Polícia intima professora por conteúdo “esquerdista” e de “doutrinação feminista”

por Rafael Bruza, em Portal Democracia

Uma professora de filosofia do colégio estadual Thales de Azevedo, em Salvador (BA), recebeu uma intimação para comparecer à Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente, após uma aluna realizar queixa na polícia sobre o conteúdo de suas aulas, considerado por ela “enviesado”, de cunho “esquerdista” e com linguagens de “doutrinação feminista”.

Após a intimação, a professora ficou emocionalmente abalada e precisou ser levada a um hospital para atendimento médico, segundo a divisão da Bahia da Associação dos Professores Licenciados do Brasil (APLB).

Em sala de aula, a docente – que não teve nome identificado na imprensa –  aborda questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade social.

A intimação da polícia revoltou a diretoria do colégio estadual Thales de Azevedo, que publicou nota classificando a intimação como uma “censura” à professora e um atentado à liberdade de cátredra e autonomia pedagógica.

“A intimação policial direcionada à professora censura seu exercício laboral e afronta todo o corpo docente”, afirma a nota do colégio. “Infelizmente, as alegações de que os conteúdos curriculares das ciências humanas são de cunho ‘esquerdista’ e os conteúdos de linguagens são de ‘doutrinação feminista’ têm provocado o enviesamento dos conhecimentos historicamente construídos e dos fenômenos sociais, em silenciamento dos docentes”, diz a nota.

A aluna procurou a delegacia acompanhada da mãe por discordar da temática abordada pela professora nas aulas de filosofia.

Segundo um grupo de professores da escola, a jovem perseguia a professora e tinha comportamento pouco amistoso com ela, antes de registrar a queixa.

Em outro episódio, segundo a ALPB, a mãe da estudante responsável pela queixa na polícia invadiu o espaço de aula online de inglês para exigir explicações sobre o conteúdo apresentado, que na visão dela seria feminista.

Além disso, em agosto, no mesmo colégio, um grupo de estudantes, pais e mães divulgou uma nota com críticas a professores palestrantes, após a realização de um seminário online da escola.

“A direção da APLB-Sindicato lamenta profundamente as ocorrências e reitera o apoio jurídico e psicológico à professora, exigindo a apuração dos fatos ocorridos”, diz nota da associação.

A entidade afirma que grupos de extrema-direita realizam tentativas de intimidação, coação e pressão psicológica para “cercear a livre expressão e tumultuar aulas e algumas atividades propostas pelos professores”.

“Não vamos permitir que isso aconteça. Vamos dar todo o apoio para a comunidade escolar do Thales de Azevedo, principalmente à professora que foi intimada, bem como disponibilizar nossos advogados para acompanhá-la no dia da audiência”, disse Rui Oliveira, coordenador da associação.

A entidade promete acionar a Assembleia Legislativa e a Câmara de Vereadores para pedir apoio aos profissionais da escola.

A direção do colégio, a sua vez, pede mobilização de entidades e movimentos sociais que defendem a educação pública, gratuita e laica contra a perseguição a professores.

Veja nota completa da direção da escola:

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.

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