A movimentação dos partidos do Centrão no Congresso Nacional em favor de um projeto bilionário para a construção de gasodutos não é fruto de uma preocupação genuína com a segurança elétrica do Brasil. E considerando a necessidade de impulsionar a geração renovável no contexto da crise climática, a pressão não faz o menor sentido. Como quase tudo o que diz respeito ao Centrão, interesses eleitorais e econômicos estão por trás da ideia.
O Globo fez um raio-X do tabuleiro do “Centrãoduto” em Brasília. O projeto é discutido desde 2015, mas nunca foi adiante por conta do alto custo financeiro, com benefício limitado para o setor elétrico e menor ainda para os consumidores brasileiros. Nos últimos anos, a proposta foi incluída na medida provisória da privatização da Eletrobras, na lei do novo marco legal do gás e no projeto de lei do risco hidrológico, e foi barrada em todas as ocasiões pelo Congresso ou pelo governo.
Nas últimas semanas, os partidos do Centrão resolveram tentar de novo, agora com o apoio do presidente da República – que há dois anos vetou a proposta por “vício de iniciativa”. Uma das forças por trás disso é o empresário Carlos Suarez, vulgo “Rei do Gás”, um nome importante no tabuleiro político na Bahia e que seria um dos principais beneficiados se o “Centrãoduto” sair do papel.
A missão do Centrão é incluí-lo como jabuti na proposta de lei 414/2021, que moderniza o setor elétrico brasileiro. O relator do PL na Câmara, deputado Fernando Coelho Filho (PE), já sinalizou que não aceitará a emenda em seu relatório. De acordo com O Globo, parlamentares do Centrão buscam então alternativas, como a edição de uma medida provisória pelo Palácio do Planalto. O governo nega a possibilidade, ao menos por ora.
“O Brasduto virou Centrãoduto porque, hoje, orçamentariamente, que é o que importa, o Brasil é governado pelo Centrão”, escreveu José Luiz Portella no UOL. Para ele, a troca no comando do ministério de minas e energia e o novo balão de ensaio da privatização da Petrobras nada mais são do que uma forma do presidente distrair o distinto público do escândalo potencial que se desenha entre os proponentes do Centrãoduto. “Esse governo não conseguiu privatizar a Eletrobras e está necessitando alçar o jabuti de R$ 100 bilhões para satisfazer interesses privados, alinhados com o Centrão”.