Jornada Anti-Imperialista pelo Meio Ambiente: Povo vivo! Floresta em pé!

Protestos e ações de mobilização lembraram o Dia Mundial do Meio Ambiente e pedem a saída de Bolsonaro

Por Fernanda Alcântara, na Página do MST

Em um ano em que o desmatamento na Amazônia e a liberação de agrotóxicos são os maiores dos últimos dez anos, não houve muito o que comemorar no Dia do Meio Ambiente, no último sábado (05/6). Entretanto, diversos movimentos e organizações populares aproveitaram a data para denunciar as políticas do governo Bolsonaro contra o povo brasileiro e o meio ambiente e levantar a bandeira com o lema: “Povo Vivo! Floresta em Pé! Fora Bolsonaro!”.

Articulados pela Jornada Anti-imperialista pelo Meio Ambiente, o MST e alguns movimentos populares realizaram atos em várias regiões do país para chamar a atenção aos ataques à agricultura camponesa, aos povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais.

Atualmente, os povos do campo, das águas e das florestas são parte das barricadas em defesa da vida humana e da natureza. Seja na defesa dos territórios, seja compartilhando sementes, mudas nativas e alimentos saudáveis, os povos tradicionais protegem e promovem a diversidade de vidas nos diferentes biomas do Brasil e são responsáveis pela preservação de cerca de 30% da biodiversidade brasileira.

Em entrevista exclusiva, Katia Penha, coordenadora nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), comentou sobre a importância da Jornada e como, em quatro dias antes do dia do meio ambiente, o presidente da Fundação Cultural Palmares revogou a Instrução Normativa que garantia a proteção ambiental em torno dos territórios dos quilombos no país.

Ao analisar a política de destruição ambiental de Bolsonaro, Katia apontou que os povos do campo, das águas e das florestas não tem o que comemorar pois a devastação ambiental promovida por esse governo ameaça a sobrevivência desses povos. Nesse sentido, segundo ela os povos quilombolas não tem o comemorar em relação ao meio ambiente, mas acreditam que é fundamental seguir na luta pela “recuperação das áreas [para que] possamos ter água e alimento na mesa de brasileiros e brasileiras do campo e da cidade, porque todo o quilombo defende o meio ambiente e todo quilombo deve ser protegido”, pontua Katia.  

Mas as violações de direitos cometidas atualmente não param por aí. Corporações de mineradoras e hidrelétricas, assim como as grandes queimadas, têm sido promovidas pelo latifúndio e pelo agronegócio, são parte das ações e políticas do governo federal em aproveitar a pandemia para “passar a boiada”. Assim, a necropolítica brasileira promovida pelo governo Bolsonaro também está associada ao desmatamento e os ataques aos povos tradicionais pelo garimpo ilegal e a ampliação do latifúndio.

Frente a estes desafios, os atos buscaram dialogar com a sociedade brasileira e internacional, mas sempre cumprindo as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para contenção da pandemia do Coronavírus. Além das manifestações no Distrito Federal e em algumas capitais, a Jornada Anti-Imperialista pelo Meio Ambiente incluiu atividades descentralizadas em territórios de norte a sul do país como o plantio de árvores, doação de mudas e de cestas de alimentos.

Confira algumas destas ações:

Internacional

A Brigada Samora Machel realizou mobilizações em torno do Dia Internacional do Meio Ambiente no continente africano, na Zâmbia e na África do Sul.

Sul

Famílias Sem Terra do assentamento Contestado, na Lapa (PR), organizam o plantio de 3 mil mudas de árvores na área de proteção da cachoeira e do poço artesiano. Foram plantadas 300 mudas de árvores nativas às margens do Córrego Clarito, em Cascavel (PR), onde também foi relembrado o assassinato de Valmir Mota (Keno). Também em Cascavel, representantes de partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais, finalizaram as ações do Dia Mundial do Meio Ambiente com uma caminhada ecológica para contemplação e registro fotográfico das espécies nativas em uma área de aproximadamente 280 alqueires de Mata Atlântica, protegida pelas famílias Sem Terra do Acampamento Resistência Camponesa, há mais de duas décadas.

Em Santa Catarina, as famílias Sem Terra do assentamento Filhos do Contestado, em São Cristóvão do Sul (SC), plantaram 200 árvores no Bosque da Solidariedade.

No Rio Grande do Sul, no Meio Ambiente a juventude da Frente Brasil Popular de Candiota realizou atividade simbólica de denúncia, em frente à Termoelétrica da Eletrobrás no município, contra a privatização da empresa pública.

Nordeste

Em Maceió (AL), 100 mudas frutíferas vindas das áreas de Reforma Agrária da Zona da Mata de Alagoas são plantadas na comunidade da Muvuca por moradores da região e representantes do MST, MTD e MMC. No município de Atalaia, na Zona da Mata, o MST doou cerca de 1.000 mudas para relembrar o Dia do Meio Ambiente. Em Taquarana (AL), o Coletivo de Juventude do acampamento 1º de Outubro realizou o mutirão de limpeza do riacho na comunidade. Em Piranhas(AL), foram plantadas cerca de 100 mudas de árvores, nas margens do rio São Francisco. No Sertão de Alagoas, o MST colocou faixas na ponte da divisa de Alagoas e Sergipe, às margens do rio São Francisco.

Em Caruaru (PE) foi realizado o plantio de Pau Brasil e Baobá no bairro do Santa Rosa, no bosque da UFPE/CAA. E nos Acampamentos Marielle Franco e Antônio Cândido, localizados na cidade de Goiana os Sem Terra plantaram mais de 500 árvores.

Amazônica

Nos acampamentos Terra Cabana e Chico Mendes, em Benevides (PA), um ato simbólico denunciou à política de devastação da Amazônia do governo Bolsonaro.

Em Rondônia, a juventude dos movimentos da Via Campesina (MAB, MPA, MST) e Levante Popular da Juventude realizaram atos simbólicos em Porto Velho, em frente a Superintendência do IBAMA no estado, denunciando o desmonte do MMA e das políticas ambientais pelo governo Bolsonaro e em frente ao CPA (sede do governo estadual) denunciando a recente aprovação da redução de duas unidades de conservação no estado. As mobilizações em defesa do Meio Ambiente também seguiram com faixaços e o plantio de árvores, nos municípios de Jaru e  Ariquemes. E ato de denúncia no Rio Jaru e Rio Jamary, um dos principais afluentes do Rio Madeira.

No Maranhão, o MST e a Via Campesina, em parceria com outros movimentos, realizam uma ação no Quilombo da Mamuna, em Alcântara. Em Imperatriz, o MST marcou a data com um ato em frente ao IBAMA para denunciar a destruição da Amazônia. Na capital São Luís, os prédios do IBAMA, REFESSA e Ministério da Economia (unidade descentralizada) receberam as projeções pedindo cadeia para Salles, em defesa do Meio Ambiente e contra a entrega da base de Alcântara!

DF e Centro-Oeste

Em Brasília,movimentos sociais, sindicatos e organizações populares se mobilizaram em um ato simbólico na Esplanada dos Ministérios, em frente ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e ao Congresso Nacional. O ato denunciava as ações de destruição ambiental promovidas pelo Governo Bolsonaro e Ministro Salles, e anunciou as ações de resistência da agricultura camponesa, povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Uma ação com cruzes denunciou as mais de 470 mil mortes por Covid-19 no Brasil e faixas denunciaram os crimes ambientais cometidos pelo governo Bolsonaro. Uma árvore montada no gramado da esplanada com alimentos agroecológicos e mudas de árvores simbolizava a resistência popular frente à esses ataques. No Distrito Federal, foram doados 1,5 toneladas de alimentos agroecológicos dos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária e realizado o plantio de cerca de 500 mudas de árvores, em territórios da Reforma Agrária.

A juventude Sem Terra do assentamento Mártires da Terra, em São Bento do Tocantins (TO), plantou mudas de árvores frutíferas no assentamento. Em Goiânia, Goiás o MST e ASIBAMA doaram cerca de 500 mudas de árvores.

Sudeste

O MST em Pontal do Paranapanema (SP) fez a entrega de cestas com alimentos saudáveis em Rosana e em Presidente Prudente. Crianças Sem Terrinha da Agrovila Che Guevara, em Mirante do Paranapanema, realizaram plantio de árvores e ervas medicinais nos arredores Escola Estadual Santa Clara. O MST e o Armazém do Campo também distribuíram mudas na cidade de São Paulo e foi realizado o plantio de mudas na Comuna da Terra Irmã Alberta, assentamento do MST.

No Rio de Janeiro, a deputada estadual Renata Souza visitou o PDS Osvaldo de Oliveira e o Acampamento Edson Nogueira, experiências agroecológicas do MST em Macaé.

Manifestações do Dia do Meio Ambiente ocorreram em todo o país. Foto: Eduardo Moura

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