Mulheres Indígenas lançam manifesto em defesa de Sonia Guajajara

Liderança indígena foi intimada pela PF com base na Lei de Segurança Nacional, acusada de difamar o governo federal

Redação Brasil de Fato

A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) lançou uma carta em apoio a Sônia Guajajara, uma das Coordenadoras da Articulação dos Povos Indígena do Brasil (Apib).

Guajajara foi intimada pela Polícia Federal (PF), acusada de “difamar” o governo federal em inquéritos abertos pela Fundação Nacional do Índio (Funai), depois do lançamento das críticas feitas pela líder indígena ao governo federal na websérie Maracá – Emergência Indígena.

Na carta, a associação afirma que a voz de Guajajara foi e é “fundamental” no processo de conquista dos espaços de comunicação, que só “foi possível com a construção e diálogo realizado entre várias lideranças mulheres e caciques”. Para as mulheres, Guajajara “representa as anciãs, mulheres, mães e indígenas”.

“O racismo de gênero é visível neste governo, imagina para uma indígena mulher que leva consigo milhares de vozes de outras mulheres que sonham com dias melhores e sem violações de seus corpos e territórios. A violência praticada por essa instituição chamada Funai, órgão que deveria proteger os direitos indígenas, nos envergonha enquanto mulheres”, continuam.

No dia 30 de abril, Guajajara informou nas redes sociais que foi intimada pela PF e disse que “a perseguição desse governo é inaceitável e absurda! Eles não nos calarão!”. A Apib se manifestou em nota: “Não irão prender nossos corpos e jamais calarão nossas vozes. Seguiremos lutando pela defesa dos direitos fundamentais dos povos indígenas e pela vida.”

Comissão Arns

A Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos também se manifestou sobre o caso. Em nota, declarou que “a Funai, em vez de cumprir a sua missão institucional de proteger os direitos constitucionais dos povos indígenas, denunciando violações a esses direitos no contexto da pandemia, assim como combatendo as invasões cada vez mais catastróficas das terras indígenas, vem se prestando ao constrangedor papel de silenciar denúncias e intimidar indígenas – neste caso, com o auxílio inescusável da PF”.

Para a comissão, “Guajajara vem sendo indevidamente acusada de difamar o governo federal” e “cumpre à sociedade brasileira repudiar essa afronta aos direitos de lideranças indígenas, bem como ao Ministério Público e à Câmara dos Deputados apurar, por meio de medidas claras e objetivas, as responsabilidades pela prática de mais um ato de arbítrio, por parte daqueles que não sabem e não querem conviver em um regime em que impere a liberdade e a democracia como corolário a oposição e contestação. A Comissão Arns deplora mais uma demonstração de desapreço e menoscabo pelos povos indígenas”.

Emergência Indígena

A websérie, que tem oito episódios e está disponível nas redes sociais da Apib, mostra o abandono dos povos indígenas durante a pandemia no Brasil e denuncia a falta de ação do governo federal para combater o avanço do coronavírus nas aldeias.

O boletim epidemiológico da Apib do último dia 30 mostra que 1.059 indígenas já morreram, em decorrência da Covid-19, e já são 53.329 casos confirmados.

Através do depoimento de lideranças indígenas de todo o país, como Sônia Guajajara, Cacique Raoni, Marcos Xukuru, Kretã Kaigang e Shirley Krenak, a websérie trata, também, sobre o avanço do governo federal nos territórios dos povos originários.

No episódio 8, o narrador afirma: “Em 2019, a cada minuto foram derrubadas mais de mil árvores ilegalmente na Amazônia. O estado do Amazonas registrou maior número de queimadas dos últimos 22 anos. O governo Bolsonaro tenta legalizar o crime de garimpo em território indígena. O agronegócio governa o país e amplia as políticas de violências contra a vida dos povos indígenas em todo o país.”

Edição: Vinícius Segalla

Foto: APIB

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