O momento não poderia ser pior. Na semana em que o Brasil volta aos holofotes internacionais por conta da questão ambiental, Ricardo Salles vive uma de suas piores crises à frente do ministério do meio ambiente. A polêmica em torno de seu envolvimento na defesa de madeireiros investigados pela Polícia Federal em uma operação que resultou na maior apreensão de madeira ilegal da história ganhou dimensão maior nos últimos dias, com a substituição do superintendente da PF responsável pela ação, em meio a acusações públicas de interferência política do ministro nas investigações.
Em Brasília, a situação de Salles é delicada. O Congresso em Foco destacou a impressão de alguns parlamentares, que colocam o ministro como a “bola da vez” no empurra-empurra político entre Bolsonaro e os aliados políticos do Centrão. Para Renata Lo Prete, no podcast O Assunto (G1), Salles virou um “Ernesto Araújo”, alvo de críticas cada vez mais pesadas de parlamentares e operadores partidários dentro e fora do Congresso. No Correio Braziliense, o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (AM), cobrou uma “ação enérgica” por parte do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para investigar o envolvimento de Salles em favor dos madeireiros. Ao site O Antagonista, Ramos não economizou nas palavras para desancar o ministro: para ele, Salles “está do lado dos criminosos”.
Enquanto isso, a notícia-crime encaminhada ao Supremo Tribunal Federal pelo delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da PF no Amazonas, quem acusou Salles de interferir nas investigações contra os madeireiros, será relatada pela ministra Cármen Lúcia. Caberá à ministra do STF definir sobre a abertura de inquérito contra o ministro do meio ambiente. A decisão não tem prazo para ser tomada. Por outro lado, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União entrou com um pedido para que a corte determine o afastamento cautelar de Salles por causa das acusações feitas pelo delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da PF no Amazonas, contra o ministro. A representação, assinada pelo procurador Lucas Rocha Furtado, sustenta que Salles pode aproveitar o cargo para interferir nas investigações da PF e dificultar ou protelar a apuração das denúncias. Congresso em Foco, Correio Braziliense e O Globo deram mais detalhes.
Em tempo: Servidores do Ibama criticaram as mudanças feitas por Salles no processo de autuação de crimes ambientais. Segundo informou André Borges no Estadão, analistas ambientais do órgão sustentam que a nova norma “tornou impraticável os procedimentos vinculados à fiscalização ambiental, provocando o risco de paralisia imediata das atividades”. Para eles, há diversas inconsistências nessa norma, o que prejudica a emissão dos autos de infração e cria insegurança jurídica em torno do procedimento a ser seguido pelos fiscais.