Confira balanço das mobilizações que prorrogaram liminar contra despejos na pandemia

Após mobilização nacional, união de movimentos populares conseguiu junto ao STF prorrogação da ADPF 828, que impede despejos até junho de 2022

Por Solange Engelmann, na Página do MST

Como a proximidade do fim da liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu os despejos forçados durante a pandemia até esta quinta-feira (31), a Campanha Despejo Zero convocou diversos movimentos populares para mobilizações nacionais pelo país, com a intenção de chamar atenção da população sobre as ameaças eminentes de despejo de milhares de famílias, no campo e na cidade.

Após a luta nacional e a união de vários movimentos populares urbanos, rurais, ativistas e parlamentares aliados pelo país e o Ato Político “Brasil Sem Despejo: Por Terra, Teto e Trabalho”, realizado nesta quarta-feira (30), em Brasília, com a participação de mais de 500 mil pessoas, o STF prorrogou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 828, que impede os despejos durante a pandemia até junho de 2022.

A decisão foi a segunda prorrogação da ADPF 828, apresentada pelo PSOL em parceria com a Campanha Despejo Zero ainda em 2021 e teve a sensibilidade do ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, em relação a problemática do acesso à moradia e à terra durante a pandemia, ao manter a proibição dos despejos até junho de 2022.

A liminar foi uma conquista para os movimentos populares, por ser mais um mecanismo que busca garantir a proteção de 132 mil famílias, totalizando mais de 500 mil pessoas, ameaçadas e que poderiam ser atingidas por despejos durante a pandemia e perderiam suas casas e territórios, no campo e na cidade, caso a ADPF 828 não fosse prorrogada pelo STF.

Segundo Kelli Mafort, da direção nacional do MST, a prorrogação da liminar tem um significado histórico e dá um pouco mais de ânimo à luta contra os despejos no país.

“A decisão foi bastante importante porque está dentro de uma luta histórica dos movimentos populares do campo e da cidade pelo legítimo direito da ocupação de terra. A ocupação cumpre uma função social no nosso país porque o direito à moradia, o direito à viver, o direito à terra são assegurados pela Constituição [de 1988], mas se não for o povo se organizar, lutar e ocupar esses espaços vazios, a gente não consegue obter nada. Então, tem um significado histórico, mas é preciso a gente manter a luta, manter a mobilização, porque ganhamos um fôlego”, afirma a dirigente.

Durante o ato político em Brasília os movimentos populares que integram a Campanha Despejo Zero também enviaram ao STF 5 mil cartas cobrando a prorrogação da proibição dos despejo enquanto perdurar a pandemia.

Nesse contexto, o Ato Político em Brasília cobrou a defesa dos direitos dos trabalhadores(as) brasileiros(as) à terra e moradia, mediante a prorrogação da ADPF nº 828, que havia suspendido os despejos durante a pandemia de Covid-19 só até o prazo de 31 de março deste ano. A primeira liminar contra os despejos durante a pandemia foi concedida em junho do ano passado, pelo ministro do STF, Barroso, a favor da suspensão dos despejos e remoções somente até dezembro de 2021.

Além do Ato político em Brasília, diversas famílias do MST se mobilizaram em vários estados do país para cobrar a prorrogação ADPF 828. Foram realizadas ações simbólicas como atos públicos, atos político-cultural e ecumênico, audiências públicas, atos em frente à prédio de tribunais de justiça, ocupação de órgãos públicos, caminhadas, protestos e plantio de árvores nos estados de Alagoas, Ceará, Bahia, Pernambuco, Paraná, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Pará, Roraima, Rio Grande do Norte, Maranhão.

Entre as pessoas mobilizadas e ameaçadas de despejo estava dona Silvéria, de 108 anos, que faz parte do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e vive na ocupação Beira da Mata, em Aparecida de Goiânia (GO). Ela se somou à mobilização em Brasília, pela prorrogação da ADPF 828 e do seu direito de moradia e permanência na ocupação durante a pandemia.

Nesse sentido, ainda que a luta contra os despejos tenha conquistado um fôlego no país, Kelli explica que o prazo é curto. Por isso, relata que os movimentos populares da campanha Despejo Zero, estão também “batendo em outra porta em Brasília no Congresso [Nacional]. Estamos pedindo uma audiência com o presidente da Câmara [dos Deputados], Arthur Lira e também que a Câmara se posicione concretamente em relação a um projeto de lei, por uma nova lei do Despejo Zero no nosso país pra gente conseguir um prazo ainda maior.”

Porém, o receio dos movimentos populares brasileiros permanece pois, mesmo com a decisão do STF que impedia os despejos forçados durante a pandemia, um balanço da Campanha Despejo Zero, mostra que durante a pandemia da Covid-19 um total de 27.618 famílias foram despejadas de suas moradias e territórios, registrando um aumento de 333% na quantidade de famílias despejadas, se comparado ao período de março e agosto de 2020.

Tassi Barreto, da direção estadual do MST em São Paulo, chama atenção para o crime do despejo contra famílias que encontram em situação de vulnerabilidade, principalmente nesse período de pandemia. “Despejo é crime em qualquer momento, imagina durante pandemia com tanta fome e desemprego como no Brasil”, denuncia.

A campanha do Despejo Zero foi lançada por um conjunto de movimentos populares para proteger o direito à vida, à moradia e ao território a essas famílias, cobrando do STF medidas que ajudem a proteger milhares de famílias no campo e na cidade ameaçadas de despejo ou remoção forçadas.

*Editado por Fernanda Alcântara

Mais de 500 pessoas participaram do Ato Político em Brasília para cobrar a prorrogação da suspenção dos despejos pelo STF. Foto: MST DF

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