Enquanto os EUA contam os dias para finalmente empossar Joe Biden como presidente, o governo Bolsonaro está imerso em um curioso estado de negação: como já abordamos aqui, tanto o presidente como outros representantes do Palácio do Planalto insistem em questionar a legitimidade da vitória de Biden, “papagaiando” o papo-furado de Donald Trump. Ao mesmo tempo, o presidente brasileiro ignora os pedidos insistentes de empresários, investidores e especialistas para reconfigurar a política ambiental e externa do país, afastando dois dos nomes mais polêmicos da Esplanada dos Ministérios – Ricardo Salles e Ernesto Araújo.
Como Brian Winter escreveu na Americas Quarterly, a impressão que Bolsonaro passa é de que ele está disposto a tudo para seguir seu ídolo Trump, até mesmo acompanhá-lo no ostracismo político internacional. “Bolsonaro parece pronto – até ansioso – para aceitar o isolamento. (…) A questão é se os compatriotas [dele] realmente querem acompanhá-lo nessa viagem”, observou Winter. “Um ano ainda mais barulhento de confronto sobre a Amazônia e outras questões, e rostos cada vez mais céticos em lugares como a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, afastarão os investimentos enquanto afundam as esperanças de novos acordos comerciais”. O Globo publicou a tradução desse texto.
“Se não houver uma mudança de atitude importante das autoridades brasileiras, será muito difícil que os dois países venham a ter uma relação aceitável”, argumentou Arturo Valenzuela, veterano do Departamento de Estado dos EUA nos governos Clinton e Obama, em entrevista ao Valor. Para ele, a Casa Branca de Biden não será “rancorosa” com o Brasil de Bolsonaro, mas deve insistir por mudanças em temas centrais da agenda internacional norte-americana, como a questão climática.
O mercado financeiro já está antecipando parte dessa expectativa negativa. Como Ernani Fagundes explicou no Estadão, especialistas em mercados de capitais sugerem que a imagem do Brasil no exterior em questões ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) pode atrapalhar na atração de aplicações internacionais em 2021.
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Imagem: Outras Palavras