A saída de Ricardo Salles do ministério do meio ambiente não é vista pelos governos dos EUA e da Europa como suficiente para que confiem nos compromissos e ações do governo brasileiro no tema ambiental. O Painel da Folha informou que embaixadores da União Europeia, Noruega e Reino Unido relataram a parlamentares brasileiros na semana passada que ainda não viram gestos concretos do governo Bolsonaro para conter o desmatamento.
Para os diplomatas europeus, a preocupação não se limita ao Executivo: no Legislativo, o avanço de projetos polêmicos, como o da flexibilização do licenciamento ambiental e o da regularização fundiária, também levanta suspeitas quanto ao engajamento ambiental do país. Como O Globo destacou, sem Salles, o Centrão assumiu o comando da “boiada” antiambiental em Brasília, pautando e aprovando sucessivos projetos que prejudicam ainda mais o meio ambiente.
O governo norte-americano estuda nomes para a embaixada no Brasil depois da saída de Todd Chapman. Segundo Marina Dias e Ricardo Della Coletta informaram na Folha, a ideia da Casa Branca é ter um representante com facilidade em assuntos centrais para o diálogo atual entre os dois países – comércio e meio ambiente.
O governo Biden tenta negociar um acordo para a proteção da Amazônia com a gestão Bolsonaro, mas o esforço vem esbarrando em divergências sobre a condicionalização de eventuais recursos financeiros e metas mensuráveis de redução do desmatamento. O novo embaixador herdará essa negociação e terá o desafio de destravá-la em tempo para a COP26, no final do ano.
Ainda na seara da política externa, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados realizou na semana passada uma audiência virtual para debater a participação do Brasil no Programa Internacional de Ação sobre o Clima (IPAC), recém-criado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O país foi convidado pela direção da entidade para participar da iniciativa, mas o governo Bolsonaro ainda não deu uma resposta.
Representantes do Itamaraty confirmaram que o Brasil tem interesse em participar do IPAC, mas que o projeto ainda tem “controvérsias a serem superadas”, segundo a Agência Câmara. Ao mesmo tempo, parlamentares da oposição e representantes da sociedade civil ressaltaram que veem com desconfiança o interesse brasileiro em participar da iniciativa, considerando o persistente desgoverno ambiental do país.
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Divisa ente o Território Indígena do Xingu e o entorno mostra contraste entre a floresta e a plantação|Manoela Meyer|ISA