Bolsonaro perde. PSL fracassa. Esquerda se mostra resiliente, com o PSOL em ascensão; mas resultados revelam que se o campo progressista estivesse unido poderia ter avançado muito mais, escreve Cesar Sanson, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
O resultado das eleições desse ano, ainda parciais, porque em definitivo apenas com o segundo turno, já mostram que a estrondosa perfomance da direita e da extrema-direita em 2018 não se repetiu dois anos depois e surpreendentemente a esquerda que se encontrava na “lona” reagiu e apresentou bons resultados.
Bolsonaro já é um dos perdedores das eleições de 2020. Os candidatos que apadrinhou, particularmente em São Paulo e Rio de Janeiro, mas não apenas, demonstraram desempenho sofrível.
Na capital paulista, o colégio eleitoral mais importante do país, Russomanno (Republicanos), que de longe foi o candidato que mais abraçou e mais abraçado foi pelo presidente, ficou 0,5% acima dos dois dígitos. Alimentado pelo ódio contra Doria, Bolsonaro apostou alto em Russomanno e se deu mal. Já, Bruno Covas (PSDB), candidato do partido do governador, escondeu-o em sua campanha, sabedor dos seus altos índices de rejeição. Foi mais esperto que Russomanno que desdenhou as pesquisas que mostravam altíssima rejeição de Bolsonaro na capital paulista.
No Rio de Janeiro, Crivella (Republicanos), atual prefeito e candidato a reeleição, foi para o segundo turno, mas tudo indica, a conferir, muito mais pelo esforço da Igreja Universal do que devido ao apoio de Bolsonaro. Os seus índices de rejeição são, entretanto, enormes e dificilmente será uma candidatura competitiva contra o camaleão Eduardo Paes que já foi um fiel aliado do PT e hoje se encontra no DEM.
A única candidatura com bom desempenho apoiada por Bolsonaro e “recusada” pelo próprio candidato é a do Capitão Wagner (PROS) em Fortaleza que disputará o segundo turno contra a candidatura pedetista de José Sarto, apoiado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes.
Não é apenas Bolsonaro quem perde. O PSL, ex-partido de Bolsonaro, segunda maior bancada no Congresso também. Seus candidatos a prefeito fracassaram rotundamente. Nenhum eleito nas capitais e tampouco no segundo turno. O PSL concentrava muitas das candidaturas raivosas da extrema-direita.
A grande surpresa das eleições municipais é o desempenho de Boulos (PSOL) que chegou à reta final com muita força e apresentou um desempenho acima do esperado, transformando-o em ameaça à reeleição de Bruno Covas. A dobradinha Boulos-Erundina se demonstrou um sucesso, principalmente entre a juventude. Boulos mostra que há espaço para um discurso mais à esquerda.
Para além de Boulos há outra surpresa nessas eleições: o desempenho do PT. Tido como ‘morto’ politicamente, mostrou resiliência em vários lugares. Ninguém esperava do PT muita coisa nessas eleições e os prognósticos se confirmaram, porém, o partido mostrou que se saiu melhor do que se esperava, principalmente no eixo SP-RJ.
O desempenho de Jilmar Tatto, que não contou com a adesão de muitas lideranças do PT em função de como se deu sua candidatura – o preferido era Haddad que declinou – reiteradamente ‘cristianizado’ dentro do próprio partido, com os seus quase 10%, joga um papel importante no segundo turno paulista.
Outra surpresa foi o desempenho de Benedita Silva no Rio de Janeiro. Acabou embolada com a candidata do PDT e de certa forma foi prejudicada em função do assédio para que entregasse os pontos e apoiasse a pedetista que em tese reuniria melhor condições de avançar na disputa para a ida ao segundo turno.
Por outro lado, o desempenho do PT no nordeste ficou abaixo do esperado. As candidaturas do partido em Fortaleza (Luizianne Lins) e Salvador (Major Denice) – estados governados pelo PT – não deslancharam como o esperado. Apenas em Recife, confirmou-se a expectativa que a neta de Arraes, Marília Arraes chegaria ao segundo turno.
O bom desempenho da esquerda também foi confirmado em Porto Alegre com Manuela d’Ávila (PCdoB), embora abaixo da expectativa. O resultado de Porto Alegre mostra que a unidade da esquerda, uma aliança que envolveu PT-PCdoB, foi importante para não fragmentar o campo progressista.
É bastante provável que se a esquerda tivesse efetivado mais alianças, disputaria com mais consistência e teria chances de resultados melhores. Por exemplo em São Paulo e Rio de Janeiro a sorte poderia ter sido outra, principalmente no Rio.
Há ainda um resultado que se mostra interessante, tudo indica que centenas de candidaturas a vereadores/as representando a agenda identitária – jovens, negros, mulheres, comunidade LGBT – se saíram muito bem.
Concluindo, pode-se dizer que as eleições 2020 sinalizam um prenúncio para 2022. O pêndulo parece ter se movimentado da direita, ou talvez melhor, da extrema direita para o centro. A possível e difícil unidade da esquerda para 2022 – PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB – pode dar vitalidade a esse campo. Resta saber se os partidos estão abertos a concessões, tudo indica que não. Mas as lições de 2020 estão aí. Quem tem olhos que veja!
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Foto: José Cruz/Agência Brasil