Exploração de petróleo pela ExxonMobil no São Francisco pode afetar 52 unidades de conservação

Para especialista, falta transparência da Exxon Mobil no processo e na comunicação com ribeirinhos e povos tradicionais

Lucila Bezerra, Brasil de Fato 

A empresa multinacional Exxon Mobil se prepara para explorar petróleo em um trecho próximo à bacia do rio entre Alagoas e Sergipe, perto do estuário do Rio São Francisco, para o chamado Projeto SEAL, que pode afetar 52 unidades de conservação.

A atividade pode ter impacto direto em diversas comunidades que tiram seu sustento das atividades econômicas do Velho Chico. Entre elas, pessoas como a pescadora e integrante da Federação de Pescadores do Estado de Alagoas, Maria Aparecida da Silva. “Olha, a minha história na pesca eu começo praticamente criança, aos 4 anos de idade, no Jaraguá, que é o grande centro pesqueiro da capital, o Mercado de Jaraguá. E, assim, venho de uma família totalmente de pescadores – tios, irmãos, primos, enfim”, é assim que ela conta como chegou ao ofício da pesca artesanal. 

Entre os pescadores, a história de Maria Aparecida não é incomum. Mas a tradição da pesca artesanal na região do Baixo São Francisco, em Alagoas, e o próprio rio podem estar ameaçados pelo projeto de exploração de petróleo..

Pesquisadores que vêm acompanhando a equipe técnica que estuda os possíveis impactos ambientais veem a situação com preocupação, principalmente se houver vazamento. “Esse óleo pode chegar a mais de 15 quilômetros continente adentro, entrando nas cidades de Brejo Grande (SE), Piaçabuçu (AL), chegando próximo à divisa com Penedo (AL), dependendo da vazão do São Francisco. Então uma situação que realmente a gente precisa ficar atento”, como aponta o pesquisador e professor da Universidade Federal de Alagoas, Emerson Soares, que atua na região desde 2007.

Ele aponta que há pouca transparência no processo. “Está faltando ainda, no meu ponto de vista, mais cuidado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) sobre esta situação, um pouco mais de transparência e de informações da própria empresa. E isso precisa chegar para as comunidades tradicionais, precisa chegar de forma mais clara e mais debatida para toda a população da região” afirma.

No trecho entre Alagoas e Sergipe, podem ser perfurados até 11 poços de petróleo em uma região inclui Áreas de Preservação Ambiental (APA) e berços de espécies que só existem no Rio São Francisco. “O que mais me chamou atenção dentre esses poços todos foi que aquela região ali entre Sergipe e Alagoas, primeiramente é uma região que tem desova de tartarugas de cinco espécies e a maioria delas estão ameaçadas de extinção, nós temos também a Área de Proteção Ambiental  de Piaçabuçu, o estuário do São Francisco, que é uma área prioritária para pesca”.

Até o momento, o projeto está em fase exploratória e ainda aguarda a licença do Ibama para iniciar a busca por petróleo, que pode ou não existir na região. A empresa Exxon Mobil já foi responsável por impactos socioambientais, como o vazamento de petróleo no Alasca em 1989, que ficou conhecido como maré negra.

A equipe do Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com o Ibama, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. A empresa Exxon Mobil respondeu após o fechamento da matéria em vídeo em nota, onde afirma que “está seguindo as recomendações e protocolos do Ibama. Vale ressaltar que o projeto, que ainda está em fase de pré-licenciamento, fica em alto mar e não no Rio São Francisco”.

A nota afirma que a prioridade é “preservar a saúde e a segurança da comunidade e do meio ambiente. Neste sentido, informamos que foram promovidas mais de 190 reuniões com representantes das comunidades na área de abrangência do projeto”. A empresa também disponibilizou a gravação de uma audiência pública realizada sobre o tema. 

Edição: Vanessa Gonzaga e Rebeca Cavalcante

Foto: Rio São Francisco. Foto – Severino Silva / CHESF

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