Os militares que comandam o ICMBio sob a gestão Salles resolveram censurar a produção científica de seus pesquisadores, obrigando-os a apresentar eventuais estudos e relatórios à direção do órgão antes da submissão às revistas científicas. Segundo Fabiano Maisonnave, na Folha, a portaria 151 publicada na semana passada delega à Direção de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio “a competência para autorizar previamente a publicação de manuscritos, textos e compilados científicos produzidos no âmbito e para este Instituto em periódicos, edições especializadas, anais de eventos e afins”. Tal Direção é comandada pelo tenente-coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, Marcos Aurélio Venancio.
A Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema), que representa os profissionais do ICMBio, acusa a direção do órgão de tentar controlar não apenas a produção acadêmica dos pesquisadores, mas também a opinião deles. Servidores ouvidos por Maisonnave afirmaram que a portaria prejudicará dezenas de pesquisas científicas desenvolvidas paralelamente ao trabalho no ICMBio, e que a “mordaça” imposta pela direção militar vai contra a missão do órgão de promover a produção de conhecimento científico.
Em tempo: A deputada Carla Zambelli foi confirmada na 6a feira (12/3) como presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Neófita em assuntos ambientais e conhecida pela defesa radical do governo Bolsonaro no Congresso, Zambelli não perdeu tempo e, já em seu primeiro dia no posto, tentou aliviar a barra do Planalto sobre o desgoverno ambiental vivido pelo Brasil nos últimos anos. Em entrevista ao Estadão, ela isentou o governo de qualquer responsabilidade sobre o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, colocando a culpa na “mudança climática”. A falta de familiaridade com o tema explica em parte o absurdo da afirmação – afinal, não se tem registro de que a mudança do clima aumente a disponibilidade de motosserras nas mãos de madeireiros e grileiros. O mais curioso, no entanto, é a indisposição da deputada em comentar se ela acredita que a mudança do clima está sendo causada pelos seres humanos. “Prefiro não falar sobre esse assunto agora”. Ok, teremos dois anos pela frente para falar bastante desse assunto deputada.