Como bem definiu a Paula Vermeersch, não é que Jair Bolsonaro apenas tenha feito referência a uma tortura pretérita ao pedir o raio x de um crime: ele está torturando. E não apenas tripudiando. Ele está a torturar Dilma Rousseff. Assim, no tempo presente.
Da mesma forma que ele torturou Dilma Rousseff no dia 17 de abril de 2016, em meio àquele festival de violências verbais e institucionais na Câmara. Ele se uniu à memória de Ustra para torturar a presidente — enquanto centenas de cúmplices riam.
Torturadores são isso mesmo, sociopatas contínuos, sem trégua para a própria barbárie. Não são assassinos pontuais, criminosos de outrora: o sadismo deles se estenderá até o último dia de impunidade — no Brasil, talvez, o último dia de suas vidas infames.
As arminhas levantadas pelos torturadores significam, por sua vez, arminhas eternas, exaltações perenes desse sadismo, dessa contração facial que eles querem fazer parecer com um sorriso (ou com uma gargalhada) e é um simulacro do gozo que nunca terão.
O gesto de arminhas na Vila Belmiro significa isso: a incapacidade de comemorar autenticamente um gol, algum tipo de feito. Ele preferiria matar o goleiro e o juiz e cada torcedor, cada um dos milhões de torcedores — e é nisso que ele está empenhado.
Aqueles que xingaram Dilma na abertura da copa foram, ao mesmo tempo, essas arminhas e aqueles paus de arara, eles não teriam criatividade para celebrar ou respeitar algo. Naquele momento eles já estavam votando em quem poderia representar a barbárie.
Há quem diga (um tanto candidamente) que deveríamos ignorar frases e gestos do psicopata que nos governa, como se ele estivesse habilmente utilizando todo esse arsenal para nos distrair (tolos que seríamos) de requintadas táticas presidenciais.
Quando devemos fazer exatamente o contrário. Devemos assinalar — exclamar, gritar — que o torturador precisa ser preso, imediatamente preso, por crimes contra a humanidade. Cada homem público (procurador, deputado) que não brigue por isso…
… está também a torturar Dilma Rousseff e, em nome dela e da humanidade, cada vítima. Esses senhores e senhoras não foram sequestrados, não estão em alguma espécie de hipnose coletiva. São cúmplices conscientes. Gente ruim mesmo — o horror.
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Destaque: Hieronymus Bosch – A Violent Forcing Of The Frog (detalhe).
É isso aí! Gritar essa barbárie que atualiza e perpetua os requintes de maldades da ditadura militar brasileira. Gritar sem cansaço, resistir para existir!