A reação inicial na Europa à saída de Ernesto Araújo do comando do Itamaraty foi o ceticismo, já que o ex-chanceler jamais foi visto como o principal nome da diplomacia brasileira sob Bolsonaro, mas sim como um mero cumpridor de ordens do presidente e de seu filho, o deputado federal e ex-candidato a embaixador nos EUA, Eduardo Bolsonaro. Como Assis Moreira escreveu no Valor, as reticências dos governos europeus têm menos a ver com Araújo e mais com as posições históricas e explícitas de Bolsonaro em agendas como meio ambiente e Direitos Humanos, fora o desastre da pandemia no Brasil. “Um novo chanceler, dependendo de seu perfil, pode até minimizar o estrago que leva o país a ser chamado de pária na cena internacional. Mas a cara do Brasil não é o chanceler, é o presidente”, apontou Moreira. A Deutsche Welle fez um apanhado da cobertura da queda de Araújo pela imprensa europeia.
Com a bagunça que virou Brasília nos últimos dias, Mathias Alencastro e Justin Talbot Zorn sugeriram na revista Foreign Policy que a gestão Biden nos EUA busque articular a cooperação com o Brasil não apenas no nível federal, mas também com os governos estaduais e municipais. A lógica é simples: por conta da incerteza em torno do compromisso real de Bolsonaro com o enfrentamento da pandemia e do desmatamento na Amazônia, um diálogo direto com as autoridades locais garantiria que recursos e esforços importantes nesse sentido não sejam desperdiçados. “A julgar pela história recente, os EUA não devem esperar por uma mudança de curso por Bolsonaro. A melhor maneira de buscar mudanças rápidas é desenvolver novos laços diretos com os governos estaduais e regionais”, escreveram.
Em tempo: Um grupo de 40 deputados da Alemanha, encaminhou uma carta na última 6ª feira (26/3) aos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, pedindo que eles não pautem para votação projetos de lei que flexibilizam regras de proteção do meio ambiente e de Comunidades Tradicionais e Indígenas. O texto cita em particular três propostas em discussão atualmente no Congresso Nacional: a que regulariza a mineração em Terras Indígenas (PL 191/2020), a da regularização fundiária (PL 2.633/2020 da Câmara e PL 510/2021 do Senado), e a do licenciamento ambiental (PL 3.729/2004 e aditivos na Câmara, e PL 168/2018 do Senado). “Avançar com essas propostas legislativas põe em risco nossas relações atuais e futuras, pois temos o compromisso de nos alinhar ao Acordo de Paris sobre o Clima, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e ao respeito pelos Direitos Humanos”, argumentaram os parlamentares alemães. A Deutsche Welle destacou essa carta.