Lançado curso sobre enfrentamento da Covid-19 entre indígenas

Isabela Schincariol, Campus Virtual Fiocruz

Cada vez mais impactada pela Covid-19, a população indígena – que tradicionalmente é mais suscetível a novas doenças em função de suas condições socioculturais, econômicas e de saúde – precisa de múltiplos esforços para o enfrentamento desta pandemia. Ciente dessas especificidades e suas necessidades, o Campus Virtual Fiocruz, acaba de lançar o curso Enfrentamento da Covid-19 no contexto dos povos indígenas. Ele é online, gratuito, aberto a todos os interessados no tema, mas visa capacitar, técnica e operacionalmente, gestores e equipes multidisciplinares de saúde indígena para a prevenção, vigilância e assistência à Covid-19, respeitando os aspectos socioculturais dessa população. A iniciativa vai ao encontro de dois eixos de atuação da Fiocruz para o enfrentamento da pandemia: educação e apoio a populações vulnerabilizadas.

O curso foi desenvolvido pelo Campus Virtual Fiocruz e teve a participação de pesquisadores da Fiocruz, de outras universidades e instituições parceiras. Esta é uma formação livre, composta de quatro módulos, com carga horária total de 30h. A nova formação está alinhada aos esforços e iniciativas de formação em larga escala de profissionais de saúde na temática da Covid-19. Confira outras iniciativas: Covid-19: manejo da infecção causada pelo novo coronavírus, Enfrentamento da Covid-19 no sistema prisional, Doenças ocasionadas por vírus respiratórios emergentes, incluindo a Covid-19, Planejamento escolar local na transpandemia e Caminhos e conexões no ensino remoto.  

Dados do último censo demográfico que envolveu os povos indígenas, realizado em 2010 pelo IBGE, mostram que quase 900 mil pessoas se autodeclararam indígenas, ou seja, 0,4% da população, presentes em todos os estados brasileiros. Esse contingente é representado por 305 etnias, falantes de 274 línguas distintas, o que confere ainda mais complexidade no cuidado, pois a diversidade sociocultural dos povos indígenas também se expressa em termos de saúde.

A coordenadora acadêmica e uma das conteudistas do curso, Ana Lúcia Pontes, que é pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) e doutora em saúde pública, ressaltou que o curso é resultado de um trabalho coletivo de pesquisadores com larga experiência com a saúde dos povos indígenas no Brasil. “Ele nasceu do compromisso de construir uma ferramenta, um subsídio a mais para apoiar profissionais, gestores e integrantes do controle social da saúde indígena. O curso busca retratar as grandes diretrizes de enfrentamento da doença causada pelo novo coronavírus no que se refere à prevenção, assistência e vigilância adequadas à diversidade de contexto dos povos indígenas, assim como à realidade e cotidiano do subsistema de atenção à saúde indígena”, detalhou ela sobre a construção do material.

Ana Lúcia apontou ainda que, durante seu desenvolvimento, procurou-se desdobrar esses conteúdos de forma que eles suscitem a reflexão e a qualificação ampla sobre o que é o desafio da atuação em saúde no contexto dos povos indígenas. “Discutimos cenários gerais com vistas a apoiar os profissionais de saúde no atual contexto de enfrentamento da Covid-19, mas, sobretudo, que permitam, em um cotidiano futuro de trabalho, reflexões que possam ser úteis”, ressaltou Ana Lúcia. A Covid-19 se mostra altamente letal entre os povos indígenas. Com sua história de grande vulnerabilidade, torna-se cada vez mais relevante que os profissionais estejam sensíveis ao enfrentamento da pandemia entre esses povos.

Para a coordenadora-geral da iniciativa e responsável pelo Campus Virtual Fiocruz, Ana Furniel, a produção deste curso foi um enorme desafio. De acordo com ela, não tem sido fácil enfrentar a pandemia de Covid-19 em todo o mundo, mas as especificidades aumentam de maneira significativa quando falamos da pandemia entre os povos indígenas.

“É necessário lidar com um perfil epidemiológico diferenciado, hábitos culturais distintos e, muitas vezes, com uma situação totalmente diversa, como a dos povos isolados. A situação de vulnerabilidade é ainda maior entre essa população e precisamos entender suas formas de comunicação, de aprendizado e como se apresenta o subsistema de atenção à saúde indígena”, explicou Ana. Ela apontou ainda que, com o curso, “espera-se auxiliar os diferentes profissionais das equipes de saúde que enfrentam diariamente um contexto muito difícil e que, infelizmente, vem piorando com o passar dos meses”.

Saiba mais sobre o curso aqui.

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