Policiais investiram contra o grupo que estava poluindo o Rio Tapajós e que contava com uma grande infraestrutura: além de máquinas poderosas, tinha até supermercado na selva para atender os garimpeiros.
Por Fantástico
O Fantástico acompanhou esta semana uma megaoperação da Polícia Federal, batizada de Caribe Amazônico, contra o garimpo ilegal na Amazônia. A ação destruiu maquinário pesado usado pelos garimpeiros e encontrou instalações com infraestrutura, com direito a igreja e até supermercado no meio da selva. Um laudo da PF concluiu que o garimpo ilegal e o desmatamento causaram a contaminação da água em Alter do Chão, no Pará – considerado o Caribe Amazônico.
Na manhã de segunda-feira (13), Polícia Federal, Ibama, Forças Armadas, Força Nacional e Polícia Rodoviária Federal chegam a vários garimpos ao mesmo tempo. Grupo que estava poluindo o Rio Tapajós contava com uma grande infraestrutura: além de máquinas poderosas, tinha até supermercado na selva para atender os garimpeiros.
Retroescavadeiras foram encontradas. A logística para apreender essas máquinas e tirá-las do garimpo é cara, demorada e arriscada. Por isso, todo o equipamento encontrado dentro das áreas de preservação é destruído ali mesmo. Dos motores que bombeiam água das cavas ao combustível para abastecer esse maquinário – que provoca destruição num ritmo assustador.
“Mineração artesanal”
Dois decretos presidenciais publicados esta semana podem facilitar o licenciamento do que definem como garimpo “artesanal e de baixa escala”. Mas dá para chamar de artesanal uma atividade que usa equipamentos de até R4 1 milhão e que provoca estragos em escala industrial?
“Esses dois decretos têm o objetivo incentivar o garimpo na Amazônia, reafirmando o garimpo, mesmo acontecendo em escala industrial, com equipamentos pesados, como sendo um garimpo artesanal. As atividades no sul do Pará vão continuar, né? E, de certa forma, está agora o governo trazendo um incentivo para que elas aumentem em toda a Amazônia. Isso é muito preocupante”, afirma Raoni Rajão, professor de Gestão ambiental da UFMG.
O governo diz que os decretos são importantes para melhorar a qualidade de vida na região.
“Um dos principais objetivos da política é justamente trazer melhores práticas, formalização, ordenamento da atividade e integração de políticas ambientais e sociais. A mineração sustentável e moderna ela traz preservação, ela compatibiliza um vetor de desenvolvimento que é extremamente relevante para as comunidades isoladas, junto com a preservação ambiental”, afirma Pedro Paulo Dias, secretário de Geologia e Mineração do Ministério das Minas e Energia.
A responsabilidade pelo desenvolvimento sustentável seria do próprio minerador.
“O jogo de palavras que está nos decretos esconde a destruição que está acontecendo na Amazônia. A gente analisou todos os municípios da Amazônia legal que tiveram expostos na extração de ouro, extração de diamante e os indicadores socioeconômicos que são importantes como saúde, educação, PIB per capita, não tiveram nenhuma melhora”, afirma Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas.
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Água enlameada pelo garimpo ameaça turismo no Tapajós. Foto: Élder Stéfano /Poraquê Turismo