Poderosos debochados. Por Sérgio Miguel Buarque*

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Não se engane. Esses senhores brancos, ricos e poderosos estão rindo de nós.

As cenas do jantar que mostram ex-presidente Michel Temer, junto com um punhado de representantes da “elite” paulistana, rindo de uma imitação do presidente Jair Bolsonaro, poderiam ter saído de um esquete do Monty Python (os mais novos podem dar um Google). Mas esqueça qualquer traço de humor na situação. As imagens daqueles homens debochando da tragédia em que estamos mergulhados retratam a total falta de respeito que eles têm pela esmagadora maioria da população brasileira. Além de uma afronta, aquelas imagens são uma verdadeira aula de semiótica.

Concordo com Carol Monteiro – que, além de cofundadora da Marco Zero e diretora da Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pernambuco, é professora de semiótica – quando ela disse no Podcast Arrumadinho que todos os signos estão lá. A posição das pessoas, a cor da pele, a total ausência de mulheres, os temas tratados… Tudo alí parece velho e antiquado, como as ideias daqueles homens.

O cenário também é revelador. Todos sabem que eles estão no apartamento do empresário, investidor e suspeitíssimo Naji Nahas. Mas parece o interior de um castelo. Tem lustre, tem vaso que parece ser de porcelana chinesa, ao redor das portas há colunas e ornamentos nos tetos que lembram de forma muito vaga, mas ainda perceptível, a decoração do castelo de inverno em São Petersburgo, residência dos antigos czares russos.

É o retrato da elite do atraso. Mesmo assim, eles se sentem confortáveis com tudo que está ali. Afinal, as imagens foram gravadas pelo próprio marqueteiro de Michel Temer que sabia muito bem o que estava fazendo.

Sérgio Miguel Buarque é cofundador e coordenador executivo da Marco Zero

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