O “cardeal do Brasil” faria 100 anos nesta semana: audiência pública faz homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns

“Onde houver erro,

que eu leve a verdade

Onde houver desespero,

que eu leve a esperança

Onde houver tristeza,

que eu leve a alegria

Onde houver trevas, que eu leve a luz,

Trecho da oração de São Francisco de Assis.

Pedro Calvi / CLP​

Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em Forquilinha (SC), em 14 de setembro de 1921. Foi frade franciscano e cardeal brasileiro. Em 1970, como arcebispo metropolitano de São Paulo, começou a marcar atuação junto às populações vulneráveis.

“À frente da arquidiocese, ele buscou aproximar a igreja da sociedade, ao lado de quem mais precisava e deu prova desse compromisso inúmeras vezes ao longo da vida. Chegou a vender o palácio episcopal usou o dinheiro arrecadado para criar centros comunitários na periferia”, destaca o deputado Waldenor Pereira (PT/BA), presidente da Comissão de Legislação Participativa da Câmara do Deputados (CLP).

Para celebrar os 100 anos de nascimento do cardeal, a CLP promoveu uma audiência pública, para rememorar a atuação pastoral de Arns, sempre voltada aos moradores da periferia, aos trabalhadores, aos mais pobres e em defesa dos direitos humanos.

Em meio à ditadura, trabalhar pelos mais vulneráveis, exigia também oposição ativa à tirania. Administrou a arquidiocese de São Paulo durante os anos de chumbo. Não lhe faltou coragem para denunciar as mortes e as torturas perpetradas pelas autoridades. Fez chegar a Jimmy Carter, então presidente dos Estados Unidos, uma lista de desaparecidos políticos”, lembra a deputada Luiza Erundina (PSOL/SP), que propôs a realização do encontro.

Dom Joel Portella Amado, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil relembra que, durante o seu trabalho durante os anos da ditadura civil e militar “foi um ícone na defesa dos desamparados e perseguidos. Suas palavras sempre trouxeram alento aos cristãos, lutando contra a tortura e pelo restabelecimento da democracia. Dom Paulo, mesmo nos momentos mais difíceis não se negava a dialogar, sempre atuando pela unidade e pela comunhão. Tratou todas as pessoas com respeito, principalmente quem pensava diferente dele. Era chamado ‘cardeal do Brasil’”.

Habeas corpus

“Na América Latina, a própria presença dele era um habeas corpus. Dedicou-se a combater a tortura até há pouco tempo negada no Brasil e que, mais recentemente, passou a ser justificada e até defendida pelo atual presidente da República. Ajudou a criar as convenções interamericanas e universal contra a tortura. Entre os mecanismos, visitas inesperadas aos centros de detenção”, Belisário dos Santos Júnior, ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo.

Anita Wright, filha do pastor Jaime Wright, lembrou a união entre o pai e Dom Paulo entre 1979 e 1985.  Do trabalho clandestino e conjunto com militantes de direitos humanos resultou o Projeto Brasil: Nunca Mais, que foi transformado em livro. “O livro trouxe uma pesquisa que reuniu um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar (STM) e que poderiam ser queimados a qualquer momento. E, assim, para que nunca se esqueça e para nunca mais aconteça. Falar de Dom Paulo hoje é trazer à memória o que nos dá esperança”.

Paulo Pedrini, educador e historiador, trouxe como lembrança a participação de Dom Paulo Evaristo Arns nas celebrações pelo Dia do Trabalhador, 1º de maio. “Pedia que disséssemos o que ele deveria falar, porque sabia que os trabalhadores é que tinham a experiência da vida para aquele momento. Ele sempre estará presente em nossas mentes e corações. Mas principalmente em nossas ações”.

A parlamentar Erika Kokay (PT/DF) lembra que o cardeal “sempre usavaa palavra coragem para que continuássemos seguindo, e a coragem é alimentada pela fé, fé na vida e no outro. Ele sempre significava uma possibilidade de esperança, com uma história de resistência com serenidade e firmeza”.

O caminho 

Em 1972, como presidente da Regional Sul-1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação de “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime. No mesmo ano, Dom Paulo criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo.

Em 1973, presidiu a “Celebração da Esperança”, em memória de Alexandre Vannucchi Leme, estudante universitário morto pela ditadura. No ano seguinte, apresentou ao governo militar um dossiê sobre casos de 22 desaparecidos políticos.

Incentivou a criação da Pastoral da Moradia e a manutenção e crescimento da Pastoral Operária.

Em 1985, o cardeal criou ainda a Pastoral da Infância, com o apoio da irmã Zilda Arns, que morreu em consequência do terremoto de 2010 no Haiti.

Arns faleceu em 14 de dezembro de 2016.

“Dom Paulo é sinal de esperança e de vida. Viva Dom Paulo, a democracia e a liberdade!”, padre Júlio Lancellotti, que atua em prol dos direitos humanos, principalmente em relação à população de rua em São Paulo.

A íntegra da audiência pública, em áudio e vídeo, está disponível na página da CLP no site da Câmara dos Deputados.

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