Por Paula Barcellos, Revista Proteção
Faleceu ontem, vítima de câncer, a médica do Trabalho e uma das coordenadoras do site assediomoral.org, Margarida Maria Silveira Barreto. Professora e pesquisadora, foi diretora financeira adjunta da Abrastt (Associação Brasileira de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora) na gestão 2020 a 2021 e precursora em pesquisas relacionadas ao assédio moral e sexual no trabalho no país, deixando um legado para área da saúde do trabalhador, principalmente quanto aos aspectos psicossociais relacionados ao trabalho.
Graduada em Medicina com especializações em Ginecologia e Medicina do Trabalho, era doutora em Psicologia Social. Sua dissertação de mestrado “Uma jornada de Humilhações”, foi baseada em 2.072 entrevistas de homens e mulheres de 97 empresas industriais paulistas. Já a tese de doutorado sobre “Assédio Moral no Trabalho. A violência sutil”, foi baseada em 42 mil questionários enviados, dos quais 10.200 foram respondidos por trabalhadores de todo o Brasil.
Colega de trabalho, a engenheira Civil e de Segurança do Trabalho, Fernanda Giannasi, relembrou o início da parceria de trabalho entre as duas. “Eu já conhecia a Margarida desde 1991, quando ela passou por uma tragédia ao perder sua única filha. Mas o nosso trabalho se inicia em 1992, quando ela veio atuar como médica do Trabalho no Sindicato dos Químicos de São Paulo, no qual eu era também assessora na área de saúde. Em 2000, fizemos parte de uma equipe que começou a pensar no site sobre assédio moral para poder fazer este debate com a sociedade para ajudar os trabalhadores. Posteriormente, não pude me dedicar tanto ao tema, pois não tinha tempo, mas a Margarida foi em frente”, relata.
SÍMBOLO
Para Giannasi, Margarida foi a protagonista da luta pela visibilidade ao assédio moral e sexual no trabalho no país. “Ela me ajudou muito a entender o assédio organizacional, aquele que não é de pessoa para pessoa, mas que reproduz uma ideologia empresarial que não quer que exista união entre os trabalhadores porque fortalece a luta deles conjunta. Então, para mim, a Margarida vai ser sempre o símbolo desta luta. Além disto, foi a primeira médica a diagnosticar na nossa associação, a Abrea, o primeiro caso de abestose de um trabalhador do setor farmacêutico que veio a ser depois o primeiro presidente da Abrea, em 1995. Então, nós temos na nossa trajetória muitos encontros”, revela.
Também amigas de longa data, Giannasi frisou a generosidade da médica. “Além da amizade, foi uma profissional de uma generosidade muito grande, pois atendeu a todos que podiam e não podiam pagar. Inclusive vários trabalhadores que passaram por mim eu encaminhei para o consultório dela e ela não cobrou porque eram pessoas humildes. Era uma profissional extremamente competente, dedicada, combativa e de um coração imenso. É mais do que uma admiração profunda por ela, mas respeito e também amor. Uma grande amiga que parte e vai deixar muita saudade, mas o que ela nos deixou não será jamais esquecido”.
Veja entrevista que Proteção fez com a médica na edição 332 de agosto de 2019. Baixe a entrevista completa – Ed 332Baixar
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Foto: Gustavo Morita
Encaminhado para Combate Racismo Ambiental por Amyra El Khalili