Sociedade civil denuncia falta de transparência do governo federal no Programa de Proteção de Defensores

Em nota de repúdio, mais de 60 entidades questionam composição do Conselho Deliberativo ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Por Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, na Terra de Direitos

Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), composto por 45 entidades atuantes na proteção de defensores de direitos humanos, denuncia a falta de transparência e publicidade do governo federal para composição dos integrantes da sociedade civil para o Conselho Deliberativo (ConDel), do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH). A denúncia é apoiada por outras 60 organizações brasileiras, que assinam a nota de repúdio junto com o Comitê Brasileiro, divulgada nesta quinta-feira (31/03).

As entidades alertam que, conforme disposto no Edital n° 5/2022, o prazo para inscrição estabelecido foi de somente 14 dias, insuficiente para a divulgação necessária e participação ampla de entidades e organizações atuantes na temática de proteção a defensoras e defensores de direitos humanos, comunicadores e ambientalistas. um prazo “tão insuficiente que as organizações de direitos humanos foram surpreendidas ao ter conhecimento do edital dias após sua publicação, sem que houvesse qualquer esforço por parte do MMFDH para sua ampla divulgação”, diz a nota. 

Em 24 de março, o Comitê Brasileiro enviou um ofício questionando o processo de chamamento público ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mas até o momento não houve qualquer resposta da pasta. O chamamento público ocorreu após modificação realizada ao PPDDH pelo Governo Federal, que, dentre outros pontos, alterou a composição do ConDel do Programa de Proteção pelo Decreto 10.825/2021. 

Em outubro, o Comitê já alertou para a insuficiência dos 3 assentos incluídos pelo Decreto, não havendo paridade de vagas entre sociedade civil e órgãos do Governo na composição do Conselho, assim como da não previsão de processo de escolha das organizações de maneira participativa e auto-organizada pela própria sociedade civil.

Os problemas questionados pelo CBDDH e pelas demais organizações de direitos humanos se concretizaram com a publicação do edital n° 5/2022, que estabeleceu um processo eleitoral conduzido por uma Comissão Organizadora composta por um representante do Ministério da Justiça e Segurança Pública, um representante da Secretaria de Proteção Global do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e  um representante do Conselho Nacional de Direitos Humanos. 

Além das limitações já manifestadas pelo CBDDH quanto à grave violação à participação social na limitação de três vagas para a sociedade civil no ConDel e no estabelecimento das regras para escolha das entidades pelo próprio Ministério, o Comitê questiona também a falta transparência e publicidade deste chamamento. 

O chamamento público realizado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos é mais um retrocesso ao Programa de Proteção a Defensores/as de Direitos Humanos que cria um falso processo de participação social e mostra o descompromisso do Estado Brasileiro com as defensoras e defensores de direitos humanos. “Exigimos que as autoridades se manifestem e tomem as devidas medidas para que seja garantido o processo de participação da sociedade civil de maneira paritária e  adequada em todo o processo no Conselho Deliberativo e no processo de escolha das entidades”, diz a nota pública (Leia a nota na íntegra).

Segundo dados da ONU, a cada oito dias uma pessoa defensora de direitos humanos é assassinada no Brasil, sendo o responsável por mais de 10% das mortes de defensores em todo o mundo.

O Brasil já passou por três ciclos de avaliação da Revisão Periódica Universal na ONU: em 2008, 2012 e em 2017. Neste último, 246 recomendações que versavam sobre temas como povos indígenas, meio ambiente, gênero, violência policial, educação e luta contra a pobreza. foram feitas ao país. Porém, a avaliação de entidade de direitos humanos é que pouco se avançou.

Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) é uma articulação composta por diversas organizações e movimentos da sociedade civil, que atua na proteção a defensoras e defensores de direitos humanos em situações de risco, ameaça, ataque e/ou criminalização em decorrência de ativismo. Ainda, impulsiona e monitora a implementação de uma política de proteção no Brasil e do Programa Nacional de Proteção a Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), buscando aprimorá-lo para que este seja articulador de políticas públicas.

Além do CBDDH, assinam a nota as seguintes entidades:

  1. Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos
  2. Terra de Direitos
  3. Justiça Global
  4. Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial
  5. Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno
  6. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
  7. Fórum Grita Baixada
  8. Criola
  9. Brigadas Populares
  10. CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria
  11. Artigo 19
  12. Central de Movimentos Populares CMP
  13. Grupo Conexão G
  14. CDDH Dom Tomás Balduíno de MARAPÉ ES
  15. Coletivo Margarida Alves
  16. Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  17. Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
  18. Comissão Pastoral da Terra – CPT
  19. Coletivo Feminino Plural
  20. Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra – ES
  21. CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras
    Familiares
  22. Fórum da Amazônia Oriental – FAOR
  23. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
  24. Centro de Estudos e Ação Social – CEAS
  25. Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte, GPEA-UFMT
  26. Pastoral Indígena da Diocese de Floresta (PE)
  27. VIVAT INTERNACIONAL
  28. Associação Defesa dos Direitos Humanos e Meio Ambiente na Amazônia -ADHMA
  29. Pastoral Indígena da Diocese de Floresta (PE)
  30. Comissão de Advocacia Popular – OAB/PE
  31. Movimento Contra as Agressões à Natureza – MoCAN – Peruíbe/SP
  32. MNDH – ES
  33. Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de Sao Paulo
  34. Rede Brasileira de Conselhos -RBdC
  35. Celso Henrique D V de Figueiredo
  36. Sociedade Sócio Cultural e Ambiental Fé e Vida (Cáceres-MT)
  37. AAMOBEP Associação dos Amigos e Amigas do Centro de Formação e Pesquisa Olga
    Benário Prestes
  38. Centro de Promoção de Agentes de Transformação – CEPAT
  39. SARES – Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental
  40. Fórum de Direitos Humanos e da Terra – FDHT MT
  41. Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ
  42. Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA
  43. ARTICULAÇÃO GRITO DOS EXCLUÍDOS E DAS EXCLUÍDAS DE MT
  44. AAMOBEP Associação dos Amigos e Amigas do Centro de Formação e Pesquisa Olga
    Benário Prestes
  45. Antônio Muniz associação pernambucana de cegos Antônio apec
  46. Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès
  47. Centro de Direitos Humanos Dom Pedro Casaldáliga
  48. Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade
  49. Centro Pastoral para Migrantes em Cuiabá – CPM
  50. Conselho Indigenista Missionário MT
  51. Comissão Pastoral da Terra MT
  52. Pastoral Carcerária Regional Oeste 2
  53. Associação Auxilium
  54. Muniz Coletivo das mulheres defensoras dos direitos humanos
  55. Instituto José Ricardo-pelo bem da Diversidade
  56. Movimento nacional mães pela igualdade
  57. Laboratório Interdisciplinar de inovação em organizações políticas públicas
  58. Rede Brasileira de Conselhos RBdC
  59. FASE MT
  60. CUT MT
  61. FEEC-Fórum Estadual de Educação do Campo-Ba

Foto: Agência Brasil

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