissão de carbono entre 2018 e 2019 representou o maior aumento registrado no País desde o biênio 2002-2003 – com um papel cada vez mais relevante do uso da terra e do agronegócio para o afastamento das metas estabelecidas pelo Brasil.

Os dados foram publicados nesta sexta-feira 6 e integram o oitavo relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), que compila as emissões do Brasil de 1970 a 2019.

No ano passado, o País lançou na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (a medida converte aos efeitos do CO2 os diversos gases emitidos na atmosfera), contra 1,98 bilhão em 2018.

Os analistas do relatório destacam que o crescimento das emissões no último ano foi puxado pelo desmatamento na Amazônia, que bateu recorde em 2019 e continua em uma escala crescente preocupante em 2020.

A quantidade de gases de efeito estufa do setor de mudança de uso da terra subiu 23% em 2019. O desmatamento respondeu por 44% do total das emissões do país no ano passado.

Como o desmatamento tem relação direta com a abertura de pastos para o agronegócio, o relatório somou, para efeitos de análise, todas as emissões relacionadas à atividade rural e observou que elas respondem por 72% do total de emissões de carbono no Brasil em 2019.

Para Renata Potenza, coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora, organização que faz parte da análise do levantamento, pensar na readequação do uso do solo para a prática é um ponto de partida essencial neste momento.

“Os resultados do SEEG agro mostram a crescente contribuição da agropecuária para as emissões nacionais. Este cenário precisa ser revertido e, para isso, os sistemas de produção devem adotar boas práticas de manejo, além de cuidar do solo, onde está concentrada a maior parte dos estoques de carbono”, diz.

“Um solo conservado produz mais e ainda estoca carbono, sendo, portanto, um dos recursos naturais mais importantes do Brasil”, afirma.

As emissões em 2019 colocam o Brasil na sexta posição entre os maiores poluidores climáticos do mundo – subindo para quinto lugar quando se exclui a União Europeia como um bloco único –, e afastam o País da Política Nacional de Mudanças Climáticas, estabelecida nacionalmente, e dos objetivos do Acordo de Paris, firmados globalmente.

“Estamos numa contramão perigosa. Desde 2010, ano de regulamentação da lei nacional de clima, o país elevou em 28% a quantidade de gases de efeito estufa que despeja no ar todos os anos, em vez de reduzi-la”, disse Tasso Azevedo, coordenador do SEEG. “No ritmo em que está e com os indicativos de que dispomos, o país não consegue cumprir a meta de 2020 e se afasta da de 2025”.

Em nota, o Observatório do Clima afirmou que os dados comprovam a não-eficácia do desmatamento para a economia quando colocado em perspectiva os resultados do PIB de 2019, por exemplo.

“Isso significa que, após dez anos de política de clima, o Brasil ainda tem o mesmo tipo de curva de emissões de antes da adoção da política, e que as emissões no País seguem descoladas do PIB: elas cresceram quase dez vezes mais que o ‘pibinho’ de 1,1% no ano passado. Isso se deve ao fato de o desmatamento ser uma atividade que não gera riqueza.”, diz a organização.

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