A quem serve a oposição entre judeus e negros?

Por André Vereta Nahoum, Benjamin Seroussi, Breno Benedykt, Clarisse Goldberg, Iara Rolnik, Iris Kantor, Lia Schucman, Marcelo Semiatzh, Maurice Jacoel, Patricia Tolmasquim, Raquel Rolnik, Thais Lancman, em nome dos Judeus pela Democracia SP

Fonte: Folha de S.Paulo

No debate público sobre relações raciais, não poucas vezes judeus e negros foram colocados em campos opostos por diversos motivos e circunstâncias históricas. A frequente associação entre a condição judaica e a branquitude revela a força da ideologia do embranquecimento em nosso país.

Reiteradamente o imaginário que associa os judeus à branquitude é mobilizado para legitimar discursos com tonalidades racistas, fascistas e até mesmo nazistas. No campo da extrema direita, “os judeus” têm sido evocados para dizer “nós não somos nazistas, temos judeus junto com a gente” —como tem recorrentemente acontecido nos discursos bolsonaristas. Ao dissociarmos as lutas antirracistas de judeus a negros deixamos de aprender o que é essencial, uma vez que, em diferentes circunstâncias e articulações, negros e judeus compartilharam as mesmas lutas, no passado e no presente.

No debate público sobre relações raciais, não poucas vezes judeus e negros foram colocados em campos opostos por diversos motivos e circunstâncias históricas. A frequente associação entre a condição judaica e a branquitude revela a força da ideologia do embranquecimento em nosso país.

Reiteradamente o imaginário que associa os judeus à branquitude é mobilizado para legitimar discursos com tonalidades racistas, fascistas e até mesmo nazistas. No campo da extrema direita, “os judeus” têm sido evocados para dizer “nós não somos nazistas, temos judeus junto com a gente” —como tem recorrentemente acontecido nos discursos bolsonaristas. Ao dissociarmos as lutas antirracistas de judeus a negros deixamos de aprender o que é essencial, uma vez que, em diferentes circunstâncias e articulações, negros e judeus compartilharam as mesmas lutas, no passado e no presente.

O artigo publicado por Antonio Risério nesta Folha (“Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo”, 16/1) faz uma seleção arbitrária de manifestações antissemitas, partindo de episódios pontuais. Ele recorre à existência de um antissemitismo negro como demonstração da sua “tese” sobre o racismo reverso (racismo de negros contra brancos). Contudo, convém lembrar que o racismo produz desigualdades que afetam dimensões da vida social e dos indivíduos de maneira diversa. É importante reforçar as distinções entre preconceito racial, discriminação racial e racismo.

O antissemitismo no Brasil se manifesta sob a forma de preconceito racial, reduzindo a diversidade interna à suposição de qualidades ou vícios morais inatos por sermos judeus. Sim, o ataque antissemita pode vir de todos, e isso inclui brancos e negros, mas não podemos dizer que tal fenômeno seria da mesma ordem do racismo antinegro. Ou seja, o preconceito que sofremos, que certamente tem conotação racial e religiosa, não se transforma no Brasil numa desigualdade ou perda de direitos; diferentemente do que ocorreu na Alemanha nazista, onde o antissemitismo estruturou as ações do Terceiro Reich.

A compreensão de Risério sobre racismo ignora estranhamente que o racismo se define por emular relações hierárquicas e assimétricas, relações construídas e sedimentadas historicamente para que os indivíduos ocupem lugares diferentes, superiores ou inferiores, na estrutura social. Ao sugerir uma falsa simetria de posições sociais, o autor estabelece equivalências implausíveis entre agressões individuais e casos isolados com estruturas de poder econômico, político e jurídico. Exatamente por isso vemos a necessidade de diferenciar os atos de racismo, de preconceito racial, de injúria racial e de discriminação.

Consideramos a polêmica enviesada, sobretudo no atual contexto de acirramento ideológico e polarização política. A luta contra o antissemitismo é também uma luta antirracista. Quem luta contra o antissemitismo, mas não defende os grupos sociais racialmente discriminados (indígenas e negros), não amplia o debate democrático, apenas polemiza. Em um país onde em média 75 jovens negros são assassinados por dia e que negros, pardos e indígenas compõem 75% das pessoas que vivem em situação de pobreza, nós, Judeus Pela Democracia – São Paulo, afirmamos nossa posição antirracista em sintonia com os movimentos negros brasileiros que denunciam, há décadas, os efeitos perversos do racismo estrutural em nosso país.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Trajber.

Foto: Getty Images

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